Já tive esta discussão várias vezes, em vários fóruns, com vários grupos de gente adoradora de futebol. Já será Pep Guardiola o melhor treinador da história do futebol? A resposta depende sempre dos indivíduos que constituem esses grupos - e há muitos indivíduos entre os amantes do jogo. Aqueles com mais memória (bonita maneira de dizer “mais velhos”) aferram-se a Johan Cruyff, há quem, por patriotismo, ainda lance José Mourinho à conversa, mas há certo careca que vai abarcando a maioria dos suspiros apaixonados.
Para quem mergulha neste grupo sem sequer precisar daquele temerário olhar por cima do ombro, Pep Guardiola nem necessita ganhar esta Champions, no próximo sábado (20h, TVI/Eleven 1). Pela revolução que trouxe ao jogo, pela forma como colocou a bola a falar, pelos resultados, a discussão acaba na terriolazinha catalã de Santpedor, onde Pep nasceu há 52 anos. Os menos crentes dizem que sempre esteve em equipas de topo, com todo o dinheiro à disposição, que lhe falta um verdadeiro trabalho duro, numa equipa com menos lastro, mas o que se faz das oportunidades importa. Pep tem o sangue azul do futebol, certo, mas chegou ao Barcelona vindo da equipa B dos blaugrana. Podia ter falhado, mas não falhou. E não falhando, não dá para olhar para baixo.
Talvez Guardiola seja o melhor de sempre sem precisar desta Champions, mas ele precisa desta Champions, mais por perceção do que por outra coisa qualquer: para entrar nos corações mais empedernidos do anti-Guardiolismo, o catalão tem de ganhar a Champions fora de Barcelona. Nada mais interessa. Não ganhou em Munique, já perdeu uma final com o City e agora chega a oportunidade de fazer aquilo que só o Manchester United conseguiu no futebol inglês, o treble, portanto, campeonato, taça e Champions numa só época, coisa de lenda, de imortalidade, para mais numa época que começou mal, em que a Premier League pareceu, às tantas, difícil e em que Pep trouxe para o Etihad um avançado possante, abandonando um pouquinho aquela ideia que todos os jogadores são médios, até o avançado, que na verdade não é bem um avançado. Os grandes treinadores também o são porque sabem adaptar a sua ideia sem a trair e, para ganhar a Champions, Guardiola não teve pejo em fazê-lo.
Não terá sido só Haaland, porque o Manchester City de Guardiola sempre foi pródigo em golos, também terá sido o abraçar da vertigem e o fim do medo cénico, que se viu no diferente desfecho das meias-finais com o Real Madrid nas Champions de um ano para o outro. E da caminhada. Esta temporada, o City chegou às ‘meias’ depois de colocar o RB Leipzig numa debulhadora (7-0 na 2.ª mão, com cinco golos de Haaland) e atravessar impiedosamente o Bayern Munique. A temporada foi em crescendo. No último sábado, o City venceu a FA Cup frente ao United na primeira vez na história da mais que centenária prova em que houve um dérbi de Manchester na final - e tudo isso tem peso, cria rasto. Como se tivéssemos chegado, finalmente, ao ponto de rebuçado de uma equipa que, sabemos todos, foi comprada e inundada de dinheiro para ser uma máquina de ganhar. Mas sem Guardiola nem sempre foi assim - e entretanto, outros começaram a gastar tanto ou mais, a abundância de dinheiro não pode ser sempre a desculpa. Olhe-se para Liverpool e Chelsea este ano.
Será uma espantosa surpresa se o Manchester City perder a final de sábado com o Inter. Mas em 2020, ano de pandemia, já Guardiola era muito favorito e caiu. Muitos usarão das mais diversas macumbas mentais (a mais prosaica: as figas) para que caia novamente. Para que se mantenha a teoria de que a Champions fora de Barcelona é o que o separa da divindade. Mesmo que não vença, é certo que Guardiola estará lá nos próximos anos, perto dela ou a agarrá-la finalmente. E perto de ganhar tudo. E isso é o que verdadeiramente o separa de tantos outros.
O que se passou
O FC Porto é o vencedor da Taça de Portugal, após bater o SC Braga por 2-0, no Jamor. A equipa de Sérgio Conceição não ganhou o campeonato, mas acaba a temporada com três títulos: Supertaça, Taça da Liga e Taça de Portugal.
O Estrela da Amadora está a um passo de regressar à I Liga após uma longa travessia no deserto.
Zlatan esta temporada já não foi Zlatan, mas Zlatan só deixa o futebol pelos pés de Zlatan Ibrahimovic. Foi o que aconteceu no domingo, no último jogo do ano do AC Milan. E não se fez sem lágrimas do avançado de 41 anos e de muitos dos seus colegas.
Max Verstappen continua a sua caminhada triunfal até ao tricampeonato de Fórmula 1. No domingo,venceu o GP Espanha, onde já há uns anos valentes se tornou no mais jovem vencedor de um GP, com apenas 18 anos, na estreia pela Red Bull.
Zona mista
Nos próximos cinco anos, [a liga saudita] pode ser a 5.ª melhor do mundo
Cristiano Ronaldo, numa entrevista na Arábia Saudita, em que confirmou a sua continuidade no Al-Nassr. O internacional português terá milhões e milhões de razões espalhadas em cofres bancários para acreditar piamente no desenvolvimento da liga saudita e a mais que provável ida de Karim Benzema para tais paragens (e, quiçá, Lionel Messi) só ajudará. Mas olhando para outros projetos megalómanos de esbanjamento de dinheiro (cucu China) é preciso ser muito otimista
O que aí vem
Segunda-feira, 5
🎾 Arranca a segunda semana de Roland-Garros (9h30, Eurosport 1 e 2)
Terça-feira, 6
🏀 Final da Liga Betclic: Benfica - Sporting (19h, RTP2)
⚽ Já com saudades de futebol? Ainda há liga turca a decorrer: Baseksehir - Trabzonspor (18h, Sport TV1)
Quarta-feira, 7
⚽ Final da Liga Conferência: Fiorentina - West Ham (20h, SIC/Sport TV1)
⚽ Final da Liga Revelação: Estoril - SC Braga (18h, 11)
Quinta-feira, 8
🎾 Roland-Garros (11h, Eurosport 1)
Sexta-feira, 9
🏀 Final da Liga Betclic: Sporting - Benfica (19h, RTP2). E já madrugada dentro, Miami Heat e Denver Nuggets defrontam-se no jogo 4 das finais da NBA (1h30, Sport TV1)
Sábado, 10
⚽ Final da 🎶 THE CHAAAAAAAPIONS 🎶: Manchester City - Inter (20h, TVI/Eleven 1)
🎾 Roland-Garros: final feminina (14h, Eurosport 1)
🏍️ MotoGP: GP Itália, corrida de sprint (14h, Sport TV4)
🏁 24 horas de Le Mans (16h30, Eurosport 1)
Domingo, 11
🎾 Roland-Garros: final masculina (14h, Eurosport 1)
⚽ Playoff de subida/permanência I Liga: Marítimo - Estrela da Amadora (20h15, Sport TV1)
⚽ Playoff de permanência/descida II Liga: B SAD - Lank Vilaverdense (17h, Sport TV1)
🏀 Final da Liga Betclic: Sporting - Benfica (18h30, RTP2)
🏍️ MotoGP: GP Itália, corrida (13h, Sport TV4)
Hoje deu-nos para isto
Haverá várias razões para a derrota da Roma na final da Liga Europa na quarta-feira, umas mais esotéricas que outras. No campo do místico, talvez esteja fora do nosso alcance explicar a simbiose do Sevilha com a competição, que ganhou sete vezes em sete finais, todas neste século.
Há também o que é mais palpável: os espanhóis, que até fizeram um campeonato fraquinho, que a certa altura temeram descer de divisão, têm um plantel bem mais profundo e com soluções que a Roma não tem. Mourinho, nisso, estará ilibado: faz o que pode com o que tem. E depois há o fator externo árbitro. Talvez o técnico português tenha razões de queixa de Anthony Taylor, mas o que aconteceu no final do encontro e nas horas seguintes deveria fazer Mourinho (e tantos outros treinadores), pelo menos, perder um pouco do sono.
Já depois de se atirar ao juiz britânico para tudo o que foi televisões, o português desbobinou todos insultos que se lembrou na garagem da Puskás Aréna de Budapeste em direção ao autocarro onde se encontrava a equipa de arbitragem. Alguém filmou e transmitiu - e talvez isso tenha sido um erro, mas é uma longa discussão. No dia seguinte, uma turba de adeptos romanos enraivecidos insultou, apertou, acossou e tentou agredir o árbitro (que, para mais, se encontrava com a família) no aeroporto da capital húngara.
É preciso que presidentes, treinadores e jogadores percebam de uma vez por todas que as suas palavras e comportamentos têm efeito imediato nas ações dos adeptos. Ou alguém acredita que sem aquele episódio lamentável na garagem, Anthony Taylor e a sua família teriam sofrido o que sofreram no dia seguinte? Quando acontecer uma tragédia, todos se lembrarão de lamentar.
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