Duas já estão, só falta uma: City bate United, vence FA Cup e fica a um triunfo do triplete
Gundogan, com dois golos, foi o grande herói do City
Mike Hewitt/Getty
Com dois golos de Gundogan a responderem a um penálti de Bruno Fernandes, a equipa de Guardiola derrotou (2-1) o rival da cidade no dérbi da final da Taça de Inglaterra, juntando esta conquista à da Premier League. Para uma época perfeita, fica a faltar ao City erguer a Liga dos Campeões, havendo partida decisiva marcada para dia 10, contra o Inter
Passados 15 anos do dia em que Abu Dhabi decidiu revolucionar o Manchester City e sete do momento em que o clube conseguiu seduzir Pep Guardiola para ocupar o banco do Etihad, o culminar da grande obra dos sky blues está a um jogo de distância. Premier League conquistada pela terceira vez seguida — e quinta nas últimas seis épocas —, FA Cup ganha numa inédita final contra o rival da cidade, falta derrotar o Inter de Milão, em Istambul, a 10 de junho. Se esse embate for para o City, o triplete ficará garantido e um conjunto que já tem lugar garantido na história conseguirá o feito que tanto persegue.
Esta é a grande conclusão da final da FA Cup. Porque, para este City, o que está aqui em causa não é ganhar mais um título, erguer novo troféu, consolidar a hegemonia em Inglaterra. O que está em jogo é uma luta pela história, pela eternidade, a procura por evidenciar que o punho de ferro construído entre o médio oriente e o norte do Reino Unido está aqui para ficar, cada vez mais autoritário, a cada ano disposto a mais e melhor.
Dois golos de Gundogan deram a FA Cup ao City, batendo o United por 2-1, em resposta ao momentâneo 1-1 de Bruno Fernandes. Até 2008, quando o dinheiro de Abu Dhabi se juntou a um plano estratégico altamente bem montado, o clube conquistou quatro Taças de Inglaterra. Desde então, esta foi a terceira conquista na competição, a segunda para Pep Guardiola, que chegou aos 34 títulos na carreira, 13 deles em sete campanhas em Inglaterra.
Antes da final arrancar, já se sabia que o troféu iria para Manchester, o que levou a quem houvesse quem adiantasse trabalho a escrever o nome do vencedor na taça. Tal como vem sendo hábito, quem festejou foi o City, o outrora “vizinho ruidoso”, como Ferguson lhe chamou nos primeiros tempos da nova era, agora transformado em força dominante, em ganhadores em série.
De Gea a ver o grande remate de Gundogan para o 1-0
Clive Rose/Getty
A 142.ª final da FA Cup arrancou com o cerimonial do costume na competição de clubes mais antiga do mundo, terreno de rituais e continuidades, simbolismo e importância. Sir Alex Ferguson e Mike Summerbee, lendas de cada clube, levaram a taça ao centro do relvado, onde Ten Hag e Guardiola entraram juntamente com os seus jogadores. O príncipe William, que, numa destas tradições, é o presidente da federação inglesa, saudou as equipas antes do hino que precedeu o desafio.
Mal a final começou, demoraram 12 segundos até vermos um golo, que se tornou no mais rápido da história da competição. Talvez inspirado pelas tradições pré-jogo, o Manchester City desenhou uma jogada vinda das profundezas da essência do futebol inglês: bola em Ortega, o guarda-redes, chutão na frente, toques de cabeça de Haaland e Lindelof e grande tiro, sem deixar bater no chão, de Gundogan, ali transformado numa mistura de Lampard, Scholes e Gerrard, também ele contagiado pelo espírito de abraçar do passado.
Entrando em vantagem na partida, a equipa de Guardiola procurou estabilizar o seu jogo, baseando-se na rede de conexões e nuances que monta em todo o campo. Segurança defensiva dada por ter sempre gente pronta para reagir à perda, com a estrutura recuada montada com Walker, Rúben Dias e Akanji a dar sempre uma rede de proteção ao coletivo.
Stones, como homem livre feito futebolista total, central-médio-faz-tudo criado por Pep, parece multiplicar-se pelo campo, mais uma alternativa apresentada pelo técnica catalão que se metamorfoseia constantemente em busca do êxito, longe de estar agarrado a preconceitos estilísticos e fazendo o que considera que mais o aproxima do êxito.
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Rodri e De Bruyne tentaram o 2-0, mas o United chegaria ao empate antes de ter criado uma verdadeira chance de perigo. Grealish cortou com a mão, na área, um cabeceamento de Wan-Bissaka. Aos 33’, Bruno Fernandes concretizou o penálti com a eficácia do costume e a final foi para o descanso empatada.
Imitando a fórmula do primeiro tempo, os campeões da Premier League marcaram cedo na segunda partida. Aos 51', o Manchester United deixou Gundogan sozinho à entrada da área após um livre lateral na direita. De Bruyne colocou a bola no médio alemão e este, noutro volley, desta feita de pé esquerdo, fez o 2-1, não com um tiro tão espetacular mas sim dando a ideia de que De Gea poderia ter feito algo mais.
O centrocampista que quer ser treinador e até já orientou equipas de formação dos cityzens é um homem de grandes jogos, um regular metrónomo que multiplica o seu rendimento nas maiores ocasiões. Há um ano, quando o City perdia por 2-0 na última jornada da Premier League contra o Aston Villa e tinha de dar a volta, Gundogan apareceu para bisar e ser o herói do 3-2 que, na altura, selou o bicampeonato.
Eddie Keogh - The FA
Eddie Keogh - The FA
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Em vantagem e ainda com 40 minutos pela frente, o City tentou levar a partida para um terreno de conforto e quase marasmo, enredando o United numa teia que bloqueasse a final. Consegui-o durante algum tempo, mas a parte final trouxe uma reação dos red devils.
Depois de quebrado o jejum de títulos que durava desde 2017 e colocado o clube na Liga dos Campeões, para Ten Hag esta final era uma oportunidade de deixar um sinal para o futuro, um selo de crescimento. Como esperado, mostrou um nível abaixo do rival da cidade, mas manteve a final aberta até ao último segundo.
Rashford e Garnacho ameaçaram o 2-2, que nunca esteve tão perto como mesmo em cima dos 90'. No entanto, Varane e Weghorst não conseguiram bater Ortega e a vantagem foi conservada.
Após o apito final, Wembley pintou-se de azul-céu, a cor predominante no football. Pep Guardiola, em lágrimas e abraçando cada jogador, mostrava uma emoção comovente para quem não se cansa de ganhar. Mais um título no bolso, menos o título a caminho do triplete.