Crónica de Jogo

Otávio foi o senhor do Jamor, de onde o FC Porto saiu com mais uma Taça de Portugal

Otávio foi o senhor do Jamor, de onde o FC Porto saiu com mais uma Taça de Portugal
JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

A equipa de Conceição reconquistou o troféu após bater o SC Braga, numa final em que um auto-golo de André Horta fez o 1-0 e o internacional português selou o 2-0 final. Matheus, no primeiro tempo, ainda contrariou a superioridade do FC Porto, antes de surgirem os golos e uma expulsão para cada lado na segunda metade

Otávio foi o senhor do Jamor, de onde o FC Porto saiu com mais uma Taça de Portugal

Pedro Barata

Jornalista

É como se no corpo e na mente de Otávio vivesse, em cada momento, Sérgio Conceição. Nas virtudes e nos defeitos, na forma de jogar e competir, o médio é mais do que uma extensão do técnico, é quase um clone do treinador.

Se Sérgio Conceição leva a que, todos os anos, o FC Porto compita por todos os troféus até ao fim, isso deve-se, em parte, a homens como Otávio, sempre ligados aos jogos, constantemente dispostos a mais um esforço, mais um sprint, mais uma prova de vida. Se Sérgio Conceição quer uma equipa cheia de nuances e variáveis, em constante mudanças, isso é possível por jogadores como Otávio, o médio criativo que pode partir da ala, o ala que pode vir ao médio, o ladrão de bolas que cria jogadas, o criativo que pressiona.

Se é possível criticar excessos — nos protestos ou nas picardias — esses são, justamente, os pecados que se podem apontar a Otávio. Se há a virtude de ter tornado o FC Porto numa espécie de corredor de fundo regular, sempre em primeiro ou segundo na I Liga, quase sempre vencedor ou finalista vencido das taças, essas méritos podem-se apontar a Otávio, sempre cheio de energia.

Neste médio que contém em si toda a era de Sérgio Conceição há agressividade, vigor e inteligência tática, mas também técnica e recursos individuais para desbloquear partidas. Deste jogador universal saiu a chave para desbloquear a final da Taça: aos 53', libertou-se de Al Musrati, fez uma finta de tempo, esperando alguns instantes para que o panorama se esclarecesse, e serviu Galeno, que cruzou para que André Horta fizesse o auto-golo que deu no 1-0.

Aos 81', Galeno voltou a ser o assistente, desta feita na direção do mais exemplar aluno de Sérgio Conceição. 2-0 e a final nas mãos do FC Porto. A sexta temporada de Sérgio Conceição é fechada depois de uma tarde de glória do seu clone dentro de campo, espelho fiel da continuidade que esta era trouxe aos dragões.

JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

Depois do hino e da festa, o reencontro entre Artur Jorge e Sérgio Conceição no Jamor, depois de terem sido adversários como jogadores em 1998 — triunfo do FC Porto por 3-1 —, trouxe uns detentores da Taça a criarem muitas dificuldades ao SC Braga, com base numa pressão alta e agressiva. Lançando, de forma coordenada e cheia de energia, toda a equipa na exploração das fragilidades técnicas de Niakaté ou Borja na construção, os azuis e brancos abafaram a saída de bola dos minhotos e acumularam situações de perigo desde o arranque.

Só nos primeiros 10’, houve três defesas de Matheus, em duas ocasiões a Eustáquio e noutra a Evanilson. Aos 20’, na mais clara das situações, o avançado brasileiro disparou forte, mas o guardião que disputou o 293.º encontro pelo clube voltou a responder com qualidade. O abafar feito pelos dragões à posse do adversário gerou uma sequência de perdas de bola e ataques perigosos: nos primeiros 35’, o FC Porto rematou oito vezes, cinco delas à baliza, enquanto o SC Braga não fez qualquer tiro, fosse enquadrado ou não.

O único momento da etapa inicial em que a equipa de Artur Jorge incomodou Cláudio Ramos surgiu aos 38’, na primeira vez em que Bruma saiu da esquerda e vagueou pelo centro e pela direita, descobrindo o caminho para um remate perigoso de Ricardo Horta. Logo a seguir, Evanilson saiu lesionado e em lágrimas, fechando uma época infeliz para o brasileiro que, no primeiro tempo, começou a ser travado por Matheus e acabou a sê-lo pelo físico. O descanso chegou com um nulo.

Matheus, com cinco defesas na primeira parte, adiou o 1-0
JOSE SENA GOULAO/Lusa

Os minhotos vieram para a segunda parte parecendo quer adotar uma postura mais subida no terreno, mas oito minutos depois do recomeço a final começou a decidir-se a partir do futebol que Otávio tem nas pernas. O internacional português e Galeno desenharam uma jogada que André Horta, em desespero para evitar o golo de Toni Martínez, transformou no 1-0.

Aos 62', pouco depois do auto-golo do médio do SC Braga, Wendell, por entrada dura sobre Víctor Gómez e após consulta do VAR, viu o vermelho direto. Poder-se-ia pensar num assalto do SC Braga ao empate, mas a equipa de Artur Jorge desiludiu no Jamor.

O técnico foi mexendo na equipa, colocando gente ofensiva como Alvaro Djaló, Banza ou Pizzi. No entanto, os minhotos nunca tiveram capacidade para desmontar a organização defensiva do adversário, perdendo-se num jogo de imprecisões, sem criatividade ofensiva nem rasgo. Cláudio Ramos sai do Jamor tendo feito só uma defesa e o empate nunca esteve verdadeiramente perto numa final em que os azuis e brancos foram claramente superiores.

Se, em superioridade numérica, o futebol do SC Braga nunca colocou a equipa perto do 1-1, tudo piorou aos 79', com a expulsão de Niakaté a deixar a partida em 10 contra 10. Dois minutos depois, Galeno fugiu pela esquerda e serviu Otávio, que finalizou para o 2-0.

A Taça estava decidia, rumando ao Dragão pela segunda temporada seguida. O FC Porto fechou a época com um golo do jogador-bandeira da essência da equipa de Sérgio Conceição, o primeiro técnico da história do clube a vencer três Taças de Portugal.

São já 10 títulos para Conceição no FC Porto. Todos lado a lado com Otávio, o o senhor do Jamor.

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