Tribuna 12:45

Na vida, sejamos como Jota Silva

32 jogos, 13 golos, sete assistêcias pelo Vitória SC esta temporada: a fórmula que levou Jota Silva à seleção
DeFodi Images

Se por aí já alguém tentou comprar sonhos a crédito numa máquina de vendas sabe que qualquer adiantamento é negado. O mercado das possibilidades é cruel. Muitos investem a fundo perdido para tentarem chegar a um retorno satisfatório. Porém, nas etapas que antecedem o sucesso, quase todos se desprendem da ideia que têm de os alcançar. O que seria sem os loucos que apostam a sério no negócio? Talvez por isso lhes deram o mundo para as mãos.

Às tantas, mudou a casa onde vivemos, os amigos tiveram filhos, a família diminuiu e, se calhar, alguns daqueles a quem gostávamos de contar a história, já não a podem ouvir. Ninguém vai cronometrar o tempo desde o primeiro dia em que se sonhou até que a glória chegou, estendeu a mão e, no local de destino, por iniciativa própria, deu os parabéns ao percurso árduo.

Há cinco anos, a distrital do Porto tinha a brilhar nos seus campos (estádios pode soar megalómano para o contexto), Jota Silva, que, por essa altura, representava o Sousense. Na carreira do jogador, seguiu-se o Sp. Espinho, do Campeonato de Portugal, o Leixões e o Casa Pia, ambos na II Liga. Em 2022, chegou ao Vitória SC, de Guimarães, numa escalada tão rápida quanto sustentada pela presença nos vários escalões do futebol português.

Foi no Minho que as comparações com Jack Grealish ganharam mais proporção por culpa da fita no cabelo que Jota Silva, tal como o inglês, faz questão de acrescentar ao visual. É esse elástico que arruma à retaguarda as pontas soltas do penteado. Também as meias baixas, desinteressadas de segurar as caneleiras numa zona onde possam verdadeiramente ser úteis, os aproxima. Só que o português, até há bem pouco tempo, não podia estar mais longe da vida de luxo que tem um jogador da Premier League. A projeção que conseguiu ao serviço do Vitória SC esta época, com os golos e as assistências, também lhe deu um bilhete para grandes palcos.

O selecionador nacional, Roberto Martínez, anunciou a gorda lista de 32 convocados para os jogos de preparação para o Europeu, contra a Suécia e a Eslovénia (que não contou com Galeno e que já vai tendo que ser encurtada). Jota Silva e Chico Conceição, pela primeira vez, vão integrar os trabalhos da seleção, sendo que, no caso do jogador de 24 anos, não existe um trajeto nas seleções jovens que evite a surpresa da chamada.

Por ironia, Jota Silva tem a oportunidade de, contra os suecos, somar a primeira internacionalização e logo no Estádio D. Afonso Henriques, casa do Vitória SC, onde tão habituado está a jogar enquanto morde a língua, numa atitude que sabe perfeitamente de onde veio. “Isso de ferrar a língua, aprendi na distrital”, admitiu em tempos ao podcast oficial do Vitória SC. “Aquilo não é bom futebol, não vamos dizer que é bom futebol. Aquilo é mais na vontade, é quem quer mais, é duelos. Isso foi uma coisa que fui ganhando e que se foi moldando à minha personalidade. Tento passar para dentro de campo isso tudo que aprendi. É muito benéfico. Os jogos, hoje em dia, não são decididos só na qualidade. Claro que tens que ter, mas, às vezes, tens que correr mais um metro, tens que ganhar aquele duelo ou tens que pôr o pé por cima…”.

Por isso, na vida, sejamos como Jota Silva e finquemos a língua. Pode nem tudo estar nas nossas mãos, mas pode muito bem estar nos nossos pés.

O que se passou

Roberto Martínez anunciou os convocados para os jogos de preparação de Portugal contra a Suécia e a Eslovénia.

O FC Porto acabou por ser eliminado da Liga dos Campeões, contra o Arsenal nas grandes penalidades.

Na Liga Europa, o Sporting não teve melhor sorte, acabando por deixar a competição ao perder contra a Atalanta. Em sentido contrário, o Benfica conseguiu sobreviver ao Ibrox e deixou pelo caminho o Rangers. Os encarnados têm agora pela frente, nos quartos de final, o Marselha.

Foi anunciado que a Final Four da Taça da Liga se vai realizar novamente em Leiria, na próxima época, mesmo que a internacionalização da prova seja “inevitável”, segundo Helena Pires, CEO da Liga Portugal.

Quanto ao campeonato, nenhum dos três candidatos vacilou. O FC Porto venceu o Vizela, o Benfica superou o Casa Pia e o Sporting derrotou o Boavista.

No ténis, Carlos Alcaraz revalidou o título em Indian Wells, frente a Daniil Medvedev, depois de um torneio com algumas peripécias. Iga Swiatek venceu no feminino. Da Califórnia para o Arizona, Nuno Borges conquistou novamente o Challenger 175 de Phoenix.

Ao nível das seleções nacionais, Portugal teve um fim de semana para esquecer. No andebol, os Heróis do Mar deixaram cair por terra a hipótese de irem aos Jogos Olímpicos ao perderem com a Hungria no jogo decisivo. Já no râguebi, os Lobos perderam a final do Rugby Europe Championship contra a Geórgia.

Zona mista

Se dás uma entrevista como aquela, não podes ser parte da equipa. É impossível.

Pois é, parece que Orkun Kökçü está metido em sarilhos. O treinador do Benfica, Roger Schmidt, depois de ter lido a entrevista onde o médio turco dizia, junto do jornal neerlandês “De Telegraaf”, estar “desiludido” com o clube encarnado, deixou o jogador de fora dos convocados para o duelo com o Casa Pia.

O que vem aí

Segunda-feira, 18

🚴 Começa a Volta à Catalunha, mais uma oportunidade para ver a preparação de João Almeida para as grandes provas (Eurosport 2)

Terça-feira, 19

⚽ Há jogo grande na Liga dos Campeões feminina com o Benfica receber o Lyon na Luz (20H, Eleven Sports 1)

Quarta-feira, 20

⚽ Tempo livre? Boa ocasião para ver as seleções nacionais de sub-17 (16H, Canal 11) e sub-19 (18H, Canal 11), contra a Rep. Irlanda e a Grécia, respetivamente

Quinta-feira, 21

⚽ Portugal defronta a Suécia em jogo de preparação para o Europeu (19H45, RTP 1). Ao mesmo tempo, começam os play-offs que atribuem as últimas três vagas para o Europeu (Sport TV)
⚽ Também a seleção sub-21 vai a jogo contra as Ilhas Faroé, na qualificação para o campeonato da Europa (17H30, Canal 11). Os sub-20 (15H, Canal 11) enfrentam a Chéquia

Sexta-feira, 22

🏀 Arranca a jornada 18 do campeonato nacional de basquetebol e logo com um clássico entre Sporting e Oliveirense (19H30, FPB TV)

Sábado, 23

⚽ Há dois duelos sempre interessantes: Inglaterra-Brasil (19H, Sport TV 1) e França-Alemanha (20H, Sport TV 6)
🏁 Para os madrugadores, às 5H, há qualificação para o GP Austrália (Sport TV 4)
🏍️ Mais tarde, às 10H50 arranca a qualificação para o GP Portugal (Sport TV 4). Às 15H, há corrida sprint
🏐 Joga-se a final da Taça de Portugal feminina de voleibol (21H, Sport TV 2)

Domingo, 24

🏁 A corrida do GP Austrália arranca às 4H (Sport TV 4)
🏍️ Miguel Oliveira aquece os motores na corrida do GP Portugal, às 14H (Sport TV 4)
🏐 Joga-se a final da Taça de Portugal masculina de voleibol (17H, Sport TV 1)

Hoje deu-nos para isto

O arco-íris apareceu no primeiro monumento da temporada de ciclismo ou, pelo menos, o ciclista que veste a camisola que o transporta. O campeão do mundo, Mathieu van der Poel, estreou-se na temporada de estrada e tinha em Tadej Pogacar o principal adversário para revalidar a vitória em Milão-Sanremo. Acontece que a corrida trouxe um cenário pouco favorável a que o neerlandês, que enche páginas de jornais nos Países Baixos, saísse por cima.

A UAE Emirates, a equipa de Pogacar, encarregou-se de forçar o ritmo, selecionando o pequeno grupo de corredores que chegou ao final dos 288 quilómetros em condições de disputar a vitória. No fim de uma corrida tão comprida e com duas subidas (Cipresa e Poggio) relativamente perto da meta, a presença de sprinters era improvável, mas aconteceu. Nas desenfreadas pedalas finais, Jasper Philipsen superou Michael Matthews e Tadej Pogacar (Mads Pedersen vacilou e nem ao pódio conseguiu chegar), conquistando o primeiro monumento da carreira.

O mais curioso de tudo isto é que, quando se percebeu que a vitória ia ser decidida num sprint restrito e que por ali estavam especialistas nessa matéria, Tadej Pogacar automaticamente caiu da lista de potenciais vencedores (achávamos nós). Dentro da loucura saudável que acrescenta ao pelotão, os esloveno intrometeu-se entre os velocistas. Apesar de só ter levado o terceiro lugar para casa, Pogacar considerou que esta “foi uma das corridas mais fáceis de sempre”, porque se rodou a “um ritmo super baixo nas primeiras horas”. Ora, Milão-Sanremo nunca tinha visto uma corrida tão rápida (6:14:44). Se Pogacar ainda sentia ter pernas para mais, então imagine-se o que está para vir esta temporada…

Jasper Philipsen venceu o primeiro monumento da temporada de cicliismo e subiu ao pódio acompanhado por Michael Matthews e Tadej Pogacar
Sara Cavallini

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