Crónica de Jogo

O pacto Gyölinho contraria as adversidades do Sporting

O pacto Gyölinho contraria as adversidades do Sporting
JOSE SENA GOULAO/Lusa
Tendo de lidar com a frustração europeia, as ausências de Pote e Edwards ou um golo sofrido aos 3', os leões valeram-se da dupla Gyökeres-Paulinho para golear (6-1) o Boavista, com o sueco a apontar um hat-trick e o português a marcar duas vezes e a assistir outra. A equipa de Amorim continua sem perder qualquer ponto em Alvalade
O pacto Gyölinho contraria as adversidades do Sporting

Pedro Barata

Jornalista

Em cima do intervalo do Sporting-Boavista, pairava a lei de Murphy em Alvalade. Tudo o que poderia correr mal, estava a correr pior. Depois de ter visto o Benfica vencer, a equipa verde e branca tinha várias frentes de batalha, quais problemas em sucessão: lamber as feridas de Bergamo, lidar com as ausências de Edwards e Pote.Em cima disto, eis a tal lei de Murphy que, tantas vezes, pareceu mais sportinguista que o leão ou José de Alvalade.

Aos 3', cruzamento da esquerda, erro de Franco Israel, golo de Makouta, o médio que Rúben Amorim orientou no SC Braga B, na madrugada da sua carreira. Aos 6', Trincão empatou, mas o lance foi anulado por fora de jogo de Paulinho.

A lei de Murphy adensava-se com os nervos, as quebras de ritmo do Boavista, a falta de acerto ofensivo. O tempo passava, os leões demoraram mais de 30 minutos para realizarem um remate à baliza.

Tudo o que poderia correr mal, estava a correr mal. Mas, para contrariar tantas frentes de batalha, para lamber feridas e apagar erros, o pacto Gyölinho entrou em campo, qual aliança politico-futebolística luso-sueca.

Gyö, o nórdico viciado em marcar, o jogador em loop — desmarcação, corrida, remate, golo, uma e outra vez —, e Paulinho, o minhoto que era patinho-feio quando era o único ponta-de-lança do plantel e que se tornou amado quando passou a arma secreta, como se deixar de concorrer para o prémio de melhor ator e passar a contar para o de personagem secundário lhe tivesse assentado maravilhosamente.

Em cima do intervalo, no final do primeiro tempo em que cheirou a Murphy — aroma que se confunde com Sporting —, a dupla Gyölinho uniu-se. Assistência do sueco, golo do português. O empate mudou o panorama, colocou sorrisos onde antes havia frustração, inaugurando um segundo tempo de alegria. Tudo o que poderia correr bem, correu melhor

Um de Paulinho, mais dois e uma assistência de Gyö, outro de Paulinho. 6-1, 13 vitórias leoninas em 13 rondas em Alvalade e a liderança garantida antes da paragem das seleções.

Gualter Fatia/Getty

Agradecendo o erro madrugador de Israel, o Boavista saiu na frente, mas o 1-0 foi o único remate à baliza realizado pelos portuenses, um clube que vive um quotidiano difícil como poucos na elite da bola nacional, rodeado em instabilidade diretiva e atrasos no pagamento de salários.

Nos primeiros 30', o Sporting teve 75% de posse de bola, mas não enquadrou qualquer remate. Houve vários sustos para João Gonçalves, mas faltava sempre um bocadinho assim aos leões. Alguém chegava atrasado, alguém estava fora de jogo, alguém tinha uma imprecisão técnica. Alvalade chateava-se com o árbitro, protestava com os adversários, havia uma certa impaciência no ar.

Aos 41', o central Abascal, lesionado, foi substituído por Ibrahima Camara, mais médio que defesa. Causa ou coincidência, a solidez defensiva dos visitantes desapareceu.

JOSE SENA GOULAO/Lusa

Em cima do intervalo, Morita e Paulinho combinaram, com o português a ganhar a linha de fundo. O cruzamento do ex-SC Braga encontrou, no coração da área, um predador do golo. 1-1.

Para a segunda parte, Amorim tirou o amarelado Hjulmand e colocou Daniel Bragança. O canhoto, depois da lesão e de ver o dinamarquês e Morita serem as primeiras opções para o meio-campo, está, talvez, no seu melhor momento na equipa principal de Alvalade. Com a lucidez de sempre com bola, parece mais adaptado ao jogar do coletivo, mais disponível fisicamente, ainda mais capaz de fazer pesar a sua técnica e leitura de jogo na circulação coletiva.

Depois do 1-1 a fechar o primeiro tempo, veio o 2-1 a abrir o segundo. Geny Catamo trabalhou na direita, cruzou e, na área, Paulinho fez o que, tantas vezes, é acusado de não fazer: movimentação à ponta-de-lança e remate certeiro. Onde estão as críticas do passado? Agora só se ouve a música dedicada ao minhoto ser cantada em uníssono.

JOSE SENA GOULAO/Lusa

Em vantagem no marcador, o Sporting tentou gerir a diferença, circulando a bola, chamando o Boavista, baixando o ritmo do desafio. Só que, no ataque verde e branco, há um sueco que vive em loop, um obcecado pelo golo, como se estivesse possuído por um feitiço, um monstro da mitologia nórdica.

Aos 68', Nuno Santos lançou Gyökeres e, com a facilidade com que um adulto finta uma criança, o sueco tirou Camara do caminho e fez o 3-1. Passados 11 minutos, de penálti, chegou o hat-trick do sueco. São já 22 golos na I Liga e 36 na temporada.

Terminada a noite a nível goleador para Viktor, nem por isso se terminara a produção do atacante ou a vigência do pacto Gyölinho. Superadas as adversidades, era tempo de surfar a onda positiva, de desfrutar, de viver de felicidade.

Aos 88', Gyökeres voltou a arrancar, entrando na sua dimensão em loop, em repetição constante, a vida como constante exercício de arrancar de destruir defesas. Nuno Santos agradeceu e fez o 5-1. E, no último lance da partida, Paulinho cabeceou para o 6-1 final. O que era mesmo o cheiro a lei de Murphy?

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