Dirá muito sobre a nossa empatia pelo outro (ou falta dela) as críticas que se leram e ouviram sobre o evento sísmico que Jürgen Klopp causou ao anunciar que, nove anos depois de chegar a Anfield, está de saída do Liverpool no final da época, numa altura em que o Liverpool até é líder da Premier League.
Talvez Klopp nem necessitasse de abrir a boca, basta olhar para ele para perceber que aquele tipo de sorriso permanentemente gravado na cara está cansado. Que a vida lhe disse algures que ele, por uma vez, precisa de ser um tipo normal. Que o rock and roll terá de dar lugar ao silêncio. Acabou-se-lhe a energia e o timing, que tantos criticam, atesta só o quão o Klopp respeita um clube que vai precisar de tempo para se reorganizar. Não reconstruir, porque isso o alemão fê-lo antes de dizer adeus. Vai deixar a casa minimamente arejada e arrumada a quem a ele se seguir. Condenar uma escolha destas é não se aceitar características intrinsecamente humanas que, pasmemo-nos, até os homens do futebol possuem.
A saída de cena de Klopp diz-nos outras coisas mais tristes, infinitamente mais tristes e relevantes que um timing que nos agrada menos ou mais, como se o mundo girasse em torno do nosso umbigo. Diz-nos que talvez tenham acabado os senadores do futebol. Os Fergusons, os Wengers. A maior parte das vezes porque os clubes são impacientes. E quando os clubes acreditam no projeto, é a intensidade do futebol dos nossos dias que quebra quem nele anda, ano após ano, a começar de novo, a desfazer e refazer, a viver a pressão de uma época menos boa, pejada de jogos e competições, para gastar toda a energia que tem a reerguer-se.
Nos primeiros anos no Liverpool, Klopp nada ganhou, um pouco à imagem de Ferguson. Ficou em 8.º na primeira época, em 4.º nas duas seguintes. Perdeu uma final da Liga Europa, outra da Champions, até chegar aquele épico título europeu de 2019 e a Premier League no ano seguinte, três décadas depois do último campeonato do Liverpool. Pelo caminho, abraçou e deu de si a uma cultura muito particular, numa cidade muito própria, num clube único. Viveu apaixonadamente, fez-nos rir com os seus festejos alucinados, com o humor apatetado, emocionou-nos com as preocupações sociais. Levou-nos com ele para aquele vórtex, with the drive and the dreams inside, this is my time, podia ler-se numa tarja numa das bancadas em Anfield durante a reviravolta histórica na Champions frente ao Barcelona, de 0-3 na 1.ª mão para 4-0 na 2.ª, um pedaço de lírica dos The Smiths que nem são de Liverpool mas que têm em si tudo o que o Liverpool de Klopp nos deu.
Só que até esse balão se esvazia. A entrevista que o alemão concedeu aos meio do Liverpool é de uma humanidade arrebatadora, de quem assume que, aos 59 anos, precisa de experimentar o que é uma vida de homem comum. Precisa de se afastar para perceber se vai ter saudades. “Estou convencido que, ao tomar uma decisão destas, é melhor fazê-lo um bocadinho cedo demais do que um pouco tarde demais”, explica, com uma comovente honestidade.
Saber estar, por vezes, é saber perder. E isso é de uma força do caraças.
O que se passou
O SC Braga conquistou a sua terceira Taça da Liga, numa inesperada final frente ao Estoril, depois das duas equipas eliminarem Sporting e Benfica, respetivamente.
O FC Porto bateu o Farense com Evanilson de novo em destaque. Sporting e Benfica jogam esta segunda-feira.
A seleção nacional de andebol não conseguiu igualar o 6.º lugar do Euro de 2020, mas garantiu a presença no torneio pré-olímpico. E Martim Costa foi não só o melhor marcador como o melhor lateral-esquerdo do Europeu.
A equipa feminina do Benfica fez história ao tornar-se na primeira formação portuguesa a passar a fase de grupos da Liga dos Campeões.
Zona mista
Se não ganharmos títulos, sairei pelo meu pé. Não por não conseguirmos ganhar, mas porque dois anos seguidos sem ganhar títulos não pode ser
Rúben Amorim, assumindo em conferência de imprensa que a equipa do Sporting sentiu muito a derrota na Taça da Liga e que poderá deixar Alvalade se nada ganhar este ano
O que aí vem
Segunda-feira, 29
⚽ O Estrela da Amadora - Benfica (18h, Sport TV2) e o Sporting - Casa Pia (20h45, Sport TV1) jogam para a 19.ª jornada da I Liga
⚽ Na Taça Asiática, Catar e Palestina jogam nos oitavos de final (16h, Sport TV2); na CAN, Cabo Verde e Mauritânia disputam um lugar nos quartos de final (17h, Sport TV1)
🎾 ATP 250 Montpellier (16h, Sport TV5)
Terça-feira, 30
⚽ Premier League: o Nottingham Forest, de Nuno Espírito Santo, recebe o Arsenal (19h30, Eleven 1)
⚽ CAN, oitavos de final: Marrocos - África do Sul (20h, Sport TV2)
Quarta-feira, 31
⚽ I Liga: Rio Ave - Estoril (18h45, Sport TV2) e SC Braga - Chaves (20h45, Sport TV1)
⚽ Premier League: Manchester City - Burnley (19h30, Eleven 2) e Liverpool - Chelsea (20h15, Eleven 1)
Quinta-feira, 1
⚽ Premier League: Wolverhampton - Manchester United (20h15, Eleven 1)
Sexta-feira, 2
⚽ Bundesliga: Heidenheim - Borussia Dortmund (19h30, Eleven 1)
🥋 Judo: Grand Slam de Paris (16h, Sport TV5)
Sábado, 3
⚽ I Liga: Portimonense - Arouca (15h30, Sport TV1), Famalicão - Sporting (18h, Sport TV2) e FC Porto - Rio Ave (20h30, Sport TV1)
🏒 Hóquei em patins, campeonato: FC Porto - Benfica (15h, Porto Canal)
🏉 European Championship: Bélgica - Portugal (16h35, Sport TV5)
Domingo, 4
⚽ I Liga: Vizela - Vitória (15h30, Sport TV1), Chaves - Farense (15h30, Sport TV2), Estoril - Estrela da Amadora (18h, Sport TV1), Benfica - Gil Vicente (18h, BTV) e SC Braga - Moreirense (20h30, Sport TV1)
⚽ Liga BPI: Marítimo - Benfica (11h, Sport TV2)
⚽ Na Premier League siga o Arsenal - Liverpool (16h30, Eleven 1) e na Serie A veja o Inter - Juventus (19h45, Sport TV2)
🎾 ATP 250 Montpellier, final (14h, Sport TV6)
Hoje deu-nos para isto
“Quem me dera que toda a gente tivesse os pais que eu tenho, porque eles sempre me deixaram escolher o que eu queria ser”. O discurso de vitória de Jannik Sinner no Open da Austrália, no primeiro título do Grand Slam para o italiano, teve esta pequena pérola, uma ode à liberdade que não é dado adquirido, nunca o foi no desporto, cheio de pais tiranos que descarregam frustrações nos filhos, e não é garantida sequer em tantas outras áreas da nossa vida. Sinner, nascido no Tirol do Sul, onde o alemão atropela o italiano, ruivo e branquela, filho de um cozinheiro e de uma camareira numa estância de desportos de inverno, praticou esqui (foi mesmo campeão nacional em criança) e futebol antes de se dedicar completamente ao ténis, aos 13 anos.
Não foi tarde demais, nem pouco mais ou menos. Nove anos depois, Sinner, fã de Federer como todas as pessoas de bem, é vencedor de um major, abrindo os horizontes a uma modalidade que nos convencemos que caminharia para uma rivalidade bicéfala Djokovic-Alcaraz. Ainda bem que assim não será. Sinner, um tipo tímido, mas simpático, aparentemente na dele mas muito apreciado pelos seus pares, tem o carisma de quem parece não ter carisma nenhum - a raqueta fala por si. Também é dele o futuro e Alcaraz que se ponha esperto.
No quadro feminino, Aryna Sabalenka repetiu o título de há um ano. Nunca pensaríamos que fosse ela a mais consistente dentro da inconsistência do ténis feminino, mas aqui estamos.
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