Tribuna 12:45

No clássico, o Benfica perdeu várias vezes

Perdoa-lhes João, eles não sabem o que fazem
MANUEL FERNANDO ARAÚJO

Escrevi neste mesmo fórum há uns meses, em novembro, para ser mais exata, que havia algo no Seixal que ia levantando Roger Schmidt. Rabisquei-o na semana em que o Benfica foi destratado em San Sebastián, na Champions (o 3-1 foi bem lisonjeiro), e venceu depois o Sporting, com dois golos nos descontos, vitória tão épica quanto imerecida, conseguida nos descontos, aos ombros de um golo de João Neves, pleno de coração quando tudo o resto faltava, e da atitude de António Silva, que rapidamente foi empurrar e chamar os colegas que ainda festejavam o que era, então, o empate. Pouco depois, chegaria o golo da vitória.

Hoje, na semana que se segue a duas derrotas frente aos dois principais rivais, pior, a dois banhos táticos frente aos mais históricos adversários, mais uma vez digo que haverá algo no Seixal que é especial. Que constrói jogadores, mas também molda gente. Que aguenta Roger Schmidt, mais do que o levanta. Na quinta-feira, é possível que sem António Silva a travar Gyökeres o desastre do Benfica tivesse sido bem maior. Já João Neves, mesmo nos piores momentos encarnados - e o clássico de domingo frente ao FC Porto foi mesmo o mais baixo da era Schmidt - é sempre um inconformado. António Silva tem 20 anos, João Neves 19. Mas parecem ser uma espécie de guardiões da alma benfiquista - a tal “mística” - no meio de tantos milhões gastos, de tanta aleatoriedade na construção da época.

Mas mesmo não parecendo, António Silva e João Neves ainda são meninos. Que sentido faz que o central tenha sido o homem designado para falar à imprensa depois do péssimo jogo do Benfica frente à Real Sociedad? E, pior, meses depois do primeiro erro, como se pode pedir a um ainda adolescente que acabou de perder a mãe para dar a cara depois da derrota mais humilhante da época? No domingo, o Benfica perdeu várias vezes.

Quanto à goleada no Dragão, era um acidente à espera de acontecer. Porque Sérgio Conceição quase sempre prepara bem os jogos grandes e porque Roger Schmidt não os trabalha, ignorando-lhes as nuances. Com exceção do muito particular jogo com o FC Porto na Luz, o Benfica ofereceu sempre as primeiras partes ao adversário dos dérbis e clássicos esta temporada, confiando nas individualidades, alterando já com o estrago em andamento, como quem não estava a contar com o que ia encontrar, o que numa era do vídeo, da observação do adversário e da variabilidade tática é particularmente incompreensível. O emendar de mão a meio caminho resultou na Supertaça e houve milagre frente ao Sporting na Luz. Mas os sinais estavam lá. A humilhação a que o Benfica escapou na última quinta-feira, maquilhada com críticas à arbitragem, ou até no jogo com o humilde Toulouse na Liga Europa iria, eventualmente, acontecer.

Ainda assim, os encarnados estão a um ponto do Sporting, que horas antes sofreu e depois esfregou as mãos. Estamos em março e ainda há muito por decidir, é a beleza do futebol. Quanto ao Benfica, pode começar por proteger aqueles que mais sentem o clube. Seria uma primeira vitória.

O que se passou

Depois do Mundial, a seleção nacional de râguebi vai voltar a jogar a final do Seis Nações B.

A competir pela primeira vez em 2024, Tadej Pogacar atacou a 81 quilómetros da meta na clássica Strade Bianche. E ganhou. Um fenómeno.

Na Fórmula 1, nova época, tudo igual: Max Verstappen venceu com autoridade o GP Bahrain.

Sem Pichardo, cuja situação é, de momento, uma incógnita, Portugal continuou a ganhar medalhas no triplo salto. Tiago Pereira foi bronze nos Mundiais de pista coberta.

Zona mista

O Estoril Open será o último torneio da minha carreira

O anúncio foi de João Sousa, feito poucas semanas antes do arranque do torneio onde viveu a sua maior alegria, em 2018. As lesões não permitem mais ao vimaranense que um dia nos mostrou que um português podia ganhar torneios ATP, chegar ao top 30 do ténis mundial, estar continuamente em torneios do Grand Slam. Não é nada pouco.

O que aí vem

Segunda-feira, 4
⚽ I Liga: o Famalicão - Boavista fecha a jornada 24 (20h15, Sport TV1)
⚽ Lá fora, na Serie A o Inter recebe o Genoa (19h45, Sport TV3) e na Premier League o Arsenal joga em casa do Sheffield United (20h, Eleven 1)

Terça-feira, 5
⚽ Na Liga dos Campeões descobrem-se os primeiros clubes a chegar aos quartos de final, no Bayern Munique - Lazio (20h, Eleven 1) e Real Sociedad - Paris Saint-Germain (20h, Eleven 2)

Quarta-feira, 6
⚽ O Sporting recebe a Atalanta, nos oitavos de final da Liga Europa (17h45, Sport TV1)
⚽ Liga dos Campeões: Real Madrid - RB Leipzig (20h, Eleven 1) e Manchester City - Copenhaga (20h, Eleven 2)
🎾 ATP 1000 Indian Wells (19h, Sport TV6)

Quinta-feira, 7
⚽ Na Liga Europa, o Benfica recebe o Rangers (20h, SIC). Também nos oitavos de final da prova acompanhe o Sparta de Praga - Liverpool (17h45, Sport TV1) ou o Qarabag - Bayer Leverkusen (17h45, Sport TV5)

Sexta-feira, 8
⚽ Arranca a jornada 25 da I Liga, com o Portimonense - FC Porto (18h45, Sport TV1) e o Estrela da Amadora - Casa Pia (20h45, Sport TV2)
🏁 Fórmula 1: GP Arábia Saudita, qualificação (17h, Sport TV4)

Sábado, 9
⚽ I Liga: Vizela - Farense (15h30, Sport TV1), Rio Ave - SC Braga (18h, Sport TV1), Boavista - Moreirense (18h, Sport TV2) e Vitória - Famalicão (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Premier League siga o Manchester United - Everton (12h30, Eleven 1) e na Bundesliga o Werder Bremen - Borussia Dortmund (17h30, Eleven 2)
🏁 Fórmula 1: GP Arábia Saudita, corrida (17h, Sport TV4)
🏍️ MotoGP: GP Catar, sprint (16h, Sport TV5)

Domingo, 10
⚽ Em dia de eleições também há futebol: Arouca - Sporting (18h, Sport TV1) e Benfica - Estoril (20h30, BTV)
⚽ Na Serie A, siga o Juventus - Atalanta (17h, Sport TV3) e na Premier League um importante jogo para o título: Liverpool - Manchester City (15h45, Eleven 1)
🏍️ MotoGP: GP Catar, corrida (17h, Sport TV5)
🏀 NBA: LA Clippers - Milwaukee Bucks (19h, Sport TV5)

Hoje deu-nos para isto

O desporto, já se sabe, é uma espécie de brincadeira para quem manda. Vive-se com paixão de adepto, nunca com a cabeça de quem tem ali uma indústria, e quando há vitórias dão-se uns parabéns nas redes sociais e umas condecorações após uma qualquer epopeia, como quem dá uma palmadita nas costas a quem, maluco, optou por fazer da sua vida praticar uma modalidade e não ser doutor ou engenheiro. É um passatempo, não uma estrutura holística, um programa de visão nacional como, por exemplo, e não vamos mais longe, teve Espanha para alavancar o sucesso dos Jogos Olímpicos de Barcelona.

Nos debates falou-se zero de desporto, apesar de tanto se apreciar o linguarejar quase bélico da bola, no final dão-se pontos às performances, como quem acabou de ver um programa livre de patinagem artística ou um exercício de ginástica acrobática. Houvesse casas decimais e também as davam, a política adora pormenores. Portugal investe cerca de 40 euros por habitante no desporto - a média europeia é de 113 euros. Está tudo aqui. Atiram-se uns trocos a uns institutos, como quem dá uma mesada a um filho sem querer saber onde este a vai gastar, e o resto é imaginação, carolice e muita força de vontade de atletas e treinadores. Desporto é saúde, claro que sim, mas olhando para a generalidade dos programas que serão votados no domingo, disso não passa. Há até quem acredite que é preciso investir num “desporto” que passa por pessoas sentadas em frente a um ecrã. Há quem tenha simplesmente copiado os inputs do Comité Olímpico de Portugal. Não há ideia, nem uma estratégia que envolva todo o panorama. Depois de dia 10 não será diferente.

Ainda assim vote, vote sempre. Mais importante que o desporto ainda é vivermos em democracia.

Tenha uma excelente semana, saia de casa no domingo para ir votar e obrigada por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.

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