Uma das coisas maravilhosas do desporto é o sentir, seja ele agradável ou desesperante. No sábado, pouco depois da hora de almoço, muito boa gente terá experimentado uma percentagem do nervosismo que os jogadores de râguebi portugueses sentiram naquele instante em que a primeira vitória num Mundial estava tão perto. Muitos outros inclinaram o corpo para ajudar aquela bola a passar entre os postes, dando-lhe essa força invisível daqui de longe, crendo nela, e choraram por dentro quando na cara de Nuno Sousa Guedes viram a deceção. Rogaram depois volumosas e asneirentas pragas àquela pele em forma de melão, ao vento que não ajudou, mas porque raio não entrou ela onde devia, passando então para o consolo que gostariam de estar a dar ao jogador portuense de pernas bailarinas, ele que até tem histórico destes momentos, a ele e a todos aqueles rapagões de caras carregadas.
É possível que muitas dessas pessoas, a maioria, nem saiba mais de três regras do râguebi. E não há problema nenhum nisso.
Porque, como disse, é essa a particular beleza do desporto. Podemos não saber o que é um 50:22, mas sabemos que alguns daqueles jovens vendem seguros, estudam ou tratam de cáries antes de à noite irem treinar. Não sabemos em que situações se fazem formações ordenadas, mas empatizamos com aqueles que encontraram na seleção nacional uma oportunidade de abraçarem uma origem que está no sangue dos pais, emigrantes que daqui saíram, que cada um de nós têm na família. E sabemos que esta é uma segunda participação num evento que é um dos maiores do macrocosmos do desporto. Tudo isso gera uma pertença e uma empatia que tantas vezes só o desporto consegue.
No sábado, Portugal não ganhou mas empatou com a Geórgia e pela primeira vez não perdeu um jogo num Mundial. Antes disso tinha dado água pela barba ao País de Gales, acelerando os corações de adeptos de outras nações mais dadas ao desporto da oval, apreciando o râguebi apaixonado, rápido e criativo de Portugal contra o maquinal jogo de Inglaterra, por exemplo, feito para ganhar mas não para encantar. No próximo domingo, há jogo com a Austrália, uma das potências mas em situação precária - pode mesmo já estar fora da fase a eliminar quando entrar em campo contra Portugal - e a derrota é estatisticamente quase uma inevitabilidade, mas há derrotas que podem transformar-se em bonitas vitórias, principalmente se daqui sair a inspiração, a tal de que o capitão Tomás Appleton tanto fala, para que o râguebi se torne um desporto popular, de todos, não só de Lisboa ou do Porto, e para todas as classes. Só assim não iremos esperar de novo 16 anos para voltar a estar num Mundial.
Tal como no Mundial feminino de futebol, as vitórias morais e os sentimentos que elas criam só se capitalizam se se tornarem vitórias reais, o que não se faz com inércia, com o firme acreditar que basta uma televisão a mostrar um momento histórico para espoletar uma reação em cadeia. Ajuda muito, com certeza, mas não chega. Mas faltando ainda dois jogos, os rapazes que andam a dar o corpo e as pernas ao manifesto pelos estádios de França já fizeram o seu papel, por muito que aquele pontapé que saiu ao lado ainda nos doa - e ainda bem que dói, é sinal que estamos vivos e prontos para sentir aquilo que o desporto nos dá.
O que se passou
O FC Porto sofreu, o Benfica ainda apanhou um susto, mas ambos ganharam na 6.ª jornada da I Liga. O Sporting joga esta segunda-feira. Durante a semana, na estreia da Champions, os dragões sorriram, os leões também, as águias nem por isso.
Portugal perdeu com a França na estreia na Liga das Nações feminina. Mas as diferenças já não são as de outros tempos.
Max Verstappen, praticamente sozinho, deu o Mundial de construtores à Red Bull com mais uma vitória, agora no GP Japão de F1.
Zona mista
É verdade que renunciei a uma quantidade significativa de dinheiro do meu salário. Para voltar a sentir alegria a jogar futebol
Não era preciso ser um génio para perceber, desde início, que João Félix não vivia do espírito operário do Atlético Madrid e ao “Mundo Deportivo” confessou agora que nunca se adaptou ao clube. Na altura, talvez o dinheiro tenha toldado a decisão. Dele ou de quem a tomou. Agora o avançado português ganha menos uns trocos, mas tem-nos feito chorar com aquele diabo de talento no corpo no Barcelona, casa onde a estética ainda conta
O que aí vem
Segunda-feira, 25
⚽ Fecha a jornada 6 do campeonato com o Sporting - Rio Ave (20h15, Sport TV1)
Terça-feira, 26
⚽ Na Liga das Nações feminina, Portugal recebe a Noruega (18h15, RTP1)
⚽ A Juventus recebe o Lecce para o campeonato (19h45, Sport TV3), na La Liga o Barcelona joga em Maiorca (20h30, Eleven 1) e na Taça da Liga inglesa o Man. United joga com Crystal Palace (20h, Sport TV2)
🎾 Finais dos ATP 250 de Chengdu (12h30, Sport TV2) e Zhuhai (12h30, Sport TV3)
Quarta-feira, 27
⚽ Há Taça da Liga com o Farense a receber o Tondela (19h, Sport TV1)
⚽ Na liga espanhola, o Real Madrid joga com o Las Palmas (18h, Eleven 1) e na Taça da Liga inglesa há um Newcastle - Manchester City (20h, Sport TV2) e um Chelsea-Brighton na 3.ª ronda (19h45, Sport TV5)
Quinta-feira, 28
⚽ Arranca a jornada 7 da I Liga com o Estrela da Amadora - SC Braga (20h15, Sport TV1). Há ainda Taça da Liga, com o Casa Pia - Nacional (20h15, Sport TV2)
🤾 O FC Porto recebe o Barcelona na fase de grupos da Liga dos Campeões de andebol (17h45, Porto Canal)
🎾 ATP 500 de Pequim (7h30, Sport TV2)
Sexta-feira, 29
⚽ Jogo grande na 7.ª jornada da I Liga: Benfica - FC Porto (20h15, BTV)
⚽ Na liga saudita, o Al Nassr de Cristiano Ronaldo joga em casa do Al Tai (16h, Sport TV1) e o Al Hilal de Jorge Jesus recebe o Al Shabab (19h, Sport TV1)
🏉 Mundial de râguebi: Nova Zelândia - Itália (19h45, Sport TV3)
Sábado, 30
⚽ I Liga: Vizela - Portimonense (15h30, Sport TV1), Boavista - Famalicão (18h, Sport TV1) e Farense - Sporting (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Premier League veja o Wolverhampton - Manchester City (15h, Eleven 1) e o Tottenham - Liverpool (17h30, Eleven 1) e na Serie A há um Milan - Lazio (17h, Sport TV3). Na Bundesliga siga o jogo grande entre RB Leipzig e o Bayern Munique (17h30, Eleven 2)
🏁 MotoGP: GP Japão, sprint (7h, Sport TV4)
Domingo, 1
🏉 Siga o 3.º jogo de Portugal no Mundial de râguebi, frente à Austrália (16h45, RTP2/Sport TV3)
⚽ I Liga: Arouca - Chaves (15h30, Sport TV1), Vitória - Estoril Praia (18h, Sport TV1) e Rio Ave - Moreirense (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Serie A, a Atalanta, adversário do Sporting na Liga Europa, recebe a Juventus (17h, Sport TV2) e na La Liga o Atlético Madrid joga com o Cádiz (20h, Eleven 1)
🏁 MotoGP: GP Japão, corrida (7h, Sport TV4)
Hoje deu-nos para isto
As olheiras de Irene Paredes e Alexia Putellas denunciam que há muito não têm uma noite de sono descansada e já nem é preciso recuarmos um mês para revermos aquele infame beijo. Na última semana, as jogadoras da seleção espanhola voltaram a ser violentadas na sua honra, obrigadas a acudir a uma convocatória na qual não queriam estar, empurradas por uma lei que as encosta à parede. Montse Tomé, a nova selecionadora, meteu os pés pelas mãos, não convocou Jenni Hermoso justificando-se com uma falsa necessidade de proteção, foi opaca numas coisas, ocultou outras, tudo o que estas mulheres não precisam agora, elas que têm sido plenas e claras no que querem.
A equipa campeã mundial jogou na última sexta-feira com a Suécia depois de uma concentração em que se multiplicaram as reuniões - uma delas entrou mesmo pela noite fora - e em que se deram passos pequeninos para que algo aconteça e o futebol feminino não seja um mero pormenor nas preocupações da federação espanhola e de outras federações. E, em Gotemburgo, ganharam. Em campo, frente a uma das melhores seleções do planeta, mesmo sem dormir, sem descansar, depois de um mês de afrontas. Como disse há dias Xabi Alonso, antigo médio, agora treinador do Bayer Leverkusen, um verdadeiro aliado, um dia as suas filhas vão saber que foram estas bravas mulheres que abriram o caminho.
Impossível não pensar nelas, nas suas lutas, nos gritos por respeito quando do outro lado vemos milionários alegremente vestidos com as roupas tradicionais sauditas, espadas na mão, sorrisos na boca. Uma opereta bufa que seria apenas ridícula e parva se não fosse grave, mas há que levar com estes pequenos colaterais, afinal o que é que significa glorificar um regime que mata gente por tuítes quando o dinheiro que chega à conta é tão grande?
Tenha uma boa semana, boa entrada no outono e obrigada por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.
Ah, e acompanhe o podcast “No Princípio Era a Bola”, onde todas as semanas, com Tomás da Cunha e Rui Malheiro, fazemos o rescaldo do fim de semana que passou e olhamos para o futebol que nos encanta (ou desencanta) por esse mundo fora.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt