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Agora é oficial: Federação Portuguesa de Futebol anuncia saída de Fernando Santos. “Este é o momento certo para iniciar um novo ciclo”

Em comunicado, a FPF revelou que ambas as partes “concordaram em dar por terminado o percurso de grande sucesso iniciado em setembro de 2014”. A direção da Federação “iniciará agora o processo de escolha do próximo selecionador nacional”

Pedro Barata

Mike Hewitt - FIFA/Getty

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Cinco dias depois da eliminação do Mundial 2022, com a derrota (1-0) contra Marrocos, a Federação Portuguesa de Futebol comunicou a saída de Fernando Santos. A FPF anunciou que ambas as partes “concordaram em dar por terminado o percurso de grande sucesso iniciado em setembro de 2014”, sendo o “momento certo para iniciar um novo ciclo”.

A direção da FPF “iniciará agora o processo de escolha do próximo selecionador nacional”, lê-se ainda no texto publicado.

O técnico, de 68 anos, sai do cargo para o qual chegou em 2014, sucedendo a Paulo Bento. No total, foram 109 jogos no banco da seleção, com 67 vitórias, 23 empates e 19 derrotas. É o treinador com mais encontros dirigidos, superando os 74 desafios de Luis Filipe Scolari.

A primeira grande competição de Fernando Santos como selecionador foi, também, o momento que o eternizou na história do futebol nacional. No Euro 2016, em França, Portugal conquistou o primeiro título ao nível de seleção A.

O caminho para o título em Saint-Denis até começou atribulado, com três empates na fase de grupos. No entanto, depois das duas igualdades a arrancar, frente a Islândia (1-1) e Áustria (0-0), o treinador fez uma profecia que marcaria o seu período à frente da seleção. “Já avisei a minha família de que só volto no dia 11 [de julho, depois da final] e serei recebido em festa”. A promessa revelar-se-ia certeira, com o golo de Éder a dar a mais importante conquista do futebol português.

Laurence Griffiths/Getty

Depois do Europeu, Portugal estreou-se na Taça das Confederações, em 2017, quando foi eliminado nas meias-finais, nos penáltis, contra o Chile. A participação terminaria com um 3.º lugar, depois de bater o México.

Os anos de Fernando Santos à frente da seleção foram, também, marcados pelo surgimento de muito talento jovem. Em 2018, no Mundial, Rúben Dias, Bernardo Silva ou Bruno Fernandes estrearam-se num grande palco, num gradual rejuvenescimento da base de 2016. Na Rússia, Portugal superou um grupo com Espanha, Irão e Marrocos e caiu nos oitavos de final, por 2-1, contra o Uruguai.

Após a presença no Mundial, a Liga das Nações 2018/19 deu novo impulso à era Fernando Santos. Sem Cristiano Ronaldo, então a viver os primeiros tempos na Juventus, Portugal passou a fase de grupos da novíssima competição, sendo superior a Polónia e Itália.

Na final four, já com CR7, a Suíça foi derrotada (3-1) na meia final no Dragão, com hat-trick do capitão. Na final, um golo de Gonçalo Guedes bateu (1-0) os Países Baixos e deu o segundo título da história para a seleção principal.

Carl Recine

Após as interrupções e adiamentos ditados pela pandemia, o Euro 2020, disputado em 2021, permitiu a Portugal defender o título de Saint-Denis. Depois de uma fase de grupos de altos e baixos, com o triunfo (3-0) frente à Hungria, a pesada derrota (4-2) contra a Alemanha e um empate (2-2) contra a França, a seleção voltou a cair nos ‘oitavos’, tal como no Mundial 2018.

O seguimento do Europeu trouxe um dos momentos mais conturbados da era Fernando Santos. A 14 de novembro de 2021, Portugal perdeu (2-1) contra a Sérvia, na Luz, quando um empate bastava para estar no Mundial 2022. A presença no Catar seria assegurada no play-off de março, com vitórias contra Turquia e Macedónia do Norte.

A antecâmara do torneio realizado no Médio Oriente ficou marcada por nova desilusão. Em Braga, em setembro, a seleção foi batida (1-0) pela Espanha e foi eliminada da Liga das Nações, voltando a ficar longe das fases decisivas de disputa de um título.

O desaire na Liga das Nações e a consolidação da nova geração fez Fernando Santos apostar numa “nova ideia” para o Catar. Depois de anos com um futebol mais reactivo, o selecionador foi para o Mundial 2022 procurando ter mais protagonismo com bola, juntando Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix no onze.

JACK GUEZ/Getty

A participação no que seria o último torneio do técnico no banco começou garantindo os três pontos contra Gana (3-2) e Uruguai (2-0), permitindo um conforto no acesso à fase seguinte que nunca se tinha visto com Fernando Santos como líder. A derrota (2-1) contra a Coreia do Sul assinalaria também um momento simbólico: a reação de Ronaldo ao ser substituído, de que o selecionador “não gostou mesmo nada”, abriu a porta para que aquele fosse o último jogo do madeirense a titular com o engenheiro como técnico.

A goleada (6-1) frente à Suíça foi a última grande noite de Fernando Santos, com a decisão quase inédita de deixar Ronaldo de fora e o hat-trick de Gonçalo Ramos. A vitória nos oitavos de final, na primeira vez que uma eliminatória numa grande competição foi superada desde 2016, antecederia o desaire contra Marrocos.

O futuro, com Mourinho como opção

Os próximos compromissos agendados para Portugal são em março de 2023, na estreia na qualificação para o Euro 2024, na Alemanha. Liechtenstein e Luxemburgo são os primeiros rivais de um grupo acessível, onde também há Bósnia, Islândia e Eslováquia.

A Tribuna Expresso sabe que José Mourinho é uma opção já falada para suceder a Fernando Santos. O agora técnico da Roma nunca escondeu o desejo de, um dia, orientar a seleção nacional.

Em 2010, depois da saída de Carlos Queiroz, esteve em cima da mesa a hipótese de Mourinho acumular os bancos de Portugal e Real Madrid. Na altura, Florentino Pérez não autorizou uma solução que Mourinho, em 2014, consideraria que teria sido um erro: “Depois disso refleti e tenho de concordar que não seria possível desempenhar as duas funções ao mesmo tempo. Nem sequer é ético ter dois trabalhos quando há tantos treinadores desempregados. Não é aceitável”, disse à BT Sport.

Assim, tendo em conta que Mou tem contrato com a Roma até a 2024, para que o técnico setubalense assumisse a seleção seria necessário negociar com a equipa italiana. Haverá abertura federativa para, caso a porta fosse aberta por Mourinho, esperar pelo treinador até ao final da presente época.