Tribuna 12:45

Lewis Hamilton perguntou à imortalidade quanta imortalidade a imortalidade tem

Lewis Hamilton perguntou à imortalidade quanta imortalidade a imortalidade tem

Pedro Barata

Jornalista

NurPhoto/Getty

O início da carreira de um desportista de talento excecional costuma corresponder a uma certa linearidade. Coloca-se o capecete, empunha-se a raquete, veste-se o fato, calçam-se as botas, utiliza-se seja qual for o equipamento e faz-se o que o corpo pede, deixa-se o extraordinário que há dentro daquele ser humano fluir, sem lhe colocar grandes barreiras.

À boleia daquela magia interior que se mostra ao mundo, começa-se a ganhar. Ganha-se uma vez, duas, 10, 20. Surpreende-se o público, testam-se os limites. Até que, num determinado momento, surgem as dúvidas. Uma derrota, o peso da monotonia, a asfixiante pressão dos holofotes.

Para quê continuar? Há aqueles que seguem atrás de uma ambição infinita, de uma constante vontade de provarem o seu valor, com uma fome que se regenera diariamente. É o caso de um certo madeirense que cumpre hoje 39 anos — mas já lá vamos.

Mas, à margem desses raros extraterrestres, é muito comum existirem dúvidas que assolam os talentos excecionais. Há quem precise de parar, mesmo quando se é uma adolescente banhada a ouro, como Simone Biles; há quem se retire precocemente, logo depois de um grande êxito, sem gasolina física e mental para seguir, como Ash Barty; há magos que deixam de ter na procura de objetivos desportivos a grande meta de vida, colocando como objetivo e prioridade a própria saúde mental, como Ricky Rubio.

Lewis Hamilton encaixa na ideia de talento prodigioso. Chegou à Fórmula 1 com 22 anos, foi campeão do mundo com 23. Ganhou 103 grandes prémios, um recorde; tem 104 pole positions, um recorde; terminou 197 vezes no pódio, um recorde; somou 4639,5 pontos, um recorde.

Até que, no final de 2021, aquele desfecho dramático em Abu Dhabi que consagrou Verstappen como campeão correspondeu ao tal momento de dúvida. Hamilton vinha de quatro títulos mundiais seguidos, conquistara seis dos derradeiros sete. Mas, ali, algo terminou, entre a perda de competitividade da Mercedes e a instauração da ditadura da Red Bull: Lewis não voltou a triunfar num grande prémio, quanto mais a lutar, de facto, pelo título.

Clive Mason/Getty

Assim, o britânico parou nos sete triunfos no Mundial. Um recorde… partilhado com Michael Schumacher. E é aqui que os registos estatísticos se conjugam com a grande notícia do desporto mundial da última semana.

O rumor chegou em forma de bomba na manhã de quinta-feira e, no final do dia, já estava confirmado. Lewis Hamilton na Ferrari em 2025, cumprindo o que diz ser “um sonho de criança”.

O piloto mais mediático na equipa mais mítica. O sete vezes campeão a tentar o oitavo título vestido com o vermelho que consagrou Schumacher, desempatando com o alemão. Uma viagem mútua de reconciliação com o êxito, com Hamilton a devolver-se à glória enquanto a traz de volta, também, para a Ferrari, que não vê um piloto vestido do vermelho mais mítico do desporto motorizado ganhar o Mundial desde Räikkönen, em 2007.

A minha camarada Lídia Paralta Gomes, com uma expertise em Fórmula 1 que o autor desta Newsletter não possui, explicou esta tentativa de viagem rumo à imortalidade do britânico. Ah, entretanto há uma temporada por disputar, uma época de 2024 em que se realizará o campeonato que, antes de começar, já todos querem que acabe, porque o prato principal vem em 2025.

Quando o talento deixa de ganhar, quando as dúvidas surgem, é preciso reagir. Pode-se parar ou continuar, duvidar ou reforçar certezas. No caso de Hamilton, é como se ele dobrasse a aposta, fosse à procura de algo ainda maior.

Ganhar um título com a Ferrari seria uma brutal mistura de história e glória, uma conjugação rara de acontecimentos: isolar-se como maior campeão da Fórmula 1, fazendo-o à boleia do monolugar mais mítico, guiando-o de novo rumo aos êxitos que parecem esquecidos.

Na música “Imortais”, do álbum “System” de ProfJam em parceria com benji price, canta-se que a “Final fantasia é viver com imortais”. Hamilton, lenda incontestada do desporto mundial, vai testar os limites dessa condição não humana, viajando pelas fronteiras da eternidade, explorando-a, procurando que ela vive nela. Foi a forma que encontrou para, a meses de cumprir 40 anos, continuar a acelerar.

O que se passou

O Benfica venceu, tranquilamente, o Gil Vicente por 3-0. A equipa de Roger Schmid saltou, à condição, para a liderança da I Liga, isto porque o Famalicão-Sporting foi adiado por falta de policiamento, tal como o Feirense-Académico de Viseu e o Leixões-Nacional. O que dizem os regulamentos nestes casos? Saiba aqui.

O FC Porto empatou (0-0) com o Rio Ave, na véspera da apresentação da recandidatura de Pinto da Costa à presidência dos dragões.

Angélica André conseguiu um resultado histórico para Portugal, com o bronze nos 10 quilómetros de águas abertas nos Mundiais de natação.

A seleção de râguebi voltou aos treinos depois do Mundial. O Diogo Pombo esteve lá e foi isto que viu.

Zona mista

Às vezes levo uma tareia, é a realidade, o adversário pode jogar melhor do que eu mesmo quando teoricamente pode ser infe­rior. Conheço o meu jogo, mas começo a encarar cada encontro de maneira diferente e a perceber que há certas coisas que posso fazer contra os melhores e que podem resultar.

Nuno Borges conversou com a Tribuna poucos dias depois da participação histórica no Open da Austrália e refletiu sobre uma ascensão que parece tê-lo a ele próprio como maior surpreendido.

O QUE AÍ VEM

Segunda-feira, 5
⚽ Na I Liga, o Casa Pia recebe o Boavista (20h15, Sport TV1)
⚽ O Manchester City fecha a jornada 23 da Premier League visitando o Brentford (20h00, Eleven 1)
⚽ Roma-Cagliari (19h45, Sport TV2)
🎾 Arranca o ATP 250 de Marselha, que decorrerá até domingo (15h00, Sport TV3)
🎾 ATP 250 de Córdoba, que também vai até domingo (17h00, Sport TV6)

Terça-feira, 6
🏀 NBA: Cleveland Cavaliers-Sacramento Kings (00h00, Sport TV1) e Charlotte Hornets-LA LAkers (00h00, Sport TV3)
⚽ Na Taça da Ásia, as meias-finais arrancam com um Jordânia-Coreia do Sul (15h00, Sport TV1)
🤾 Campeonato de andebol: Vitória FC-Sporting (20h00, Sporting TV)
🏀 FIBA Europe Cup: FC Porto-BG Gottingen (20h00, Porto Canal)

Quarta-feira, 7
⚽ Começam os quartos-de-final da Taça de Portugal, com o Santa-Clara-FC Porto (16h00, Sport TV1) e o União de Leiria-Sporting (20h45, RTP1)
⚽ A CAN chega às meias-finais: a Nigéria de José Peseiro contra a África do Sul (17h00, Sport TV2) e a Costa do Marfim contra o Congo (20h00, Sport TV2)
⚽ Irão-Catar (15h00, Sport TV3), para as meias-finais da Taça da Ásia
🏀 Na NBA, Miami Heat-Orlando Magic (00h30, Sport TV3)

Quinta-feira, 8
⚽ Os restantes encontros dos quartos-de-final da Taça de Portugal, com o Vitória SC-Gil Vicente (18h45, Sport TV2) e o Vizela-Benfica (20h45, RTP1)
🏒 Hóquei em patins, Liga dos Campeões: FC Porto-SC Tomar (20h00, Porto Canal)
🚴 Ciclismo: Volta aos EAU (Eurosport 2, 10h50)

Sexta-feira, 9
⚽ Começa a 21.ª jornada da I Liga, com um Estrela-Portimonense (20h15, Sport TV1)
⚽ Na Bundesliga, Borussia Dortmund-Friburgo (19h30, Eleven 1)
🏌️PGA Tour, Phoenix Open (21h00, Eurosport 2)
🎾 WTA 500 de Abu Dhabi (9h00, Eleven 1)
🏒 NHL, Florida Panthers-Washington Capitals (01h00, Sport TV4)

Sábado, 10
⚽ Na I Liga, Farense-Famalicão (15h30, Sport TV1), Moreirense-Desportivo de Chaves (18h00, Sport TV1) e Boavista-Estoril (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Premier League, há um Manchester City-Everton cheio de portugueses (12h30, Eleven 1) ou um Liverpool-Burnley (15h00, Eleven 1)
⚽ Na La Liga, duelo de máxima importância entre o Real Madrid e o surpreendente Girona (17h30, Eleven 1)
⚽ Por falar em partidas de grande relevância, há outra na Bundesliga, com o Bayer Leverkusen-Bayern Munique (17h30, Eleven 2)
⚽ Final da Taça da Ásia (15h00, Sport TV3)
🏌️ DP World Tour: Qatar Masters (9h30, Sport TV3)
🏉 A seleção de râguebi joga no Europe Championship contra a Polónia (19h00, Sport TV4)
🚴 A segunda edição da Figueira Champions Classic traz um pelotão de muito bom nível à Figueira da Foz (15h00, Eurosport 2)

Domingo, 11
⚽ Na I Liga temos Rio Ave-Casa Pia (15h30, Sport TV1), Sporting-SC Braga (18h00, Sport TV2) e Vitória SC-Benfica (20h30, Sport TV1)
🏀 Na NBA, os Miami Heat contra os Boston Celtics de Neemias Queta (19h00, Sport TV4)
⚽ A final da CAN (20h00, Sport TV6)
⚽ Na Premier League, West Ham-Arsenal (14h00, Eleven 1) e Aston Villa-Manchester United (16h30, Eleven 1). Em Espanha, Sevilha-Atlético de Madrid (17h30, Eleven 2) e Barcelona-Granada (20h00, Eleven 1)

Hoje deu-nos para isto

29 dias depois de Lewis Hamilton nascer em Stevenage, Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro veio ao mundo no meio do Atlântico. Foi a 5 de fevereiro de 1985, há 39 anos.

Quando era adolescente, Cristiano colocava-se na beira da estrada, ao lado dos semáforos. Quando estes passavam de vermelho para verde, o madeirense que vivia em Lisboa desatava a correr, procurando acompanhar o arranque dos carros. Não ia à mesma velocidade deles, como é óbvio, mas ali, nas ruas que rodeavam o antigo estádio do Sporting, estava uma metáfora para a mentalidade que presidiu aos anos seguintes daquela existência.

Enquanto procurava treinar o sprint que o caracterizaria enquanto profissional, o menino Ronaldo evidenciava que, para ele, a vida seria uma constante perseguição inacabada, uma corrida eterna atrás de objetivos, não com o propósito de os alcançar e descansar, mas sabendo que a maratona se prolongaria rumo ao infinito, sem nunca estar concluída.

Como contou Eduardo Galeano: “Para que serve a utopia? A utopia está no horizonte e se está no horizonte eu nunca a vou alcançar, porque se ando 10 passos, ela vai-se afastar 10 passos e se caminho 20 passos, ela vai-se afastar 20 passos. Eu sei que nunca, jamais, a alcançarei. Para que serve? Para isso, para caminhar"

A carreira de Cristiano Ronaldo é esta constante perseguição, como matrioskas de objetivos que se vão abrindo, um projeto incessante de ambição pessoal. Há 10 anos, antes do Mundial do Brasil, lia-se que aquela competição seria, talvez, a última fase final do madeirense “no auge”, por ser a derradeira antes que se tornasse trintão. Uma década volvida, cá estamos, conscientes de que, no Europeu que virá no verão, o avançado continuará a levar a braçadeira da seleção nacional.

Aos 39 anos, Cristiano continua a olhar para a vida como o fazia quando era um sonhador adolescente que vivia a um oceano de distância de casa. Espera que o semáforo fique verde e corre atrás dos carros, sabendo que nunca os alcançará, porque o objetivo pleno, a meta definitiva que permite descansar, parece não existir na cabeça de Ronaldo.

Tony Marshall - EMPICS/Getty

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