Tribuna 12:45

Ruben Amorim vai precisar de um barco maior

Bradley Collyer - PA Images

Até nos momentos mais tensos nos quase cinco anos de Sporting, Ruben Amorim pareceu sempre controlar a narrativa. Duas semanas depois de chegar a Manchester, já terá percebido, ou terá rapidamente de perceber, que há um mundo gigante do outro lado bem mais difícil de manobrar. Não lhe valerá muito pedir a Andrew Ward, diretor de comunicação do Manchester United, que limite as aparições nos media, como desabafou (e pareceu isso mesmo, um lamentoso desabafo) num painel da Sky Sports, logo após o empate em Ipswich, no seu 21764324.º compromisso com a imprensa daquela tarde. O planeta da Premier League faz-se de muito dinheiro a rolar, onde quem paga as transmissões tem os seus direitos - e não são direitos ad hoc, tudo é contratualmente disposto, milimetricamente dividido - e os apetites dos treinadores contam pouco. Amorim diz que falou mais na última semana do que em quatro anos de Sporting, lá atrás nessas palavras está um pedido para o que deixem em paz, mas, citando um grande filósofo dos nossos tempos e do próprio futebol inglês, isto é a Premier League, não é o PAOK de Salónica. Aqui, Ed Sheeran pode interromper uma entrevista, os egos, as opiniões multiplicam-se e não olham a momentos.

Depois de duas semanas de histeria coletiva, cá e lá, e em que todos temos a nossa quota parte de culpa, o jogo com o Ipswich foi um banho de realidade. Talvez necessário, na sua violência. Na linha lateral, a cara de Ruben Amorim foi-se transformando, que nem Roy Scheider quando dá de caras com o tamanho do tubarão e percebe, ali mesmo, que we’re gonna need a bigger boat. À equipa faltam automatismos, rotinas e intensidade, tudo o que caracterizava o Sporting que deixou. Haverá por ali jogadores que vão responder ao estímulo do treinador, outros nem tanto. Outros nem terão as características para o fazer. A ideia, que prometeu que seria visível logo no primeiro jogo, demorou 80 segundos a aparecer, e isso já é obra. Mas mantê-la durante 90 minutos são outros quinhentos.

Olhando para a primeira ficha de jogo de Amorim no Sporting e para o onze base da equipa campeã um ano e pouco depois, salva-se apenas um nome: Sebastian Coates. Poderá Amorim operar tal revolução em Old Trafford, num clube agrilhoado a glórias passadas e a desejos imediatos? A máquina é muito pesada, a vontade de destruir para voltar a erguer será menor. Mas para Amorim vencer em Manchester, só mesmo agarrado às suas ideias, as mesmas que serão, semana após semana, colocadas em causa.

O tempo dirá se o clube estará disposto a esperar. Em Alvalade, foi preciso aguardar quatro anos para assistir à plenitude do futebol de Amorim, mas com títulos pelo meio. Ferguson demorou sete anos para vencer a Premier League, mas os tempos eram outros. Amorim é um tipo inteligente e conseguirá rapidamente navegar nesta onda da Nazaré que é o maior campeonato do mundo, se lhe derem tempo. Mas tempo não chegará - esta terá de ser uma equipa à imagem de Amorim, e esse processo, como se viu em Portman Road, fosse em campo, fosse nos inúmeros momentos com os media, vai ser duro e longo e obrigará a uma enorme capacidade de convencimento por parte do treinador português. Um clube como o Manchester United é sempre maior que qualquer homem: foi maior do que Mourinho, maior do que Ronaldo. Para tornar esta equipa mais sua, Amorim terá de persuadir o Manchester United a colocar-se um bocadinho nas suas mãos. E essa é uma tarefa que quebraria a maioria dos treinadores. Mas se resultar, Amorim terá uma estátua em Manchester daqui a uns anos.

No final do encontro com o Ipswich, aparentemente enfastiado de tanta pergunta e perante Roy Keane, um dos muitos que muito vão opinar sobre si, Amorim individualizou na hora de analisar o jogo, coisa que raramente o vimos fazer no Sporting. Foi honesto, não se escondeu, com todas as ondas sísmicas que isso pode criar. Mas não se esqueceu de deixar o bombom aos homens que agora comanda: “Mas eles tentaram, tentaram muito”. Nos próximos meses, o funambulismo será uma ação tão obrigatória quanto necessária.

O que se passou

Houve surpresa na Taça de Portugal, com o FC Porto a cair frente ao Moreirense - mas já lá vamos. Já Sporting e Benfica seguiram em frente com goleadas.

A Dinamarca será o adversário de Portugal nos quartos de final da Liga das Nações.

Numa temporada que começou brilhante, andou periclitante e voltou a compor-se, Max Verstappen garantiu o quarto título mundial de Fórmula 1.

É a idade de ouro do ténis italiano, que este fim de semana venceu de uma assentada a Billie Jean Cup e a Taça Davis, as duas provas por seleções do calendário da bola amarela.

Ainda no ténis, uma surpresa: Andy Murray vai ser treinador de Novak Djokovic a partir de 2025.

Zona mista

Espero ser um bom embaixador do ténis, foi o que tentei todos os dias. Creio que tentei fazê-lo com respeito, humildade e acredito que com aquilo que é o mais importante neste mundo: sendo boa pessoa

Terá sido mais anticlimática do que esperávamos a despedida de Rafael Nadal, com a Espanha perdendo de forma surpreendente com os Países Baixos na Taça Davis. Nadal já não é Nadal, mas ao mesmo tempo é muito Nadal: perdeu o seu encontro de singulares, mas não o fez sem dar luta. Às vezes a forma vale tanto ou mais que o conteúdo. No final, avisou que vai continuar por aqui. E bem precisamos dele.

O que aí vem

Segunda-feira, 25
⚽ Em Inglaterra, o Newcastle-West Ham fecha a jornada da Premier League (20h, DAZN1) e na Serie A veja o Empoli-Udinese (17h30, Sport TV3)
🏀 NBA: Indiana Pacers-New Orleans Pelicans (0h, Sport TV3) e Atlanta Hawks-Dallas Mavericks (0h30, Sport TV1)

Terça-feira, 26
⚽ Na Liga dos Campeões, a estreia de João Pereira na Champions faz-se frente ao Arsenal (20h, Sport TV5). Siga ainda o Bayern Munique-PSG (20h, DAZN1) e o Manchester City-Feyenoord (20h, DAZN2)
🎾 ATP Challenger da Maia (13h, Sport TV2)

Quarta-feira, 27
⚽ Jogo decisivo para o Benfica na Champions, em casa do Mónaco (20h, Sport TV5). Esta jornada traz ainda um imperdível Liverpool-Real Madrid (20h, DAZN1).

Quinta-feira, 28
⚽ Na Liga Europa, o FC Porto joga em casa do Anderlecht (17h45, Sport TV5), o SC Braga recebe o Hoffenheim (20h, DAZN1) e Ruben Amorim estreia-se em Old Trafford, frente ao Bodo/Glimt (20h, DAZN2)
⚽ Na Liga Conferência, o Vitória joga no Cazaquistão, em casa do Astana (15h30, DAZN1)
🤾🏼‍♀️ Andebol, Liga dos Campeões: Sporting - Dinamo Bucareste (19h45, Sporting TV)

Sexta-feira, 29
⚽ Portugal joga a 1.ª mão do playoff de acesso ao Europeu feminino, frente à Chéquia (19h45, RTP1)
⚽ O Farense-Estrela abre a jornada 12 da I Liga (20h15, Sport TV1)
🏁 F1: GP Catar, qualificação sprint (17h30, Sport TV4)

Sábado, 30
⚽ I Liga: Rio Ave-Moreirense (15h30, Sport TV1), Nacional-Boavista (18h, Sport TV1) e Sporting-Santa Clara (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Bundesliga, há jogo grande: Borussia Dortmund-Bayern Munique (17h30, DAZN1) e na Premier League o Arsenal joga em casa do West Ham (17h30, DAZN2)
⚽ O Botafogo de Artur Jorge joga a final da Taça Libertadores com o Atlético Mineiro (20h, Sport TV3)
🏁 F1: GP Catar, corrida sprint (14h, Sport TV4) e qualificação (18h, Sport TV4)

Domingo, 1
⚽ I Liga: Estoril-Famalicão (15h30, Sport TV2), Arouca-Benfica (18h, Sport TV1) e AFS-SC Braga (20h30, Sport TV2)
⚽ Na Premier League, o Manchester United joga com o Everton (13h30, DAZN1), em dia de Liverpool-Manchester City (16h, DAZN1)
🏁 F1: GP Catar, corrida (16h, Sport TV4)
🏀 NBA: Memphis Grizzlies-Indiana Pacers (20h30, Sport TV6)

Hoje deu-nos para isto

Ainda não passou sequer um mês do jogo do FC Porto com o AVS. Os dragões ganharam 5-0 e é possível que tenhamos estado perante a exibição mais interessante do FC Porto na era Vítor Bruno: pela primeira vez, conseguiu casar o nível exibicional do início da época com os reforços que chegaram mesmo a queimar o fecho do mercado.

Daí para cá, vários recordes negativos foram sendo abocanhados por uma equipa onde eles, geralmente, não são tolerados. A derrota frente ao Moreirense foi a terceira consecutiva, algo que não acontecia desde 2008/09 - curiosamente, o FC Porto seria campeão no final dessa época - e desde 2021 que os dragões não perdiam na Taça.

Mais do que as derrotas, a pouca competitividade da equipa será o que mais magoa o âmago portista, mas as reações exacerbadas apenas transpiram a intranquilidade de um clube onde a paz será um trabalho árduo, frágil durante um ror de tempo, depois de um traumático fim de ciclo. Dores da mudança toda a gente as tem, o FC Porto, por mais “raça” e “carácter” que tenha, não sai disto incólume, como o início da época fez parecer.

O real estado de sítio do dragão estará algures no meio, talvez a fanfarra inicial tenha sido coisa da inércia, de matéria corpórea ainda a quente, como aquelas fraturas que só doem horas depois. Mas o verdadeiro FC Porto também não será a desgraça das últimas semanas.

MANUEL FERNANDO ARAUJO

Tenha uma boa semana e obrigado por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.

E escute também o podcast “No Princípio Era a Bola”, esta semana com a análise aos jogos da Taça de Portugal e ao primeiro jogo de Ruben Amorim no Manchester United, como sempre com Tomás da Cunha e Rui Malheiro.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt