Numa crónica para o “El País”, momentos depois de nova conquista europeia do Real Madrid, o autor e jornalista Manuel Jabois conta uma curiosa história que se terá passado no casamento de Dani Carvajal, há dois anos - e dias depois dos merengues vencerem a 14.ª Champions. Escreve então Jabois que vários jogadores e dirigentes se reuniram casualmente à sombra de uma árvore para fugir ao calor e que, na conversa, surgiu uma questão metafísica muito pouco habitual num casamento. Alguém perguntou a Carvajal se havia “algo próprio do Real Madrid”, só daquele clube, que os jogadores sentissem em campo e lhes desse uma espécie de super-poder.
Naquela temporada, o Real Madrid chegou à final da Champions depois de ter estado em desvantagem em todas as eliminatórias, frente ao Paris Saint-Germain, Chelsea e Manchester City. Ao minuto 90 da 2.ª mão da meia-final frente ao City, o Real Madrid precisava de dois golos para forçar um prolongamento. Esses dois golos apareceram. À pergunta, Carvajal, que em miúdo foi escolhido para colocar a primeira pedra do centro de treinos de Valdebebas (foi pontaria, acaso, destino?), respondeu com a prosaica poética de um espanhol de gema: “Não sei se há algo ou não, mas os rivais acreditam que sim e isso é que é importante”.
Nesta quase vulgar assunção de um poder que não se toca, mas que se sente, há muito sobre a história de sucesso do Real Madrid na Liga dos Campeões: não é que os seus jogadores acreditem que há algo especial neles, mesmo que alguns desses jogadores (Carvajal incluído) tenham conquistado a prova seis vezes nos últimos 10 anos. Mas quem está do outro lado acha que sim. Há dois anos, o Liverpool fartou-se de falhar oportunidades na final de Paris, para na 2.ª parte Vinícius Jr. marcar o único golo do jogo. E este domingo, em Londres, o Borussia Dortmund, underdogzissímo na final, deixou o Real Madrid desconfortável como quase nunca num palco de Champions. Não matando na 1.ª parte, tanto o Liverpool como o Borussia deram-se à morte, deixaram-se invadir por essa aura não palpável de que, inexplicavelmente, a Champions está destinada àqueles rapazes vestidos de branco.
Saíram Cristiano Ronaldo, Sergio Ramos. Saiu, por fim, Benzema. E o Real Madrid continua a ganhar (“o escudo não sai”, escreveu Jabois, tão certeiramente), seja com golos aos 93 minutos ou com um lateral de 1,70m a ganhar um lance de cabeça a um calmeirão germânico. Agora vai sair Kroos, artista do simples, voador em chuteira branca (com dez anos). E é provável que o Real Madrid continue a ser o rei da Europa, por aura de uns e pânico cénico de outros, que ao primeiro acorde do hino da Champions já estão a perder. No passado sábado conquistaram a 15.ª, sente-se ao longe que mais cedo do que tarde virá a 16.ª, a 17.ª e por aí fora, quem sabe ainda liderados por Carlo Ancelotti, o impassível Carletto, o técnico com mais jogos e títulos na Liga dos Campeões (dois como jogador, cinco como treinador), o treinador que seria o Real Madrid se o Real Madrid fosse um humano.
Nos últimos 10 anos, o Real Madrid venceu mais Champions (seis) do que campeonatos nacionais (quatro). Olhando para o palmarés da Premier League, só Manchester United (20) e Liverpool (19) têm mais títulos ingleses do que o Real Madrid tem orelhudas no seu museu. Que aura é esta, Real Madrid? É uma simbiose inexplicável, maior que qualquer jogador, que qualquer treinador. É possível que seja esse o segredo.
O que se passou
Portugal está na final do Euro sub-17 após uma daquelas reviravoltas épicas que podem marcar uma geração. O jogo decisivo é na quarta-feira.
José Mourinho voltou ao ativo para treinar o Fenerbahçe. A apresentação em Istambul foi, naturalmente, louca.
A seleção nacional feminina de futebol está a uma vitória de regressar à Liga das Nações A.
O Olympiacos tornou-se na primeira equipa grega a conquistar uma prova europeia, ao ganhar em casa a Liga Conferência.
Rafael Nadal perdeu na 1.ª ronda de Roland-Garros e ainda não sabemos se terá sido a última vez que o vimos no Grand Slam de Paris.
Zona mista
Não passando de uma campanha orquestrada com o único e declarado propósito de me difamar, caluniar, procurando por todos os meios [...] assassinar o meu carácter
Vítor Bruno, que assim se defendeu em comunicado da polémica da semana, parece ser o homem escolhido por André Villas-Boas para suceder a Sérgio Conceição e algures no processo alguma coisa se perdeu. Como em tudo, haverá culpas e exageros de parte a parte, mas ver uma série de pessoas ligadas ao ainda treinador do FC Porto de quem nunca antes ouvimos um ai a falar de forma orquestrada na comunicação social diz muito sobre o nível a que isto chegou
O que aí vem
Segunda-feira, 3
⚽ O Euro 2024 está aí e começam os jogos de preparação: Alemanha - Ucrânia (19h45, Sport TV1), Inglaterra - Bósnia (19h45, Sport TV2)
🎾 Roland-Garros entra na segunda semana (9h30, Eurosport)
Terça-feira, 4
⚽ Portugal tem o primeiro encontro de preparação antes do Euro 2024, frente à Finlândia (19h45, RTP1). Acompanhe também o Itália - Turquia (20h, Sport TV2)
⚽ A seleção feminina volta a encontrar a Irlanda do Norte em jogo a contar para a Liga das Nações e qualificação para o Euro 2025 (19h, RTP2)
🚴 Terceira etapa do Critério do Dauphiné, uma das provas na antecâmara do Tour (2h10, Eurosport 2)
Quarta-feira, 5
⚽ Seguem os jogos de preparação para o Europeu: Dinamarca - Suécia (18h, Sport TV1), França - Luxemburgo (20h, Sport TV2) e Espanha - Andorra (20h30, Sport TV1)
Quinta-feira, 6
⚽ Países Baixos e Canadá jogam num encontro de preparação (19h45, Sport TV1)
Sexta-feira, 7
⚽ Alemanha - Grécia (19h45, Sport TV1) e Inglaterra - Islândia (19h45, Sport TV2) são dois dos jogos de preparação do dia
Sábado, 8
⚽ Portugal joga com a Croácia no Estádio Nacional (17h45, RTP1). Veja ainda o Espanha - Irlanda do Norte (20h30, Sport TV1)
🎾 Roland-Garros, final feminina (14h, Eurosport)
🏁 Fórmula 1: GP Canadá, qualificação (21h, Sport TV4)
Domingo, 9
⚽ Preparação Euro 2024: Itália - Bósnia (19h45, Sport TV1) e França - Canadá (20h15, Sport TV2)
🎾 Roland-Garros, final masculina (14h, Eurosport)
🏁 Fórmula 1: GP Canadá, corrida (19h, Sport TV4)
🚴 Termina o Critério do Dauphiné (12h, Eurosport 2)
Hoje deu-nos para isto
Por esta hora, boa parte dos jogadores portugueses que estarão no Euro 2024 já esticaram as pernas na Cidade do Futebol, já almoçaram e já carregaram o botão do modo estágio, já colocaram metafóricas duas linhas de tinta por baixo dos olhos, que nem rangers, já entraram em modo missão, uma missão que, se correr bem, só os entregará à vida normal daqui a mais de um mês.
Daqui até à viagem para a Alemanha, a 13 de junho, a seleção nacional terá ainda três jogos de preparação. O primeiro já esta terça-feira, frente à Finlândia. No sábado, o adversário é a Croácia e no dia 11 é com a Irlanda que se afinarão as últimas (poucas) dúvidas que Roberto Martínez parece ter neste momento.
Fora todas as críticas atiradas à convocatória de Portugal, quem devia estar, quem está e não se percebe porquê ou quem nunca teve oportunidades, questões físicas dizem-nos que talvez haja dúvidas num dos lugares da defesa e outro na frente. De resto, o onze de Martínez parece bem definido e surpresa será ver grandes surpresas nos titulares que entrarão para a estreia de Portugal no Euro, a 18 de junho, frente à Chéquia, em Leipzig.
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