As plantações brotam com mais facilidade em alturas específicas do ano, com condições que estimulam o seu desenvolvimento. Portugal, cheio de jogadores que são frutos para colher no futuro, não reagiu bem ao calor de Larnaca, no Chipre, e deu 50 minutos de avanço à Sérvia. Desde esse momento até ao final, o sol foi só mais uma testemunha de que estes meninos conseguem brilhar mais do que ele.
Começou por ser um choque entre balas e bolinhos. Num torneio para meninos, a Sérvia trouxe gente grande, jogadores corpulentos, sólidos, oposição robusta ao intuito até certo momento quebranto de Portugal em regressar à final do Europeu sub-17, onde esteve em 2003 e 2016 e venceu. Os disparos que pareciam fatais trouxeram à tona uma equipa à prova de bala.
Na meia-final, Geovany Quenda abriu o jogo a levar a bola a chocalhar na barra. Do ponto de vista da técnica, as diferenças para a Sérvia eram poucas. Isso provou-se de novo assim que Portugal criou uma nova oportunidade flagrante. Cardoso Varela, de 15 anos, que joga de penso descongestionador no nariz para refrigerar o corpo com mais facilidade, cortou a respiração a quem o via ir isolado direto à baliza. Também o jovem extremo deve ter ficado sem ar, porque faltou força ao remate.
Diogo Ferreira desgastou mais vezes do que o desejável o material almofadado das luvas. Rankovic, um tipo dinâmico que acelerava sempre que a construção paciente dos sérvios lhe dava condições para, aberto na esquerda, deixar um rasto de destruição diagonal, era o nome em maior destaque no encontro, a par do avançado Cvetkovic. A exuberância de ambos teve efeitos práticos.
Cvetkovic inaugurou o marcador após uma tabela com Makevic de deixar a cabeça a andar à roda. A reação portuguesa foi tímida, mas contemplou uma investida de Gabriel Silva que acabou com um remate de Rodrigo Mora travado em cima da linha de golo. Com mérito, a Sérvia chegou ao segundo. Cvetkovic girou o centro do jogo para a esquerda onde Rankovic rematou. A defesa de Diogo Ferreira acabou rechaçada por Eduardo Felicíssimo para dentro da própria baliza.
Portugal teve que sofrer com duas bolas nos postes antes de, a partir dos 50 minutos, dominar por completo a congénere. Gabriel Silva reduziu dez minutos depois dessa tendência se ter começado a verificar. A recuperação acabou por não acontecer tão rapidamente, muito por culpa da ineficácia demonstrada por Geovany Quenda e Afonso Patrão e situações onde, novamente, apareceram isolados perante o guarda-redes Vukasin Jovanovic.
Os sérvios desconstruíram a ideia de que perder tempo é coisa de jogadores experientes e foram ganhando fôlego para sobreviverem até o inevitável Rodrigo Mora desviar um cruzamento de Eduardo Fernandes e fazer o empate aos 89 minutos. O jovem prodígio do FC Porto, já em período de compensação, rematou junto ao poste, roçando a glória que chegou instantes depois. No quinto minuto de tempo adicional, o milagre apareceu. João Trovisco viu-se sozinho no coração da área e fez o 3-2 taumatúrgico a favor de um conjunto cheio de alma.
A corrida triunfante de Rodrigo Mora, de braços levantados para o topo, o sítio onde todos estes jogadores querem chegar, foi um desfile por entre corpos caídos de membros da comitiva portuguesa a festejarem e sérvios desolados. Na ponta final, sentiu-se um pouco do karma que atingiu os sérvios que festejaram com o “SIIIII” de Cristiano Ronaldo quando marcaram o 2-0. Mal sabiam o que vinha aí.
Portugal vai decidir o título contra a Itália. A squadra azzurra venceu a Dinamarca por 1-0 na outra meia-final.
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