Lúcia deixou todos a darem para este peditório e Portugal está perto de voltar à elite
PAULO CUNHA
A seleção nacional feminina bateu a Irlanda do Norte por 4-0 com um bis de Lúcia Alves e está a uma vitória de regressar à Divisão A da Liga das Nações. Carole Costa inaugurou o marcador e completou o pleno: três golos em três jogos. Com Catarina Amado também a contribuir, Portugal tem agora nove pontos e lidera o grupo 3
A felicidade depende das pequenas coisas. Lúcia Alves picou a bola por cima da guarda-redes e dinamitou uma catadupa de trejeitos embasbacados. Curioso que para isso lhe tenha bastado a ponta do pé. Tirou-nos as palavras, mas deu-nos um chapéu. Estaria longe de ser o único momento para sorrir.
Como se vê, o nível de Portugal está calibrado com as equipa de topo. Porém, quando lá esteve, não teve capacidade para se equilibrar. Em Leiria, contra a Irlanda do Norte, a seleção nacional fez mais uma exibição a pedir o regresso ao convívio com os residentes do rooftop da Europa.
Almofadada por vitórias frente a Malta (0-2) e Bósnia (3-0), a seleção nacional chegava na liderança do grupo 3 da Divisão B da Liga das Nações, competição que serve simultaneamente para apurar as equipas que vão disputar o próximo Europeu, em 2025, na Suíça. A vitória diante da Irlanda do Norte encerrou uma primeira volta de domínio que pode ter um contributo fundamental para o regresso à Divisão A e para manter em aberto o possível regresso a uma grande competição.
Carole Costa deixou um check nos três encontros com golos em todos eles. Um penálti, que nem foi cobrado com a exatidão que normalmente apresenta, adiantou Portugal na partida contra as norte-irlandesas. Rebecca McKenna deixou fugir Lúcia Alves e ficou sem opções mais viáveis para travar a jogadora do Benfica que não uma falta dentro de área que proporcionou o castigo máximo.
PAULO CUNHA
O selecionador nacional via Portugal dar-se bem a pressionar alto. O comportamento reguila da Irlanda do Norte, a tentar sair constantemente de forma apoiada, quase levou a um “bem te avisei”. As jogadoras de Francisco Neto recuperaram frequentemente bolas no meio-campo ofensivo que não conseguiram transformar em mais golos.
Em organização ofensiva, Portugal ultrapassava com facilidade o quadrado que a Irlanda do Norte montava no meio-campo. Tanya Oxtoby, a selecionadora que foi adjunta de Emma Hayes no Chelsea, recorreu a um 5X2X2X1 que era desbloqueado pelas Navegadoras na zona de intervenção de Jéssica Silva e Lúcia Alves. Foi notória tal tendência logo no primeiro minuto. Foi aí que Telma Encarnação cabeceou fraco numa posição perigosa. A madeirense que tem sido alvo de querela por existir a possibilidade de deixar o Marítimo e protagonizar a primeira transferência, com dinheiro envolvido, de sempre entre clubes portugueses no futebol feminino.
A vantagem solidificou-se na primeira parte, deixando reservada para a etapa complementar a expectativa de espreitar o protagonismo que as duas novidades na convocatória, Stephanie Ribeiro e Beatriz Cameirão, poderiam vir a ter. Os mais de 10.000 espetadores foram lesados se desse entusiasmo foram vítimas. Como moeda de troca, Portugal ofereceu mais espetáculo. A seleção nacional continuava a insistir pelo lado direito, mas de forma mais prática. No golo de Lúcia Alves, foi Andreia Jacinto a lançar a flanqueadora, no golo de Catarina Amado, o terceiro da noite, foi Carole Costa a assistir.
PAULO CUNHA
Com a entrada de Catarina Amado, Lúcia Alves migrou para o lado esquerdo. O impacto que manteve demonstrou que era mesmo ela o fator-x do jogo. A um gesto sublime na primeira parte juntou um golo de picareta, conseguido à base da força bruta e do esgravatar numa defesa norte-irlandesa desmoronada. De certeza que a internacional portuguesa não abdicaria de nenhum.
Um remate de Andreia Norton à barra, um par de lances em que o ataque pecou na definição e o resultado podia ter sido ainda mais elevado. De qualquer modo, nove golos marcados e nenhum sofrido em três jogos não parece um mau registo. Acima de tudo, Portugal está a uma vitória de regressar à Divisão A da Liga das Nações (o apuramento para o Euro vai depender de outros fatores). Avizinha-se novo confronto com a Irlanda do Norte, desta vez, fora de portas.