Tribuna 12:45

Estoril Open, o PIF ou o fim das raízes do desporto

Jannik Sinner tem a companhia do logo do fundo soberano da Arábia Saudita no torneio de Miami
Brennan Asplen

No fim de semana, dando um olhinho rápido ao jogo de Jannik Sinner no torneio Masters de Miami, um dos mais importantes para lá dos quatro majors do ténis, reparei que no painel publicitário no fundo do court, lugar privilegiado para as transmissões televisivas, não estava apenas o habitual logo de uma instituição bancária brasileira que há muito apoia o torneio, mas também a sigla PIF. Infelizmente, não se trata do simpático bar de vinhos do meu bairro com o mesmo nome, passo a propaganda que faço por gosto e não por interesse, mas sim, perdoem-me o estrangeiro, das iniciais do Public Investement Fund, ou seja, o fundo soberano do reino da Arábia Saudita.

Em fevereiro, a ATP anunciou o que chamou de “parceria estratégica” com o fundo que tem ajudado Riade a lavar mais branco com desporto o seu inefável registo ao nível dos direitos humanos. A Arábia Saudita está no futebol, na Fórmula 1, no boxe, em tantas outras modalidades. Criou um turbilhão no golfe com a criação da LIV, uma liga para concorrer com o PGA Tour e que levou ao desertar de muitas estrelas dos tacos, em busca dos petromilhões que as competições tradicionais não conseguiam dar. É possível que a ATP, uma das promotoras do ténis, neste caso a nível masculino, se tenha antecipado a uma qualquer OPA hostil do estado saudita depois de perceber que muitos tenistas já ali paravam para jogar milionários torneios de exibição. Se não os podes vencer, junta-te a eles.

O PIF, o fundo não o bar, já tem o seu nome ao lado do ranking mundial do ténis masculino e também abocanhou o naming de vários torneios importantes. As Next Gen ATP Finals presented by PIF (adicionar o ‘R’ de marca registada) serão realizadas em Jeddah no final do ano. No futuro, não será de admirar que a Arábia Saudita organize outros torneios ATP. Ou os seus próprios torneios.

É impossível dizer que uma coisa está relacionada com a outra, mas ao ter de lutar pela sua sobrevivência, pela sua relevância enquanto organizador, a ATP está em processo de aburguesamento. O calendário para 2025 conta-nos várias histórias, a primeira que há mais ATP 500 e quase todos os Masters 1000 terão agora praticamente duas semanas, aproximando-se em duração dos torneios do Grand Slam. São estes os torneios que chamam os grandes nomes, que têm as finais que todos querem ver. Do ponto de vista comercial e da exposição da modalidade, faz sentido. Mas isso deixa cada vez menos espaço para o fim da cadeia alimentar, os ATP 250, muitas vezes ignorados pelos jogadores de topo (a não ser que haja ligação emocional ou um convite endinheirado pelo meio), mas essenciais para os países que os organizam e tenistas de classe média manterem a chama competitiva, sonharem com vitórias. E o Estoril Open, único torneio ATP organizado em Portugal, foi uma das vítimas da falta de espaço.

Dos vários torneios que não encontraram uma nesga no apertado Excel de semanas de competição, o Estoril Open foi o único a receber uma menção do comunicado da ATP que anuncia as mudanças para 2025. O highly regarded torneio, escreve a ATP, algo que se pode traduzir como “muito respeitado”, ainda pode encontrar uma solução algures no calendário. Confirma a ATP e João Zilhão, diretor do torneio, que para já pouco avança. Perante isto, é legítimo ter esperança que haja ténis ao mais alto nível em Portugal no próximo ano, mesmo que não no formato que conhecemos vai para quase 35 anos, data do primeiro Estoril Open, ainda no Jamor.

Mas a notícia do possível fim do Estoril Open, e para já é isto que está em cima da mesa, o que seria terrível para o ténis e desporto português, serve de muleta e contexto para uma discussão muito maior. E ela é: quanto tempo temos até o desporto deixar definitivamente de ser essa coisa bonita, universal, democrática, culturalmente relevante, para ser apenas um privilégio de uns quantos ricos, de uma elite endinheirada mas sem raízes?

À falta de melhor garantia, aproveitemos o Estoril Open de 2024, que arranca no final desta semana. Uma edição que já era especial, por marcar o adeus do melhor tenista português de sempre, João Sousa, pode também ser uma semana de nostalgia, porque parece não haver maneira de travar este comboio desgovernado de dinheiro que passa por cima de tudo.

O que se passou

Miguel Oliveira logrou escalar ao top 10 do GP Portugal de MotoGP, em Portimão, onde o português diz ter sentido um apoio fora do comum.

Quinze dias depois de uma operação ao apêndice, o desempregado Carlos Sainz foi down under para vencer o GP Austrália, onde, incrivelmente, Max Verstappen nem sequer terminou.

Partiu, com apenas 57 anos, António Pacheco, antigo jogador do Benfica e Sporting.

Zona mista

Parece-me cada vez mais evidente que algumas pessoas, de certa forma, se estão cada vez mais a aproveitar da debilidade do presidente e, digamos assim, da sua incapacidade

André Villas-Boas, em entrevista ao “Público” e Renascença, juntando esta a um rol de declarações de parte a parte que nos dizem que isto até finais de abril, data das eleições do FC Porto, vai ser quentinho, quentinho.

O que aí vem

Segunda-feira, 25
⚽ A semana internacional segue com jogos de preparação: Chipre - Sérvia (17h, Sport TV1) e Suécia - Albânia (18h, Sport TV2)
🎾 ATP e WTA 1000 de Miami, ao longo de toda a semana (15h, Sport TV e Eleven)
🏀 NBA: Cleveland Cavaliers - Charlotte Hornets (23h, Sport TV2)

Terça-feira, 26
⚽ Portugal joga na Eslovénia (19h45, RTP1 e Sport TV1) e conhece o seu último adversário no Euro 2024, que sairá do jogo entre Geórgia e Grécia (17h, Sport TV1)
⚽ Ainda no playoff de apuramento para o Euro 2024, siga o País de Gales - Polónia (19h45, Sport TV5). Já na preparação para a prova, siga o Inglaterra - Bélgica (19h45, Sport TV3), o Alemanha - Países Baixos (19h45, Sport TV4) e o Espanha - Brasil (20h30, Sport TV2)
⚽ A seleção sub-21 de Portugal defronta a Croácia em jogo de qualificação para o Euro 2025

Quarta-feira, 27
⚽ Na Liga dos Campeões feminina, o Benfica tenta em Lyon reverter a derrota por 2-1 da 1.ª mão dos quartos de final (17h45, TVI)

Quinta-feira, 28
🤾 Liga dos Campeões de andebol: Orlen Wisla Plock - PSG (19h40, Sport TV3)

Sexta-feira, 29
⚽ Regressa a I Liga: Gil Vicente - Famalicão (15h30, Sport TV1), Benfica - Chaves (18h, BTV) e Estrela da Amadora - Sporting (20h30, Sport TV1)
🥋 Judo: Grand Slam de Antalya (14h, Sport TV6)

Sábado, 30
⚽ I Liga: Vitória - Moreirense (15h30, Sport TV1), Arouca - Farense (15h30, Sport TV3), Boavista - Rio Ave (18h, Sport TV1) e Estoril - FC Porto (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Serie A, a Lazio recebe a Juventus (17h, Sport TV2), na Alemanha há um Bayern - Borussia Dortmund (17h30, Eleven 2) e em Inglaterra o Man. United joga em casa do Brentford (20h, Eleven 1)
🎾 WTA 1000 Miami, final (19h, Eleven 4)

Domingo, 31
⚽ O Casa Pia joga em casa do Vizela (18h, Sport TV1), na I Liga
⚽ Na Premier League, o Liverpool recebe o Brighton (14h, Eleven 1) e, no jogo grande da jornada, o Manchester City joga com o Arsenal (16h30, Eleven 1)
🚴 Um dos monumentos do ciclismo: Volta à Flandres (15h45, Eurosport 1)
🎾 ATP 1000 Miami, final (20h, Sport TV3)

Hoje deu-nos para isto

A janela internacional de março pode ser incómoda para quem já tem o destino definido. Portugal estará no Euro 2024, depois de uma qualificação sem mácula, enquanto outras equipas ainda lutam pelos derradeiros lugares na competição continental. E há ainda as que já não podem nem uma coisa nem outra - o que ainda é mais incómodo. Jogar contra a Suécia teria o objetivo de encontrar uma seleção à procura de se redimir depois de falhar o objetivo de estar no Europeu, mas o particular de quinta-feira jogou-se a um ritmo tão baixo que é possível que pouco se tenha tirado além de uma vitória expressiva (mas com golos sofridos) e mais alguns momentos de futebol maravilha, de esplendor ao primeiro toque, ajudado pelo pouco entusiasmo dos nórdicos - já sobre o equipamento-azulejo teria também muito a dizer, mas isto não é uma newsletter sobre moda.

Esta terça-feira, com um onze que será radicalmente diferente, Portugal poderá encontrar outra oposição na Eslovénia, que em casa (e depois de se qualificar para o Euro) não terá grande vontade de servir de salão de festas para a seleção de Roberto Martínez, que continua sem jogar frente a equipas do top 15 europeu e mundial. Talvez março não seja mesmo a melhor altura para o fazer, mas dando um olhinho à agenda aqui acima, vemos um Inglaterra - Bélgica, um Alemanha - Países Baixos ou um Espanha - Brasil. O verão irá revelar-nos se vamos ser surpreendidos ou se vamos surpreender quando estes confrontos chegarem.


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