No Algarve, é para acelerar até ao top-10: Miguel Oliveira acabou em 9.º lugar no Grande Prémio de Portugal
PATRICIA DE MELO MOREIRA/Getty
Ganhou três posições logo no arranque, passou a corrida a perseguir Fabio Quartararo e, mesmo a terminar, esgueirou-se entre quem o ultrapassara pouco antes para ficar com o 9.º lugar. Na prova conquistada pelo espanhol Jorge Martín - e outro, Pedro Acosta, a ser o terceiro mais novo da história a conseguir um pódio no MotoGP -, o português Miguel Oliveira ficou no top-10, prestação que na véspera dissera que, “na verdade, não [seria] um mau resultado”
Vivalma era capaz de dar uma alfinetada e rebentar a bolha de concentração de Miguel Oliveira. Imóvel na cara, inerte que nem estátua, o português tinha o boné posto e os óculos escuros a taparem-lhe a vista, ele sentado na moto e o pai ao seu lado e uma mulher a segurar um chapéu para o proteger dos raios de sol que se esquivavam pelo céu nublado, nessa inversão do cavalheirismo praticada para dar sombra a cada piloto na grelha de partida. Após o mundo se mostrar ali ao contrário, as celebridades se passearem pela pista e Áurea cantar o hino nacional, Miguel Oliveira pôde dar vazão à sua compenetração.
A corrida no Algarve arrancou com todos os pilotos com a mesma escolhe de pneus à frente e atrás das motos e o português fez bom uso da sua Aprilia, zarpando por entre máquinas na partida. Galgou quatro lugares, da 15.ª para a 11.ª posição e aguentando o posto na primeira volta em que o italiano Franco Morbidelli teve um percalcço e o espanhol Álex Márquez deslizou alcatrão fora. O Grande Prémio de Portugal começava acidentado e liderado pelos espanhóis que proliferam no MotoGP, com Jorge Martín e Maverick Viñales na dianteira, nada de novo na disputa pela glória.
No sobe e desce das colinas do autódromo, Miguel Oliveira esgueirou-se para o 10.º lugar com menos de 20 percursos de pista por fazer, acelerando para o seu melhor tempo na volta seguinte. O português aparentava estar embalado para algo grande, um desempenho mais consentâneo ao que as expectativas lhe auguram e ao quão ele se tem em conta. “Eu creio que no domingo vou conseguir encontrar o caminho para lutar pelo top-10 e, na verdade, não será um mau resultado”, dissera ele, na véspera, pelos vistos com razão porque ia mordendo os calcanhares de borracha de Fabio Quatararo, o italiano que tinha à sua frente.
Steve Wobser/Getty
A meio da corrida, ia Jorge Martín mantendo a sua liderança sem problemas, o entusiasmo da tirada era gerado um pouco mais atrás. No encalço do pódio, Francesco Bagnaia partilhava uma luta feroz com Pedro Acosta, o italiano bicampeão mundial e o espanhol a revezarem-se no 4.º lugar. Pelos ouvidos de ambos entravam, por certo, informações de que esse seria o maior pico a que podiam escalar dado que a diferença para o terceiro posto de Enea Bastianini rondava os dois segundos à entrada do último terço da prova. A corrida deles era aquela, tinha de ser.
A de Miguel Oliveira mantinha-o na missão que o demorou mais de 10 voltas a cumprir, só com sete para o final arranjou forma de contornar Fabio Quartararo, antes do Grande Prémio o piloto de Almada também disse que sabe ter “habilidades para ser rápido” e que “é frustrante” não conseguir ser, outra bicada dada à Aprilia na qual monta. Nos dias antecedentes à corrida, a moto tinha isto ou aquilo, falhava-lhe neste pormenor e noutros, Miguel apontava-lhe falências. Com quatro voltas por cumprir, algo nela ou nele se passou quando foi ultrapassado de uma assentada por Quartararo e Aleix Espargaró, caindo para a 12.ª posição.
Mais por diante, na acessa luta pelos pontos que sobrariam do pódio, Pedro Acosta lá arranjou maneira de se esquivar de ‘Peco’ Bagnaia, que seria brevemente alcançado pelo mais titulado e azarado do MotoGP. Com os seus oito títulos mundiais, Marc Márquez, o fustigado por lesões nos últimos, sofreria a quarta queda deste fim de semana quando o italiano, ao ver-se ultrapassado por ele, lhe tocou na traseira da moto arrastando ambos para a gravilha. O espanhol acabou a barafustar e esbracejar. E já na última volta, a máquina de Maverick Viñales fez alguma ao espanhol, que também sumiu da pista.
PATRICIA DE MELO MOREIRA/Getty
Enquanto estas peripécias e baldrocas aconteciam na frente para serem Jorge Martín, Enea Bastianini e Pedro Acosta, por esta ordem, os primeiros a verem o xadrez da bandeira agitada por José Mourinho na reta da meta, Miguel Oliveira canalizou as suas melhores habilidades para se vingar de quem o ultrapassara: o português terminaria a corrida no 9.º lugar, portanto, “na verdade, não será um mau resultado” como antevira no sábado. Depois da 15.ª posição no Catar, o português acabou a segunda corrida da temporada entre os pontos.
Quando encostou a sua Aprilia às boxes, abeirou-se da pista, pôs-se de pé no muro que a ladeia e acenou ao barulhento público que vibrava face ao seu cumprimento. Depois, olhou para um lado e outro, prudente antes de atravessar a estrada e caminhou na direção da bancada para presentar os adeptos com as suas luvas. A retribuir carinho com afetos, assim terminou Miguel Oliveira, carinhoso no desfecho do melhor resultado da época e bastante melhor do abandono a que foi forçado o ano passado, quando Marc Márquez o abalroou para fora de pista, acidente que deixou mazelas no corpo do português.
A domar uma moto a ser limada por uma equipa imberbe, a Trackhouse Racing, que nem contava estar já este ano no MotoGP, o piloto de Almada registo em casa um resultado animador. Aos 29 anos, esta época poderá não ser a mais providenciadora de alegrias nos resultados, mas, em Portimão, logrou uma prestação que, pelo menos, servirá de alento para as muitas corridas que faltam no calendário.