A melhor versão de João Almeida talvez nunca tenha aparecido na Vuelta 2022. A sua preparação foi condicionada pelo positivo a covid no Giro, o próprio admitiu que não estava no topo das suas capacidades e, para cúmulo, houve situações peculiares, como o engano no percurso do contra-relógio, que o prejudicaram.
Ora, que um ciclista de 24 anos termine em 5.º numa grande volta em que não esteve na sua melhor forma talvez seja o melhor elogio que pode ser feito às qualidades de João Almeida. Durante anos e anos, Portugal suspirou por um corredor que estivesse perto dos melhores nas principais corridas por etapas e agora tem um que, dando a sensação de ter bem mais no seu corpo para dar, acaba em 5.º, isto depois de já ter isto 4.º no Giro em 2020 e 5.º na corsa rosa um ano depois.
Na etapa 20 da corrida espanhola, o caldense foi 9.º, a 17 segundos de Richard Carapaz. Carlos Rodríguez, que ocupava a 5.ª posição da geral, perdeu tempo, tal como era esperado pelas limitações físicas decorrentes de uma aparatosa queda há dois dias. Almeida aproveitou, ganhou 1,6 minutos ao espanhol e, assim, fecha a sua primeira participação na Vuelta bem perto do pódio, aquele objetivo que persegue para quebrar um jejum nacional que dura desde que, em 1979, Joaquim Agostinho foi 3.º na Volta a França.
João Almeida a carregar a elite da Vuelta: Ayuso, López, Evenepoel e Mas na sua roda
Tim de Waele/Getty
A sensação foi que, ao longo da Vuelta, João Almeida foi subindo de forma e na classificação como o faz nas montanhas. A ritmo, pouco a pouco, sem ir nos esticões e repelões de outros mas sempre firme, combativo, anulando desvantagens.
Na etapa 20, com Enric Mas a ter de tentar recuperar os 2 minutos de desvantagem que tinha para Remco Evenepoel, a Movistar do espanhol prometeu movimentações. No entanto, as tímidas movimentações da equipa da casa mal arranharam o belga que, sólido, chegou sem problemas à meta no grupo dos favoritos.
Com a última jornada de consagração em Madrid à espreita, não restam dúvidas de que esta Vuelta será o do assumir definitivo do homem da Quickstep como fenómeno indiscutível das bicicletas mundiais.
Miguel Ángel López, o colombiano em 4.º na geral, tentou atacar a 3.ª posição de Ayuso, o jovem espanhol que leva os seus compatriotas a sonharem com um sucessor de Alberto Contador. A UAE-Emirates, de Ayuso e Almeida, defendeu-se a preceito, conseguindo colocar o corredor de ainda 19 anos no pódio.
Mais à frente, Richard Carapaz entrou na fuga do dia, inicialmente, para assegurar a classificação da montanha. Homem talhado para discutir as principais corridas do mundo — venceu o Giro em 2019 e foi 2.º este ano —, o equatoriano não teve capacidade para andar com os melhores nesta Vuelta, pelo que, na segunda metade da corrida, focou-se noutros objetivos.
Carapaz conseguiu os pontos de que precisava para garantir a camisola de rei dos trepadores. Pelo caminho, foi deixando os seus companheiros de escapada para trás, resistindo à perseguição dos homens da geral. Ergueu os braços pela terceira vez nesta Vuelta.
Rei da montanha, Carapaz celebra o triunfo na terceira etapa desta Vuelta
OSCAR DEL POZO CANAS/Getty
Para João Almeida, continua o caminho da consistência e regularidade nas grandes voltas: 4.º no Giro 2020, 6.º no Giro 2021, desistência por covid-19 no Giro 2022, 5.º na Vuelta 2022. Desde 1974, quando Joaquim Agostinho foi 2.º, que nenhum português terminava tão acima na corrida espanhola.