Um quarto de século depois, o treinador de 62 anos regressa ao Benfica para suceder a Bruno Lage. No meio do clima eleitoral, tem a missão de devolver os bons resultados (e, se possível, qualidade exibicional) à Luz. O Special One fica ligado aos encarnados até 2027
O ano era 2000. José Mourinho era pré-tudo: pré-campeão europeu, pré-Special One, pré-grisalho. Não havia nada naquele jovem técnico, a usar os fatos de treinos da época, que estivesse cumprido a não ser o carisma.
Tinha apenas 38 anos e julgava-se pela primeira vez capaz de ser treinador principal. Não fez mais do que 11 jogos. “Como nos sentíamos treinadores a prazo, apresentámos à direção uma proposta para renovarmos por uma época, mas esta foi rejeitada.” É assim que aparece citada na imprensa de então o depoimento do frontal setubalense que pôs fim ao fogacho do seu primeiro trabalho a solo.
José Mourinho chegou ao Benfica pela mão de João Vale e Azevedo e substituiu Jupp Heynckes. As eleições desse ano tornaram Manuel Vilarinho presidente do clube, dirigente que tinha anunciado ver em Toni a figura ideal para ocupar o banco. Como que exigindo uma demonstração de confiança, Mourinho sugeriu (para si e para Carlos Mozer) um novo vínculo, ideia que não agradou ao líder máximo da estrutura.
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A politiquice contaminou a sua primeira passagem pelos encarnados e não é descabido que também afete a segunda. A saída de Bruno Lage foi anunciada a 38 dias das eleições para a presidência do Benfica, marcadas para 25 de outubro. Para já, nenhum candidato surgiu de mão dada com qualquer técnico. No entanto, considerando as recentes críticas à gestão desportiva de Rui Costa, não é de estranhar que a escolha possa não ser consensual e exija retoques se houver mudanças no topo da hierarquia das águias. Certo é que a ligação de Mourinho à Luz está prevista terminar apenas em 2027.
A substituição de Bruno Lage já estaria a ser equacionada mesmo antes do empate com o Santa Clara (1-1) e a derrota com o Qarabag (3-2). “Temos as nossas preparações”, admitiu Rui Costa na fatídica noite de adeus ao treinador de 49 anos. O sucessor, estabeleceu, deve ser alguém com um perfil “ganhador, que represente um clube desta dimensão e com capacidade para pôr a equipa nos patamares exigíveis”.
Namoro antigo
Após ter sido despedido do Fenerbahçe devido à eliminação no play-off da Liga dos Campeões frente ao Benfica, José Mourinho disse que só queria “ir para casa ver o Sporting-FC Porto e jantar com a família”. A serenidade de um desempregado pouco aflito sai reforçada pela quantidade de vezes que o seu nome tem sido associado a propostas de trabalhos em Portugal.
Além do cargo de selecionador, que continua a ser ocupado por Roberto Martínez, a hipótese de orientar o Benfica já tinha sido colocada quando os maus resultados começaram a assolar Roger Schmidt. “Da minha casa ao Estádio da Luz, são 20 ou 30 minutos, tenho amigos com camarotes onde fui ver dois ou três jogos. Vocês começaram a fazer perguntas desse tipo já não vou. Lixaram-me com essas perguntas.” A curiosidade tornou-se natural quando o técnico de 62 anos marcou presença num Benfica-Gil Vicente, em 2024.
Gualter Fatia
Mais recentemente, voltou a ser questionado sobre o assunto. “Obviamente que acompanho o Benfica”, assumiu à Sport TV. “Creio que as pessoas não se lembram que fui treinador do Benfica. Foi há muito tempo e durou pouco. Foi um momento importantíssimo na minha carreira, fui pela primeira vez treinador principal. Acabou de uma forma estranha.”
As circunstâncias tornaram-se favoráveis para que o namoro virasse casamento. O “amigo” Mário Branco é agora diretor-geral para o futebol profissional do Benfica. Rui Costa descartou a influência da proximidade entre ambos na decisão.
O presidente do Benfica não quer “hipotecar a época” e daí ter decidido “mudar de rumo”. José Mourinho tem um desafio semelhante ao que Lage assumiu há 377 dias – influenciar a equipa com o avião já no ar –, mas irá em busca de um desfecho mais honroso, o que implica conquistar o campeonato.