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Largas agonias tiveram os 778 dias sem ganhar de Simona Halep

Largas agonias tiveram os 778 dias sem ganhar de Simona Halep
Eurasia Sport Images
Uma suspensão de quatro anos por doping, uma longa batalha judicial, a redução da suspensão por se confirmar a tese da defesa da tenista, lesões diversas: tudo sucedeu nos mais de dois anos em que a romena esteve sem vencer. Em Hong Kong, regressada ao circuito, a antiga líder do ranking ganhou pela primeira vez desde agosto de 2022 e disse que tal “significava o mundo” para si
Largas agonias tiveram os 778 dias sem ganhar de Simona Halep

Pedro Barata

Jornalista

Em outubro de 2022, a vida de Simona Halep mudou. A tenista romena, uma das melhores da sua geração, testou positivo a Roxadustat, uma molécula que estimula a produção de glóbulos vermelhos, sendo condenada a quatro anos de suspensão. Aos 31 anos, o castigo era mais uma sentença de reforma para a antiga líder do ranking WTA.

No entanto, Halep não parecia disposta a aceitar a pena, pegar nos cerca de €40 milhões que angariou em prémios de participação ao longo da carreira — em toda a história da modalidade, só as irmãs Williams ganharam mais em prize money — e partir para uma descansada vida fora dos courts. “É uma injustiça. Irei provar a minha inocência”, foi a primeira reação da mulher que ganhou Roland-Garros em 2018 e Wimbledon em 2019.

Arrancou, assim, uma longa batalha judicial. A meio dessa cruzada, em 2023, Halep disse estar a viver “o pior ano” da sua vida. Suspensa preventivamente desde 7 de outubro de 2022, a grande vitória de Simona surgiria no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), na Suíça.

Em março de 2024, a tese da defesa da romena foi dada como comprovada. O TAD decidiu que o teste positivo provinha de um “suplemento contaminado”, sendo as posteriores anomalias no passaporte biológico da jogadora uma consequência de uma “operação cirúrgica”. Assim, a pena foi reduzida de quatro anos para nove meses, o que significava que deveria ter terminado em julho de 2023, bem antes de março de 2024, quando se autorizou o regresso à competição. Halep foi, ainda, indemnizada em €21 mil.

“Este processo foi um teste à resiliência. O triunfo da verdade é uma vingança agridoce que, ainda que chegando tarde, é imensamente gratificante”, escreveu a tenista ao conhecer o veredicto.

O calvário de Halep não terminaria, ainda assim, com o regresso aos courts. Simona jogou em março, em Miami, perdendo contra Paula Badosa, mas a ausência da competição passou-lhe fatura, com diversos problemas físicos. Em maio, tentou voltar num challenger em Paris, mas retirou-se por lesão.

Depois de mais cinco meses afastada da competição, a romena, com 33 anos, voltou a jogar no WTA 125 de Hong Kong, onde pareceu recuperar o sorriso que estava ausente há dois anos.

Na ronda inaugural do torneio para o qual recebeu um convite para jogar, Halep, afundada na 1130.ª posição do ranking WTA, bateu a australiana Arina Rodionova (114.ª da hierarquia), por 6-2, 4-6 e 6-4. “Não consigo expressar por palavras o que sinto por estar novamente a competir e a ganhar, depois de tanto tempo, na modalidade que amo. Obrigada a todos pelo vosso apoio e amor”, expressou a romena, para quem ganhar 778 dias depois “significava o mundo”.

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A última vez que a romena estivera do lado vencedor da rede fora a 16 de agosto de 2022, em Cincinnati, contra Potapova . Demasiado tempo para quem, entre 2014 e 2022, esteve 16 vezes entre as oito melhores de torneios do Grand Slam, incluindo a presença em cinco finais de majors.

Na segunda ronda de Hong Kong, já esta quinta-feira, a inatividade de Halep notou-se naturalmente. A romena perdeu por 6-2 e 6-1 contra a russa Anna Blinkova.

As batalhas judiciais, no entanto, não terminaram ainda para Halep, que processou a Quantum Nutrition, empresa de suplementos alimentares que a tenista acusa ser a responsável pela sua suspensão. Simone pede uma indemnização por danos morais de €9,3 milhões, argumentando que a empresa foi negligente ao rotular o suplemento.

A antiga número um do mundo tomava o suplemento por orientação de Patrick Mouratoglou, seu treinador à data e ex-técnico de Serena Williams. Mouratoglou já afirmou sentir-se responsável por fornecer o produto a Halep, alegando que esta foi “uma vítima”. À Reuters, o fundador da empresa de suplementos disse que a Quantum Nutrition foi transformada num “bode expiatório” neste processo.

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