Ténis

Carlos entrou em modo super Alcaraz para vencer outra batalha épica contra Sinner

Carlos entrou em modo super Alcaraz para vencer outra batalha épica contra Sinner
Fred Lee
Numa final brutal em Pequim, decidida após 3 horas e 24 minutos, o espanhol bateu o italiano por 6-7 (6), 6-4 e 7-6 (3), conseguindo o terceiro triunfo em três duelos em 2024 contra o seu rival geracional. No tie-break decisivo, Alcaraz venceu sete pontos seguidos, adotando a sua mais espetacular versão
Carlos entrou em modo super Alcaraz para vencer outra batalha épica contra Sinner

Pedro Barata

Jornalista

Tudo é diferente quando Carlos Alcaraz e Jannik Sinner se defrontam. O court parece mais pequeno, tal a facilidade com que eles se movimentam de uma ponta à outra do campo. O barulho é diferente, porque a bola é esmagada, com pancadas brutais, ferozes. O público aguenta a respiração numa ruidosa espera, aguardando para lançar exclamações de admiração. O objeto amarelo atravessa a rede enfeitiçado, domado, ao serviço da magia e da arte.

Jannik tem 23 anos, Carlos 21, mas este é já um clássico. O duelo geracional do presente e do futuro. Por algum tempo, o ténis entra numa cápsula e mostra-nos como que um jogo paralelo, mais rápido, mais forte, mais virtuoso, a roçar o impossível.

Numa final fantástica, Alcaraz venceu o ATP 500 de Pequim. Na segunda vez que ambos discutiram um encontro de atribuição do título, depois de Umag 2022, o murciano impôs-se por 6-7 (6), 6-4 e 7-6 (3), num duelo até à exaustão, que tardou 3 horas e 24 minutos para ser decidido.

O balanço particular entre os dois está, agora, em seis vitórias para Alcaraz e quatro para Sinner. No entanto, em 2024 a superioridade é claramente do espanhol, que venceu os três confrontos desta saga de físico e inteligência, de competitividade e subtileza, de ténis nos limites.

Alcaraz tem dito que tem de aprender a controlar-se melhor, a contrabalançar melhor o ímpeto da genialidade com a necessidade do pragmatismo. A ser um pouco mais Sinner, podemos acrescentar.

Quiçá essa ideia tenha vindo à cabeça do espanhol no final da primeira partida. Carlos entrou melhor, quebrou o serviço do seu adversário — que continua às voltas com as instituições anti-doping —, pareceu em velocidade de cruzeiro. Mas, subitamente, chegaram os erros, as inconsistências, o lado lunar do ténis de risco do espanhol.

Quando Alcaraz servia para vencer o set inaugural, fez um péssimo jogo de serviço e sofreu o break. Depois, teve um set point no saque de Sinner, mas não aproveitou. No desempate, voltou a estar à frente e voltou a não aproveitar. Partida inaugural para Sinner.

Sinner vinha embalado com 15 vitórias seguidas, mas Alcaraz reagiu bem. Foi melhor no segundo parcial, forçando um set decisivo.

Na terceira partida, a montanha-russa voltou. Carlitos começou melhor, quebrou o serviço do adversário, mas depois ofereceu um break em branco. É difícil não explicar estes duelos partindo do nível de Alcaraz, chegando depois ao de Sinner, porque tudo aqui parte do que Carlitos fizer, dos seus altos e baixos. Do outro lado, há uma planície exibicional italiana, tão consistente como a dimensão dos Alpes de onde vem.

O duelo seria decidido no tie-break. Uma final entre os dois craques no desempate. E, aí, Carlos sacou do modo super Alcaraz, do seu ténis de velocista com mãos de artesão.

O espanhol até perdeu os três primeiros pontos do tie-break, mas depois partiu para uma cavalgada triunfal, com um dos melhores pontos do ano incluído. Naquele momento, parece que se joga ténis sob carris, tal a velocidade, a perfeição dos sprints, a urgência em cada bola.

Conquistando os sete últimos pontos da final de seguida, Alcaraz chegou ao 16.º título da carreira. Antes da entrega do troféu, elogiou o adversário e mostrou-se radiante: “O Jannik voltou a demonstrar que é o melhor do mundo, é incrível, uma besta. Estou muito orgulhoso de mim mesmo.”

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