“Estou feliz que tudo tenha terminado. O caso não iria terminar se eu fosse culpado. Está feito, avancemos. Não quero ouvir mais perguntas sobre o assunto."
Foi com face cerrada e voz agastada que Alexander Zverev respondeu a várias questões na conferência de imprensa que se seguiu ao seu triunfo contra Casper Ruud (2-6, 6-2, 6-4 e 6-2) nas meias-finais de Roland-Garros. Depois de selar a presença na segunda final de um major na carreira — já estivera na do US Open em 2020 —, o clima em torno do campeão olímpico de Tóquio não era propriamente leve, não estava só ali em causa o duelo contra Carlos Alcaraz pela glória em Paris.
Isto porque, pouco antes da meia-final e na antevéspera da final, deram-se desenvolvimentos no caso judicial que tem marcado a carreira do alemão de 27 anos. Acusado por Brenda Patea, sua ex-namorada com quem tem uma filha de três anos, de violência doméstica, o dia em que derrotou Ruud foi, também, aquele em que se chegou um acordo para resolver o caso: Zverev pagará €200 mil, dos quais €150 mil irão para o Estado alemão e €50 mil para instituições sociais.
Em outubro, Sascha já fora condenado, neste caso de agressão, a pagar uma multa de €450 mil. Brenda Patea acusa Zverev de, durante uma discussão num apartamento de Berlim em maio de 2020, a ter empurrado contra a parede e estrangulado com ambas as mãos. A mulher disse em tribunal que teve dificuldades em respirar e dores na garganta durante vários dias. O tenista sempre negou estas alegações.
Por estar a competir em Roland-Garros, Zverev não compareceu nos últimos dias no julgamento em Berlim. Não obstante as declarações do alemão, o tribunal disse à “BBC” que "o veredicto não significa” que o jogador seja considerado “culpado ou inocente”.
O advogado de defesa do homem que já venceu 22 títulos ATP e chegou ao segundo lugar do ranking em 2022, sendo agora quarto, congratulou-se com o acordo, afirmando que este “coloca um fim nas alegações”, surgindo “pelo superior interesse da filha” do antigo casal.
Depois da multa de outubro, Zverev considerou essa decisão “uma completa treta”. Questionado sobre o facto de estar a competir em Roland-Garros enquanto decorria um caso contra si em tribunal, o alemão disse “acreditar no sistema de justiça”: “Acredito na verdade e sei o que fiz e o que não fiz. Acredito que essa verdade prevaleça e que não perderei o caso. É por isso que consigo jogar tranquilamente”, indicou.
O caso Olga Sharypova
Além de Brenda Patea, outra antiga companheira de Zverev acusou publlicamente o tenista de agressões. Em diversas entrevistas em 2020 e 2021, Olga Sharypova descreveu “um inferno” vivido ao lado do jogador.
Com Sascha a negar sempre as alegações, Sharypova foi relatando diversas episódios de “violência física e psicológica”. Em entrevistas à “Racquet” e à “Slate”, bem como em publicações nas redes sociais, a russa descreveu episódios de violência no US Open 2019, quando assegura que Zverev bateu com a cabeça dela na parede, na Laver Cup seguinte, quando, alegadamente, o tenista lhe deu “um murro na cara”, ou no Mónaco, quando o jogador a tentou “estrangular com uma almofada”.
Alexander Zverev, alemão filho de pais russos e Olga Sharypova, russa, conheceram-se num torneio de ténis nos Estados Unidos da América, quando ambos tinham 14 anos, em 2011, começando, nessa altura, um romance. Olga viria a deixar o ténis algum tempo depois.
Olga narra também violência psicológica exercida pelo tenista, que, segundo o relato da mulher, lhe dizia: "Tu não és ninguém. Nunca ganhaste nada na vida. Eu sou uma pessoa de sucesso, ganho dinheiro. Tu não és ninguém”.
Depois de muitas críticas devido à falta de ação da ATP, entidade que não tem uma política definida para casos de violência doméstica ou agressão, a organização abriu uma investigação quanto ao caso. Em janeiro de 2023, a empresa independente que conduziu o processo concluiu que não existiam provas suficientes para confirmar os abusos e o tenista não foi castigado.
No começo de 2024, Alexander Zverev foi votado para integrar o comité de aconselhamento de jogadores da ATP, uma escolha que mereceu diversas críticas. Apesar do silêncio dos tenistas masculinos quando ao tema, Iga Swiatek admitiu estar “desiludida” pela escolha: “Certamente não é bom que um jogador que enfrenta tais acusações esteja, de certa forma, a ser promovido”, disse a polaca, novamente campeã de Roland-Garros.
Zverev aparece com bastante destaque na série “Break Point”, da Netflix, a qual conta alguns dos bastidores do ténis. Nenhuma destas acusações de violência doméstica é referida.
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