Ténis

Tão diferentes, tão rivais: Carlos Alcaraz bate Jannik Sinner e vai jogar a final de Roland-Garros pela primeira vez

Tão diferentes, tão rivais: Carlos Alcaraz bate Jannik Sinner e vai jogar a final de Roland-Garros pela primeira vez
EMMANUEL DUNAND
Espanhol apareceu mais forte no final do tenso - mas nem sempre bem jogado - duelo com o italiano, na final antecipada do torneio. Os parciais de 2-6, 6-3, 3-6, 6-4 e 6-3, em mais um encontro muito equilibrado entre ambos, atestam bem que esta é rivalidade não do futuro, mas já do presente. Aos 21 anos, Alcaraz garante final em majors nas três superfícies, algo que nem Federer, nem Nadal ou Djokovic conseguiram na mesma idade

De há dois anos para cá, mais coisa menos coisa, Jannik Sinner e Carlos Alcaraz andam numa espécie de jogo do gato e do rato. Ora ganha um, ora ganha outro, o histórico entre os dois antes de Roland-Garros era de quatro vitórias para cada lado e só este dado explica bem que está aqui já não a rivalidade do futuro, mas sim um duelo bem do presente, entre dois jogadores distintos e extraordinários nas suas diferenças, físicas e tenisticas, e que nos encontros entre ambos têm oferecido quase sempre espectáculo - um dia far-se-ão longas e épicas compilações dos melhores pontos destes duelos.

E já sabemos que são jogadores com armas diferentes. Carlos Alcaraz, 21 anos feitos há coisa de um mês, é fúria, talento, um jogador completo, com um acervo de pancadas talvez nunca antes visto. Já Jannik Sinner, prestes a fazer 23 anos, é solidez, eficácia, alguém que parece sempre no controlo de si mesmo e do jogo, fortíssimo no fundo do court, mas longe de ser um jogador unidimensional. Um espanhol do sul, outro italiano do norte, que tem o alemão como primeira língua. Os dois, apesar da rivalidade, respeitam-se e são amigos fora do campo.

Sem Novak Djokovic, que abandonou lesionado, Alcaraz e Sinner jogaram assim a final antecipada de Roland-Garros, numa meia-final luxuriante. No papel, pelo menos. Na prática, o duelo foi sempre tenso, mas faltou-lhe a qualidade de outros encontros entre os dois. Talvez por saberem o que estava aqui em jogo: a possibilidade de chegar a uma final e ser o primeiro homem não chamado Rafa Nadal, Roger Federer, Novak Djokovic ou Stan Wawrinka a ganhar o Grand Slam francês nos últimos 20 anos.

Saiu por cima Carlos Alcaraz, em cinco disputados sets (2-6, 6-3, 3-6, 6-4 e 6-3), numa partida que nunca teve um vencedor óbvio e que foi quase sempre difícil de ler, tais foram as oscilações de confiança e nível de jogo de ambos os jogadores, muitas vezes dentro do mesmo parcial, do mesmo jogo até. Apenas no último set se viu mais constantemente os tenistas no seu melhor, dando o tal show que todos já esperamos quando estes dois ainda miúdos se encontram. Fisicamente, Alcaraz pareceu mais fresco na hora da decisão.

Até porque o início de encontro do espanhol foi perto do desastroso, com muita dificuldade em lidar com o ténis coriáceo de Sinner, com a profundidade de bola do longilíneo italiano. E sem conseguir disromper com a sua técnica estrelar. Sinner entrou com dois breaks e aproveitou o aparente nervosismo de Alcaraz para se colocar na frente, entrando também no 2.º parcial a quebrar o serviço ao espanhol.

Estava então Alcaraz na circunstância de se ver a perder por um set e 0-3 quando subiu o nível, num jogo taticamente muito variado, com os jogadores sempre à procura da melhor estratégia para se sentirem confortáveis, mas nem sempre a conseguirem. Com os winners a abandonarem Sinner e Alcaraz a aumentar em muito a percentagem de pontos ganhos no 1.º serviço, a contenda ficou empatada.

Seguiram-se dois sets muito equilibrados. No terceiro parcial, faltou a Alcaraz o instinto matador para acabar com o adversário depois deste ser assistido. Recuperado de aparentes cãibras, Sinner acabaria por colocar-se de novo na frente da partida, com o 4.º set a enfatizar o equilíbrio vivido em court, um equilíbrio feito não exatamente de ténis gourmet, mas de dois tenistas a tentarem combater os seus próprios erros. No único break point do parcial, Alcaraz converteu e puxou o encontro para um 5.º set.

Um 5.º parcial em que Alcaraz quebrou Sinner logo no início e pareceu sempre mais solto que o adversário, ainda que o nervosismo o tenha atacado aqui e ali, nomeadamente quando foi chamado a fechar o encontro. Ao terceiro match point, Alcaraz confirmou o regresso de um espanhol à final de Roland-Garros, um digno sucessor de Rafael Nadal. Com 21 anos, o murciano já tem final em torneios major em todas as superfícies, algo que Federer, Nadal e Djokovic não se podem gabar.

Para Jannik Sinner restará a consolação de, na segunda-feira, ser o novo número 1 mundial do ténis e a certeza que uma vitória em Roland-Garros chegará, mais cedo ou mais tarde. Alcaraz pode conquistar em Paris o seu 3.º título em torneios do Grand Slam, depois de US Open 2022 e de Wimbledon 2023. E uma final importante para o espanhol, vindo de uma primeira metade da temporada algo irregular, com problemas físicos e derrotas inesperadas. Vencer no major parisiense apagará parte desse sabor agridoce e Carlitos sabe disso. O festejo quase desesperado no final atesta-o bem.

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