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Missão cumprida na longa viagem rumo ao lado do mundo onde se quer estar

Portugal cumpriu na última jornada da fase de qualificação para o Mundial 2023, goleando (4-0) a Turquia e terminando o grupo H no 2.º lugar, posição que dá acesso ao (complexo) play-off que definirá as últimas seleções europeias que estarão na Austrália e na Nova Zelândia, numa competição em que a equipa nacional nunca marcou presença

Pedro Barata

Hernâni Pereira/FPF

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A vitória na Sérvia, tão nervosa quanto necessária, parecia o passo mais difícil de dar na dupla jornada internacional que definiria se Portugal continuaria a sonhar com uma inédita presença na fase final do Mundial feminino de 2023. No entanto, o fatalismo e pessimismo nacional poderiam levar a pensar que, depois de feito o que era mais complicado, aquilo que, na teoria, era mais fácil poderia acabar por complicar-se.

Na receção à Turquia, em Vizela, bastava ganhar para seguir para o play-off, mas a prudência poderia levar a acreditar que a utilização do verbo “bastar” seria pouco avisada. E a verdade é que, durante os primeiros 30 minutos, o guião da partida poderia corresponder a alguns receios.

Em 4-3-3, com Diana Silva aberta na direita, Kika descaindo na esquerda e Telma Encarnação no centro do ataque, Portugal teve um futebol pouco fluido, com dificuldades para quebrar a muralha defensiva das visitantes. Com poucas oportunidades, as exceções foram remates desenquadrados de Kika e Andreia Norton e uma cabeceamento de Diana Silva para defesa da guarda-redes Akgoz. Do outro lado, em contra-ataque, Uraz ameaçou Patrícia Morais, que substituiu Inês Pereira na defesa da baliza portuguesa.

Quando se entrava na parte final do primeiro tempo e alguns nervos poderiam começar a abalar a seleção nacional, o golo, o melhor desbloqueador que existe, apareceu através de uma jogadora única no futebol português. Telma Encarnação tem um feitio peculiar, por vezes parece alheada dos treinos ou dos jogos, mas tem um instinto goleador ímpar. Onde outras tricotam e tabela, ela remata; quando outras pensam no drible ou no adorno, ela só vê baliza.

Minuto 33, cruzamento de Diana Silva, movimentação à matadora, cabeceamento, golo. O 1-0 foi a expressão das qualidades da madeirense e um sacudir de quaisquer fantasmas que pudesse haver na cabeça das jogadoras de Francisco Neto.

Telma Encarnação cabeceia para o 1-0

Telma Encarnação cabeceia para o 1-0

Hernâni Pereira/FPF

Três minutos depois, Kika Nazareth, com um toque de calcanhar digno da sua intuição e qualidade técnica — e na sequência do qual se lesionou, tendo de ser substituída —, fez o 2-0, passando, a partir daí, o jogo a ser um calmo navegar de Portugal. Um auto-golo de Tag, aos 49', e um golaço de Andreia Faria, aos 79', selariam a goleada por 4-0.

Com a vitória, Portugal termina o grupo H na segunda posição, com 22 pontos, mais um que a Sérvia e menos cinco que a Alemanha. A equipa de Francisco Neto terá, agora, de enfrentar um play-off de acesso à competição que se disputará na Austrália e Nova Zelândia, lá do outro lado do mundo.

Desde o primeiro momento que Francisco Neto tinha definido que o objetivo era chegar à última jornada com a seleção a depender só de si e, cumprida essa meta e batida a Turquia, é altura de conseguir “estar onde queremos estar”, como qualificou Kika Nazareth, em entrevista à Tribuna Expresso, a vontade deste grupo em viver nos principais palcos do futebol.

Hernâni Pereira/FPF

A 9 de setembro, haverá um sorteio que definirá as equipas que Portugal terá de derrotar no play-off. Como Portugal não foi uma das melhores segundas, será preciso bater duas seleções, em dois encontros a uma mão cada. O primeiro está agendado para 6 de outubro e o segundo para 11 de outubro.

Destes play-offs sairão três equipas europeias. Essas três seleções serão ordenadas numa tabela classificativa, tendo em conta os resultados de toda a qualificação. A equipa que tiver menos pontos nessa classificação irá ter de disputar um outro play-off, desta feita com duas partidas frente a seleções de fora da Europa. Essa fase, que concluirá o longo caminho para o Mundial, terá lugar na Nova Zelândia.

Depois do 2-0 da primeira parte, o segundo tempo foi um tranquilo caminhar para Portugal. Andreia Faria fez um golo de levantar o estádio, Telma esteve perto de bisar, figuras importantes como Carolina Mendes, Dolores Silva ou Sílvia Rebelo ainda saltaram do banco.

Depois da presença no Europeu, Portugal consegue o objetivo de lutar até ao fim pela inédita presença no Mundial. O caminho da qualificação para a mais importante competição global é tão longo quanto a distância que nos separa da Austrália e da Nova Zelândia, mas é deste crescimento competitivo que a seleção precisa.