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Foi o “ano mais difícil” do enigmático Sérgio Conceição no FC Porto. E “amanhã começa uma nova era”

Foi o “ano mais difícil” do enigmático Sérgio Conceição no FC Porto. E “amanhã começa uma nova era”
ANTONIO COTRIM/Lusa

Na que poderá ter sido a sua última conferência de imprensa pós-jogo nos dragões, Sérgio Conceição confessou que esta foi a época mais difícil das suas sete no clube, como Taremi o tirou do sério e explicou de onde vem para enquadrar onde acaba muitas vezes - expulso, como no Jamor. Sem dar pistas sobre o seu futuro, o treinador foi enigmático até ao fim

Sem dúvida feliz, a cara não o esconde apesar do semblante fechado. Mas cansado, a fadiga transparece primeiro do que outra impressão qualquer. Pudera, pelo que Sérgio Conceição se deixa admitir. “Foi um ano dificil, o mais difícil destes sete anos, devo confidenciar.” O desabafo sai sem prenúncio, aparece no meio de uma das primeiras repostas que versa sobre as “muitas horas” que o FC Porto tira à sua família, tempo de pai e marido, e acerca da “alguma imaturidade” que já tocou noutras alturas da temporada. Não parece ser queixume sobre os seus jogadores, antes a constatação de uma evidência.

Eram quase 22h de uma noite fria no Jamor quando o treinador apareceu na sala de imprensa para a sua quiçá última conferência de imprensa pós-jogo no FC Porto. Vivalma na sala o saberia além de Conceição, do diretor de comunicação do clube que o ladeia e de Siramana Dembélé, o fiel adjunto na sua sombra desde o Nantes, quando trocaram França por um clube que “estava há quatro anos sem ganhar”. Curta em duração, a derradeira sessão perante jornalistas de Sérgio Conceição esta época é pródiga em pistas deixadas por ele. Fosse pelas defesas postas em baixo pela descarga de adrenalina de uma final com 120 minutos ou pelo consciente semeio de recados, fértil acabou por ser conferência.

A postura manteve-a o tempo tudo, imutável enquanto falava: cotovelos e antebraços estendidos na mesa, dedos das mãos entrelaçados à sua frente. O treinador sabe o que todo um povo saberá, para depois da final da Taça de Portugal se empurrou a conversa entre ele e André Villas-Boas, o novo presidente do FC Porto, e assim será. Mas ele não se adiou na ponderação. “É nos próximos dias. Mas na minha cabeça está decidido”, diz sem hesitar quando uma pergunta quer auscultar o seu futuro.

As suas reações, a postura, o relaxe no que deixa escapar, intuem uma despedida. O tempo que passa com os seus treinadores, mais jogadores e as respetivas famílias, no relvado do Jamor, bem para lá de uma hora após ele e Pepe erguerem a Taça no alto do Estádio Nacional, sugere vibes semelhantes - é um ciclo a fechar-se, pazes a serem feitos com o tempo e o que acabou de ser feito.

PATRICIA DE MELO MOREIRA/Getty

A candura do técnico na sala sugere-o. Confessa que é capaz de ter merecido várias expulsões que teve esta época e não critica, nem se revolta, contra a última, no Jamor. Não se quis desculpar, antes tentou explicar-se: “Sou extremamente competitivo, desde miúdo que aprendi a lutar muito pelos meus objetivos." Recorreu à nascença para endireitar o seu quadro: “Eu vim de uma aldeia perto de Coimbra, tenho origens extremamente humildes, tive sempre de lutar muito pelos meus sonhos. Gosto de melhorar todos os dias, sou muito exigente comigo próprio.” E acabou a lamentar o “triste” e “desgastante” que é ser repetente nas expulsões.

Enigmático até ao fim, menos filtros teve a lembrar como Itália era o destino de Taremi há muito e de como quis agarrar o jogador que decidiu a Taça de Portugal sem atenção à sua iminente saída sem um tostão de proveito para o FC Porto - o contrato do iraniano acaba no próximo mês -, os tostões que Sérgio Conceição garantiu que não exigirá ao clube caso também ele saia em breve, antes do seu vínculo terminar.

Falou das “muitas duras” que deu ao por vezes relaxado iraniano e das outras em que o avançado o “tirou do sério” pela postura nos treinos. Deseja-lhe sorte e felicidade. Do tusto que não levará do FC Porto caso saia muito em breve, se for mesmo essa a sina que Sérgio Conceição diz que já decidiu, ficámos sem saber. Sérgio Conceição foi um enigma até ao fim, seja esse o fim desta época ou o final de um ciclo de sete anos.

“Amanhã começa uma nova era para se preparar muita coisa", disse o treinador. E ficámos na mesma.


A quem dedica esta Taça?

“Tive a oportunidade de dedicá-la já no relvado à minha família, são muitas horas no FC Porto e, normalmente, quem paga é a família que está sempre em dificuldade porque queriam um pai mais presente, não ouvir tantas vezes no seu canal algumas opiniões que fogem da verdade, mas tudo se entende quando se ganha uma Taça de Portugal. Foi um ano difícil, o mais difícil destes sete anos, devo confidenciar. Foi demonstrativo do que não fizemos no campeonato, houve alguma imaturidade em certos momentos, mas jogadores com uma dedicação incrível.

O ano mais difícil que teve no FC Porto

“Tive de tomar decisões em que sofri com elas, mas tive de meter o clube em primeiro lugar, também o que se viveu com as eleições e a minha renovação… Foi muito difícil, mas foram sete anos a conquistarmos sempre, pelo menos, um título. Os adeptos, como são muito apaixonados e vivem muito do sucesso do clube, é normal que um ou outro, em casa, me está a criticar nas redes sociais. Mas faz parte, não é por aí que tomo as minhas decisões.”

Quando cheguei, o FC Porto estava há quatro anos sem ganhar. Voltámos a ter hegemonia no futebol português, este é o 11.º título em sete anos, igualámos o Benfica e o Sporting, temos o SC Braga aí à perna. Estou orgulhoso destes sete anos. Amanhã começa uma nova era para se preparar muita coisa.”

Quando vai decidir o futuro?

“Nos próximos dias. Mas na minha cabeça está decidido

Acabou a final da Taça expulso

“Não é às vezes, tenho sempre mau feitio… não tenho nada. Sou é extremamente competitivo, desde miúdo que aprendi a lutar muito pelos meus objetivos, eu vim de uma aldeia perto de Coimbra, tenho origens extremamente humildes, tive sempre de lutar muito pelos meus sonhos. Gosto de melhorar todos os dias, sou muito exigente comigo próprio. Não quer dizer que não houve momentos durante a época, e noutras, em que mereci ser expulso. Hoje, a expulsão teve que ver com eu sair da minha área técnica, isto numa final em que todos saímos uns metrinhos da área técnica. Quando vi que o Evanilson se magoou, fui quase até à bandeirola de canto, foi por isso. Se acho justo? Não, mas as regras são essas. Expulsou-me. Para mim é triste, é desgastante, mas a expulsão não teve nada de especial - o que teve, sim, foi eu não acabar a época onde gosto de estar, junto dos meus jogadores.”

Pepê como lateral

“Na primeira parte, até à expulsão, foi atrair do lado da bola e, do lado contrário, explorar a última linha do Sporting. Acho que quando o Francisco e o Galeno desequilibram com grande facilidade, chamam a eles, no mínimo, uma cobertura, e se tivéssemos feito isto com mais espaço para atacar - mais distantes da área -, teríamos criado mais. Uma ou outra vez conseguimos mais no corredor central com o Evanilson, mas muita da estratégia, em termos ofensivos, passou por esta postura para criar dificuldades e explorar o que acho que são as fragilidades do nosso adversário.”

A despedida de Taremi

“Desejar as maiores felicidades do mundo a ele e à família. O Taremi enervou-me muito nestes quatro anos, especialmente nos treinos, ele é muito profissional, mas, por vezes, de forma relaxada. Levou muitas duras, tirou-me do sério, mas acho que retirei o melhor do Taremi. Quando se soube da ida dele para Itália, a opinião dos sócios e dos adeptos não era a melhor. Mas a postura dele não mudou, se eu achasse que continuava a merecer, continuava a jogar até ao último dia e último minuto. Seria estúpido não aproveitar a qualidade do Taremi só porque vai embora no final da época.”

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