Tribuna 12:45

Portugal, um óbvio candidato a ganhar o Euro 2024

Portugal, um óbvio candidato a ganhar o Euro 2024

Pedro Barata

Jornalista

Soccrates Images/Getty

A relação entre a seleção nacional e as grandes fases finais foi mudando ao longo da história. Nas primeiras décadas dos Europeus e Mundiais, estar nestes torneios era, para Portugal, todo um acontecimento, quase uma expedição a um planeta desconhecido, um feito geracional. O talento e a fortuna poderiam levar a epopeias improváveis (1966 e 1984), momentos de orgulho para um país ainda cheio de complexos de inferioridade, mas a desorganização estrutural poderia conduzir ao desastre e caos (1986).

O crescimento estrutural do futebol português, as melhores condições de trabalho, a consolidação internacional da “geração de ouro” e a expansão dos torneios provocaram uma primeira alteração de paradigma. Da era dos ousados exploradores, em que um Europeu ou um Mundial eram um fenómeno cósmico raro, passámos para um ciclo de regularidade, encadeando diversas fases finais consecutivas pela primeira vez na história.

A seleção ganhou prestígio internacional e normalizou a ida aos maiores palcos. Vista como equipa de grande talento, Portuga era uma espécie de outsider de luxo, que poderia discutir os títulos sem que isso fosse uma enorme surpresa (2000, 2004 ou 2006), realizar prestações normais, nem especialmente boas nem marcadamente más (1996 ou 2008) ou, claro, falhar com estrondo (2002).

Quando a equipa nacional já tornara o que eram expedições a um planeta desconhecido em idas constantes a cenários familiares, um rapaz partiu da Madeira para agarrar a seleção pelo pescoço e torná-la parte fundamental do seu projeto de ambição infinita. E eis que chegou uma terceira fase, os anos em que a seleção era Ronaldo e Ronaldo era a seleção, uma relação que não se entende sem uma das partes. Com menor abundância de talento do que noutras alturas, houve 2012, quando Cristiano atou Portugal ao seu foguete de exploração dos Everestes da bola e quase chegou a uma final, 2014, quando uma lesão do avançado foi o começo da debacle, e 2016, a eterna 2016, o tão desejado título.

E chegamos aos últimos anos. A era da coexistência. A época do Ronaldo pós-trintão, do Cristiano da Juventus, do United 2.0 e do Al-Nassr, unido à abundância de talento de elite que não existia no auge do madeirense. Estar em Europeus e Mundiais já nem é sinal de regularidade, é mera formalidade exigida, mas 2018, 2020 ou 2022 trouxeram dúvidas e incertezas. Sim, havia, talvez, mais qualidade que nunca, mas, pela prisão à fórmula conservadora de 2016, por incapacidade de potenciar o talento ou seja pela razão que for, nunca tivemos um Portugal a abraçar convictamente a essência desta nova fase da seleção: aqui está uma das equipas com mais condições do mundo para ganhar títulos.

RODRIGO ANTUNES/LUSA

Portugal tem uma formação de elite, uma produção de talento que causa inveja lá fora. Ainda anteontem nos supreendíamos com Leão e Félix e ontem já estavam a aparecer Nuno Mendes e Vitinha e hoje já estão aí João Neves e António Silva.

Portugal tem uma seleção consensual, sem as mil e uma guerras internas que parecem sempre à beira de acontecer, por exemplo, em França e Espanha. Portugal tem menos pressão asfixiante do que equipas que, historicamente, colocam o triunfo nas grandes competições como uma obrigação associada ao estatuto, como a Alemanha ou o Brasil. Portugal tem um grupo de jogadores com muitos quilómetros juntos, seja na seleção principal — entre as opções habituais de Martínez há nove futebolistas com mais de 50 internacionalizações —, seja nas equipas jovens, onde muitos foram campeões ou vice-campeões da Europa de sub-17, sub-19 ou sub-21.

Sendo coerentes com este processo, com esta passagem da seleção das explorações audazes para a equipa das presenças regulares que corria por fora, do conjunto onde havia Ronaldo e mais 10 para o coletivo cheio de gente que brilha no City, no United, no Liverpool, no PSG, no Bayern ou no Barça, só há uma meta a colocar para os próximos tempos da relação de Portugal com as grandes finais. O discurso do “fazer o melhor possível” ou do “chegar o mais longe possível” não cola nem adere à realidade. A seleção nacional é óbvia candidata a ganhar o Euro 2024.

Um apuramento histórico, com 10 vitórias em 10 partidas, tem de ser o ponto de partida para abordar os maiores torneios com ambição e audácia, conectando as expetativas com a exigência diária a que estes jogadores de elite estão sujeitos. Portugal tem mais abundância de talento do que a Itália ou os Países Baixos; tem uma seleção mais estável e com mais tempo de trabalho junta do que a Alemanha ou a Espanha; tem maior estabilidade interna que a França e menor pressão e exigência do que a Alemanha.

Não se pretende aqui dizer que podemos todos começar já a agendar festejos para a noite de 14 de julho de 2024, após a final de Berlim — e esta é a parte do texto em que recorremos ao óbvio para dizer que é um torneio curto, em que a sorte e o azar jogam papéis importantes e etc e tal. Mas colocar a seleção a olhar para o futuro — para este Euro e para as próximas grandes competições — com a ambição que as circunstâncias a obrigam a apresentar é uma necessária mudança de perspetiva que este ciclo obriga a fazer.

O que se passou

Zona mista

Quando nós hoje sabemos que na Premier League, na La Liga, na Bundesliga, na Serie A, os rácios entre aqueles que mais ganham e aqueles que menos ganham não passam de 1 para 4 e que em Portugal é de 1 para 15, nós percebemos que estas disparidades depois levam à falta de competitividade interna

Numa entrevista à Tribuna, Pedro Proença falou, entre outros temas, da centralização dos direitos televisivos, tão discutida por todos, elogiada por uns, criticada por outros. E apresentou um valor para esses direitos: “Entre €275 a €350 milhões”.

O que aí vem

Segunda-feira, 20
⚽ Rumo ao Euro 2024, há um Ucrânia-Itália (19h45, Sport TV1) que é uma espécie de play-off antecipado da competição: quem vencer estará na Alemanha.
⚽ Na qualificação para o Euro, há ainda um emocionante (sem ironia) Chéquia-Moldova (19h45,Sport TV6). Caso os visitantes ganhem, conseguirão um altamente improvável apuramento direto para a fase final.
⚽ Sub-21: Grécia-Portugal (14h00), na qualificação para o Europeu
🥌 Campeonato da Europa de curling (16h00, Eurosport 1), que decorrerá ao longo da semana

Terça-feira, 21
🏀 NBA: San Antonio Spurs-LA Clippers (01h00, Sport TV2) e Minnesota Timberwolves-NY Knicks (01h00, Sport TV6)
🏒 Na NHL, há o Tampa Bay-Boston (0h00, Sport TV3)
⚽ Na corrida por estar no Mundial 2026, duas seleções lusófonas que partilham grupo na qualificação africana estarão em ação. Essuatíni-Cabo Verde (13h00, Sport TV1) e Maurícia-Angola (16h00, Sport TV1)
⚽ Qualificação para o Euro 2024: Grécia-França (19h45, Sport TV1), Gibraltar-Países Baixos (19h45, Sport TV2) ou País de Gales-Turquia (19h45, Sport TV3)
🎾 Ao longo da semana, veja a Final 8 da Taça Davis. Terça-feira há um Canadá-Finlândia (15h00, Sport TV6)
🤾 EHF European League: Rhein-Neckar Lowen-Benfica (17h45, BTV) e Sporting-Tatabanya (19h45, Sporting TV)

Quarta-feira, 22
⚽ Um dos grandes clássicos do futebol mundial: Brasil-Argentina (00h30, Sport TV1), rumo ao Mundial 2026
🏀 NBA: LA Lakers-Utah Jazz (00h30, Sport TV1)
🎾 Taça Davis, Chéquia-Austrália (15h00, Sport TV3)
🏀 Na FIBA Europe Cup, Sporting-Balkan (19h30, Sporting TV)

Quinta-feira, 23
🏀 Os Boston Celtics de Neemias Queta contra os Milwaukee Bucks de Giannis Antetokounmpo (00h30, Sport TV1)
🎾 Taça Davis, Itália-Países Baixos (09h00, Sport TV2)
🏌️ O primeiro dia do Joburg Open (10h00, Sport TV3)
🤾 Liga dos Campeões: GOG-Magdeburgo (17h45, Sport TV 3)
🏈 Na NFL, Detroit Lions-Green Bay Packers (17h30, Eleven1) e Dallas Cowboys-Washington Commanders (21h30, Eleven1)

Sexta-feira, 24
⚽ A festa da Taça numa sexta à noite: FC Porto-Montalegre (20h45, Sport TV1)
⚽ Na Arábia Saudita, o Al-Nassr de Ronaldo, Otávio ou Luís Castro frente ao Al-Akhdoud (18h00, Sport TV1)
Ligue 1: PSG-Mónaco (20h00, Eleven1)
🏀 NBA: Orlando Magic-Boston Celtics (19h30, Sport TV3)
🏎️ O GP Abu Dhabi de Fórmula 1 arranca com os treinos livres (09h30, Sport TV4)
🏍️ Moto GP: Treinos livres do GP Comunidade Valenciana (14h00, Sport TV5)
🎿 Esqui combinado nórdico: Taça do Mundo (09h50, Eurosport1)

Sábado, 25
⚽ Mais Taça de Portugal: SC Braga-Portimonense (15h30, Sport TV1), Benfica-Famalicão (20h45, Sport TV1)
⚽ Jogo grande na Premier League, com o City-Liverpool (12h30, Eleven1). Acompanhe ainda o Newcastle-Chelsea (15h00, Eleven 1) ou o Brentford-Arsenal (17h30, Eleven1)
⚽ Na Serie A, Atalanta-Nápoles (17h00, Sport TV2). Em Espanha, o Atlético de Madrid-Maiorca (20h00, Eleven1) e, na Alemanha, o Eintracht Frankfurt-Estugarda (17h30, Eleven3)
🏎️ GP Abu Dhabi de Fórmula 1, qualificação (14h00, Sport TV4)
🏍️ Moto GP: Corrida sprint do GP Comunidade Valenciana (14h00, Sport TV 5)

Domingo, 26
⚽ Sporting-Dumiense (18h00, Sport TV1) e Arouca-Boavista (20h00, Sport TV2)
Derby D'Italia na Série A: Juventus-Inter (19h45, Sport TV3)
⚽ Everton-Manchester United (16h30, Eleven 1), na Premier League, ou o Cádiz-Real Madrid (17h30, Eleven 2) da La Liga
🏎️ GP Abu Dhabi (13h0, Sport TV4)
🏍️ GP Comunidade Valenciana (14h00, Sport TV5)
🎾 A final da Taça Davis (15h00, Sport TV6)
🎱🏆 Snooker: UK Championship (14h00, Eurosport 2)

Hoje deu-nos para isto

Tem mais torneios do Grand Slam (24) do que qualquer outro jogador na história; mais Masters 1.000 (40); mais semanas como líder do ranking (iniciou esta semana à 400.ª); mais ATP Finals (chegou às sete); tem vantagem no duelo direto contra Nadal e Federer.

Novak Djokovic pode não ser o tenista mais amado da história. Afinal de contas, ele entrou a meio da história entre Roger e Rafa, um ator que parecia secundário no filme de uma das maiores rivalidades da história. Mas o sérvio rejeita papéis que não sejam o principal e foi construindo um palmarés único, alheio às lesões, aos azares, às inconsistências.

Após o triunfo contra Jannik Sinner, na final das ATP Finals em Turim, o meu camarada Rui Gustavo descreveu o balcânico com acerto: “Parece que suga a energia positiva dos outros”. Eis Djokovic, o dementor do ténis, pronto a roubar a alegria alheia e usá-la como combustível. Tudo é usado por ele para alimentar a insaciável máquina de busca de glória que habita naquele cérebro, seja a animosidade do público, a valia do adversário, a busca por registos ainda mais históricos.

Há uma popular imagem que costuma circular pelas redes sociais. Nela vê-se a old generation, com Federer, Nadal, Murray e Djokovic. A new generation, com Zverev, Tsitsipas, Medvedev e Djokovic. E a next generation, com Alcaraz, Aliassime, Sinner e Djokovic. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mantém-se Novak.

Tullio Puglia/Getty

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