O prolongar de um doce hábito: Portugal está no Euro 2024, a 13.ª fase final consecutiva da seleção nacional
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A vitória (3-2) frente à Eslováquia acentuou a tendência recente. Desde o Mundial 1998, todos os Europeus e Mundiais tiveram as cores nacionais presentes, um contraste com o paradigma do século XX, também auxiliado pelo alargamento das grandes competições. Para o omnipresente Cristiano Ronaldo será o sexto Europeu, mais um recorde
Uma reflexão, lançada inicialmente por Rui Silva nas redes sociais, serve para ajudar a perceber que, para Portugal, estar em Europeus e Mundiais se tornou rotina. Do onze que bateu, por 3-2, a Eslováquia e garantiu presença na competição do próximo verão na Alemanha, quantos jogadores se lembrarão de assistir a uma fase final sem a seleção nacional?
Cristiano Ronaldo, que veio ao mundo em 1985, lembrar-se-á, certamente, do desgosto da ausência do Mundial 1998. Provavelmente também do Mundial 1994 ou do Euro 1992 sem Portugal. Mas talvez o madeirense seja mesmo o único.
Diogo Costa, Diogo Dalot e Rafel Leão, todos de 1999, nasceram num planeta que não sabe o que é ver a seleção fora dos maiores torneios, tal como Gonçalo Ramos, de 2001, e António Silva, de 2003. Rúben Dias tinha 13 meses de existência quando a bola começou a rolar no França'98, pelo que é legítimo dizer que também não se recordará, tal como João Palinha, que tinha menos de três voltas ao sol completas.
João Cancelo, Bernardo Silva e Bruno Fernandes, todos de 1994, escassas ou nenhumas memórias terão. Aí está, do onze de Roberto Martínez para o triunfo no primeiro match point, no duelo que permitiu o apuramento relâmpago, só um futebolista terá na sua cabeça uma ideia do que é viver semanas em que o continente ou o planeta param para ver futebol sem que Portugal esteja lá no meio.
O apuramento para o Euro 2024 significa que se alargará a série da regularidade nacional. Desde o Mundial 1998, a seleção vai, agora, para a 13.ª fase final consecutiva. Na Alemanha, disputará o nono Europeu seguido.
Com as lágrimas de triunfo de 2016 ou de tristeza de 2004, com o futebol de qualidade de 2000 ou o desastre de 2002 ou 2014, de dois em dois anos ou com as interrupções da pandemia, no verão ou, como no passado Mundial, no inverno. Seja como for, Portugal está lá sempre, sendo até possível acrescentar a esta sequência torneios menores, tais como a Taça das Confederações de 2017 ou a final four da Liga das Nações em 2019.
No presente século, vimos os Países Baixos falharem os Mundiais de 2002 e 2018 e o Euro 2016, Inglaterra não ir ao Euro 2008, Itália estar ausente do grande palco global em 2014 e 2018. Só França, sempre presente desde o Mundial 1994, a Espanha, desde o Euro 1992, e a Alemanha, uma constante desde 1968 — considerando as participações da RFA —, superam a série nacional.
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Este doce hábito contraste radicalmente com o que se verificava no século XX. A primeira grande fase final de Portugal foi o Mundial 1966, na oitava edição do torneio. A segunda participação numa competição de máximo nível foi o Euro 1984, a estreia a nível continental na sétima vez que o evento continental se disputou.
Em 1986, no Mundial do caos, a seleção voltou a conseguir apurar-se, mas só regressaria a uma fase final em 1996, já com a ‘geração de ouro’ e antes do tal França'1998, a derradeira ocasião sem Portugal.
Esta regularidade deve-se, além do crescimento competitivo da seleção nacional, hoje um conjunto recheado de futebolistas consolidados na elite da bola, ao crescimento das equipas que disputam Europeus e Mundiais.
Até 1978, o Mundial andou entre os 13 participantes de 1930, a edição inaugural, e os 16 que apresentou entre o Suíça'54 e o Argentina'78. De 1982 a 1994 teve 24 finalistas e entre 1998 e 2022 teve 32 seleções, voltando a engordar em 2026, desta feita para 48 conjuntos.
Quanto aos Europeus, tiveram, entre 1960 e 1976, apenas quatro seleções no torneio final. Entre 1980 e 1992 apresentaram oito conjuntos, de 1996 a 2012 havia 16 finalistas e, desde 2016, vemos 24 equipas.
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Com mais participantes, passou a haver mais margem para qualificações menos conseguidas — o que não é, claramente, o caso deste apuramento. Seja através dos play-off — em 2010, 2012, 2014 e 2022 — ou terminando em segundo dos grupos e mesmo assim indo diretamente (em 2008 ou 2020), houve diversas vezes em que os percalços que Portugal foi tendo foram corrigidos graças ao formato mais alargado das fases finais.
Mais recordes para Cristiano Ronaldo
O tal madeirense que terá sentido o desgosto de ver Portugal falhar fases finais nos anos 90 vai, agora, para a sua 11.ª fase final consecutiva. Desta série de 13, Cristiano Ronaldo só não esteve em 2000 e 2002, sendo uma constante desde 2004, ainda com espaço para uns Jogos Olímpicos, uma Taça das Confederações e uma final four da Liga das Nações.
O capitão da seleção estará, caso não tenha nenhuma contrariedade, no seu sexto Europeu. Significa isto que o avançado se tornará, de forma isolada, no jogador com mais fases finais da competição, desempatando com Iker Casillas. O atacante já é o futebolista que atuou em mais Europeus (os tais cinco), visto que ex-guardião do FC Porto não entrou em campo quando foi convocado para as edições de 2000 e 2016.
O homem do Al-Nassr é o recordista de jogos (25), minutos disputados (2.153), partidas vencidas (12) ou golos marcados (14) na fase final de Europeus, registos que pode superar.
Quem também pode igualar o registo de cinco fases finais de Casillas é Rui Patrício. Tal como o antigo guarda-redes espanhol, também o guardião da Roma não atuou no primeiro Europeu para o qual foi convocado, em 2008, sendo depois o número um nacional em 2012, 2016 e 2020.