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A casa às costas

“O empresário que me levou para Chipre disse ao clube que eu era um negro forte e rápido. Quando viu que eu era branco ficou em pânico”

“O empresário que me levou para Chipre disse ao clube que eu era um negro forte e rápido. Quando viu que eu era branco ficou em pânico”
Joao Girao

Hoje é empresário, criou a sua própria agência em ano de pandemia, mas antes de enveredar pela representação de jogadores, Bernardo Vasconcelos jogou como avançado em Chipre, Israel e na Polónia, onde conheceu a atual mulher, e regressou a Portugal para terminar a carreira no Oriental. Recorda que o pai disse-lhe várias vezes que nunca mais o ia ver jogar, por ser muitas vezes expulso durante os jogos, mas foi este quem arranjou um táxi da Rússia para o ir buscar à Ucrânia, a meio da noite, quando decidiu que não queria lá ficar. Leia estas e outras histórias nesta segunda parte do Casa às Costas

Como vai parar a Chipre em 2006, uma vez que ainda tinha um ano de contrato com o Estoril Praia?
Eu também não tinha grande relação com o mister Litos e depois daqueles problemas todos rescindi com o Estoril Praia, já tarde. Estive na Ucrânia e quase assinei pelo FK Metalist, mas não quis, vim embora.

Não quis ficar na Ucrânia porquê?
Não gostei. Não consigo explicar bem, mas não gostei. Não me senti bem, ninguém falava inglês, ninguém queria ajudar, estamos a falar de 2006. Pedia para me vir embora e eles não me ajudavam. O meu pai conseguiu arranjar um táxi que foi da Rússia buscar-me de noite, ao centro de estágio. Meti-me no táxi e deixaram-me em Kiev para apanhar o avião. Quando eles deram por mim, já eu não estava lá.

Veio para Portugal?
Sim. Estava sem clube, até que me ligou um grande amigo, o Tiago Alves, a perguntar se queria ir para a II Divisão de Chipre. A minha primeira reação foi “não. Esquece. II Divisão então, nem pensar. Não quero ir para Chipre”. Na altura havia muito poucos portugueses em Chipre. Mas passados 15 dias ele voltou a ligar-me. “Ok, levo a mala para dois dias, para ver aquilo, mas se não forem as condições que estou a dizer, venho-me embora”. Fui e já não voltei. Acabei por ficar lá e foi a melhor decisão da minha vida.

Como foi o primeiro impacto?
O primeiro impacto é que aquilo é feio, é mal-amanhado, que não é limpo. Mas depois de nos habituarmos, adoramos. Porque é a qualidade de vida que vale. Sempre bom tempo, muito seguro, para as famílias é incrível. Agora começa a ter muito bons restaurantes, esplanadas, tem praias boas.

Foi primeiro para o APOP, com quem subiu de divisão logo na sua primeira época em Chipre, certo?
Sim. Fiz 26 golos. Depois levo para a minha equipa o Miguel Vargas, com quem tinha jogado no U. Leiria e Alverca, e o Carlos Marques. A seguir chegou o Andrade para outra equipa, mas da mesma cidade, quando demos por nós, no ano seguinte éramos uns 30 ou 40 portugueses em Chipre. Durante não sei quantos anos todas as equipas tinham três, quatro portugueses.

Conviviam muito entre vocês?
Sim, bastante.

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