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Mundial 2022

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Fernando Santos irá “para a cama muito tranquilo” antes da estreia no Mundial: “Confiamos em nós, a equipa vai ser dinâmica e criativa”

Na véspera da estreia de Portugal no Mundial, esta quinta-feira (16h, TVI), o selecionador nacional garantiu que “o espírito é diferente” na equipa, elogiando a união dos jogadores. Sobre a polémica das braçadeiras de capitão que a FIFA forçou sete seleções a não usarem, Fernando Santos assumiu que é “um defensor intransigente dos direitos humanos”

Expresso

JOSE SENA GOULÃO/LUSA

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O tema Cristiano Ronaldo tem incomodado?

“Incomodado não, é para rir. Não vai tirar o foco, está toda a gente muito focada, é assunto que nem sequer foi falado, não ouvi um único comentário sobre este assunto no espaço de trabalho e lazer, nos treinos e em viagens ou no espaço onde os jogadores estão no hotel, em conjunto, ainda hoje estavam 20 jogadores sentados a ver o jogo e a jogar matraquilhos, nunca ouvi uma conversa deste tipo. Não é tema, não é assunto, nem do próprio.

Depois, no quarto, quando estão sozinhos, se liga para aqui ou para acolá, isso já não sei, têm tempo próprio para fazer o que querem, o que é importante é que há um foco total e um espírito fantástico, muito convictos do que têm de fazer, dos seus objetivos e sabendo o que os espera, ao mesmo tempo com grande realismo das dificuldades que nos esperam já no próximo jogo, contra o Gana. Vencer um competição destas é tremendamente difícil para qualquer seleção, bastava olhar para estes primeiros jogos para perceber isso de forma clara, não é?

Uns jogos mais equilibrados, outros com grandes surpresas, estive a ver agora o jogo da Croácia com Marrocos e foi sempre muito equilibrado. Hoje em dia, cada vez mais as equipas são muito fortes, já não há tantas diferenças porque os jogadores jogam em grandes campeonatos e equipas, é o caso do Gana, já estão muito habituados às questões táticas em que, antigamente, se notava alguma diferença. Os treinadores também são todos de grande nível. É difícil, mas estamos convictos, confiamos em nós, os jogadores uns nos outros e o treinador nos jogadores.

Quando é assim, costumo dizer-lhes e hoje de manhã disse-lhes: é como o código postal, meio caminho está andado e falta o resto, que vão ser eles a percorrer no campo.”

A mentalidade e a confiança dos jogadores está melhor do que há quatro anos?

“Seguramente, é um ponto fundamental. A única palavra que está escrita na sala de palestras e no balneário é ‘nós’. Temos a vantagem de termos aqui muitos jogadores que ganharam as duas competições [Europeu de 2016 e Liga das Nações em 2019] que sabem que isso foi fundamental. Depois, o jogo e o campo é que vão determinar, mas sem esse ponto de partida nada existe.”

Em 2018, o Bruno Fernandes veio de um incidente de outra ordem [ataque à Academia de Alcochete] e seis, sete jogadores chegaram ao estágio da Rússia ou sem clube, ou sem saberem se saíam ou não. Todos acabámos por falar nisto. Via um a falar com o chefe de segurança sobre o assunto. Apesar do ambiente ser igual ao que é hoje, muito bom, foi algo que desviou um pouco as atenções, tivemos jogadores a fazerem contratos e a negociaram naquela altura. Mas o ambiente tem sido muito bom.

Mas, em 2021 [no Europeu], com covid e muitas viagens… Há muito tempo que não via 20 e tal jogadores ali sentados todos juntos, o espírito é diferente, quando é tudo muito a correr as coisas não funcionam bem. Esta é que é a massa que vai agregar tudo o resto e dar confiança e alegria, nos treinos tem sido muito notória essa vivacidade, esse querer, esse foco, essa espontaneidade que espero que eles amanhã vão colocar em campo.”

O que será um bom Mundial para Portugal?

“Pus um target de dificuldade, mas nós propomo-nos a dar uma enorme alegria aos portugueses, é isso que vamos procurar fazer com o máximo de entrega, paixão e qualidade, tendo isto bem claro para nós. Sentimos de forma tremenda o apoio fantástico dos portugueses desde 2016, pode estar dividido no momento das convocatórias, mas a verdade é que, quando isto começar, as praças vão estar cheias e as pessoas ligadas ao televisor. O resto não vale a pena pensarmos sequer.”

A questão das braçadeiras de apoio à comunidade LGBTQI+

“Sou um defensor, há muitos, muitos anos, alguns daqui nem eram nascidos, já eu lutava pela liberdade, pela democracia e pelos direitos humanos no meu país, em 1975 tinha para aí 21 anos e há muito que luto por estas questões, principalmente os direitos humanos, ainda há uma semana fiz um vídeo sobre o respeito pelo outro, o respeito pelo próximo. Agora, há outras questões que não têm a ver comigo, nem com os selecionadores ou os jogadores, são questões burocráticas, da FIFA e isso deixo para quem de direito. Eu sou um defensor intransigente dos direitos humanos.”

A exibição contra a Nigéria foi sem Ronaldo, mas vai ser titular?

“Acho que fizemos uma muito boa exibição, é verdade, principalmente nos aspetos que com certeza vão fazer tudo para repetir - a alegria, a dinâmica, a versatilidade, imprevisibilidade, ao mesmo tempo a grande capacidade de organização e reorganização, a reação à perda e organização defensivo. Fizemos 35 minutos muito bons a esse nível, depois, e temos falado muito sobre isso, desligámos do jogo. Tivemos algumas falhas desnecessárias. Falhar vamos sempre falhar, se não houvesse erros no futebol toda a gente empatava os jogos 0-0, mas houve falhas sem necessidade. Umas das coisas que temos de melhorar é esta, não cometer essas falhas desnecessárias. Quanto à outra questão [do Ronaldo], amanhã responderei com certeza.”

Veremos uma seleção parecida com a que vimos contra a Nigéria?

“Em termos estratégicos, seguramente. Eles estão muito focados, vão fazer bem. Vamos jogar assim, a equipa vai ser dinâmica e criativa, já disse que temos de potenciar as características em cada momento, não podemos querer jogar com 19 ou 20 jogadores. Já ouvi que esta é melhor geração, mas ouvi isto em 1989 e 1991, era uma geração brutal, mas infelizmente não ganharam [a nível sénior]. Eles têm qualidade, sabem disso, por isso jogam ondem jogam, tenho 26 jogadores e, sinceramente, vou para a cama dormir muito tranquilo.

Para já, estão todos em condições e todos me dão garantias. Perante isso… há que valorizar as suas características e capacidades para que eles em campo se sintam mais confortáveis e, desfrutando desse conforto, possam fazer um grande jogo e vencer. Mas sem perder o foco e a concentração.”

Desde 2006 que Portugal não entra a vencer no Mundial

“Em qualquer competição o primeiro jogo é o mais importante porque a vitória traz energias mais positivas, mas também já venci uma prova em que empatei os três primeiros jogos, se a gente quiser, eu e os meus jogadores assinávamos já por baixo. Sabemos que é um risco muito grande, o que queremos é, perante um adversário que nos vai criar muitos problemas, temos de ter atenção. Estas equipas são muito bem organizadas, vi muitos jogos do Gana e é uma equipa muito rápidas nas transições. Se pensarmos que é só uma questão de marcar, sem atenção ao resto… O respeito que temos pelo adversário é analisá-lo, depois é pensarmos em nós e no que temos de fazer, que é potenciar as características dos jogadores.”

O quão difícil será a seleção do Gana?

“Portugal defrontou sempre equipas africanas nos últimos quatro Campeonatos do Mundo e foram sempre jogos muito apertados e difíceis. Em 2014, com a Grécia, também defrontei a Costa do Marfim. As equipas africanas têm muito talento e imprevisibilidade e cada vez mais vão crescendo nos aspetos táticos do jogo, hoje são muito mais completas. Vejamos o caso da Arábia Saudita, que neste momento é candidata a passar a fase de grupos. O Gana tem jogadores de muita qualidade, um treinador experiente e será um jogo muito difícil para nós, mas acredito que vamos vencer.”

Acredita que vai ganhar o Mundial?

“Tenho esse desejo, esse sonho, essa ambição, não treinador que não tenha pelo menos o sonho. Acredito que temos, pelo menos, a capacidade de poder lutar por isso. Não somos presunçosos, não achamos que somos os melhores do mundo e isso é bom para nós, esse realismo, mas ao mesmo tempo somos confiantes e convictos da qualidade da nossa equipa, além do nosso trabalho.”

O tempo de preparação das seleções

“No passado, tínhamos três semanas para preparar o primeiro jogo, o que se nota, a grande diferença, é uma intensidade muito forte, os jogadores vêm no auge da sua forma, o problema está a ser com algumas lesões. Os jogos estão a ser muito competitivos, normalmente os iniciais não o eram, mas os Mundiais acabam sempre de forma mais intensa, os jogadores vão ganhando ritmo. Quem chegas às meias-finais é com ritmos já muito distintos. Vamos ver se o ciclo não se inverte e começa a vir o cansaço, acredito que não, mas a questão da preparação e do repouso são muito importantes, vão ser jogos de quatro em quatro dias.

A questão do sono - são três horas de diferenças -, porque os jogadores tiveram dificuldades em dormir. Nos três primeiros dias tivemos alguma dificuldade, todos temos família e coloca-se a todos, no nosso país, quando as famílias estão reunidas, cá é meia-noite, já devíamos estar a dormir, mas queremos falar um bocadinho com as famílias. Temos de ter muita atenção à recuperação, que vai ser fundamental.”

Os jogos já vistos alteraram a sua perceção sobre os favoritos no Mundial?

“Um jogo nunca me vai alterar a perceção, há oito, nove, 10 equipas que se assumiram e vêm aqui com a ambição de ganhar. Percebi a pergunta, mas então diríamos que a França e Inglaterra são claramente favoritas e a Argentina já não é. Não acredito nada nisso, não é um jogo que vai resolver. Houve jogos mais conseguidos, outros menos, mas isto é normal.”