Após o Mundial 2018, realizado na Rússia, a FIFA comunicou ter encaixado 5,3 mil milhões de dólares com a competição. A entidade máxima do futebol internacional anunciou que, do total angariado, 3,5 mil milhões de dólares tratavam-se de lucro para a FIFA.
A bola ainda não começou a rolar no Catar mas, segundo Gianni Infantino, presidente da FIFA, o Mundial que decorrerá de 20 de novembro a 18 de dezembro será ainda mais proveitoso para a instituição sediada em Zurique. A FIFA espera obter mais 600 a 700 milhões de dólares em receitas do que em 2018.
Detalhando onde estão os ganhos, Infantino disse que a venda de direitos televisivos gerou mais 200 milhões de dólares quando comparada com 2018. Também os contratos de publicidade fizeram entrar nos cofres da FIFA mais 200 milhões de dólares do que na Rússia, ao passo que os bilhetes e pacotes VIP trarão entre 200 a 300 milhões de dólares a mais do que o verificado em 2018.
“No total, este Mundial irá gerar para a FIFA entre 600 a 700 milhões de dólares do que o anterior torneio”, comentou o suíço que lidera a entidade.
Desde a atribuição — num processo marcado por acusações de suborno e corrupção em torno de quase todos os votantes nas candidaturas — do Mundial 2022 ao Catar, em 2010, têm-se sucedido as histórias sobre desrespeito de direitos humanos no país e em torno da competição.
Uma investigação do The Guardian, publicada em 2021, revelou que pelo menos 6.500 trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar desde que, em 2010, Sepp Blatter abriu um envelope com o nome do pequeno Estado do Médio Oriente dentro. Segundo a Amnistia Internacional, pelo menos 100.000 trabalhadores migrantes foram “explorados ou abusados” devido à falta de proteção laboral ou acesso à justiça no Catar nos últimos 12 anos.
A esmagadora maioria destes óbitos foram atribuídos a “causas naturais”, pelo que as famílias praticamente não receberam indemnizações. Em maio, um grupo de 10 organizações humanitárias redigiu uma carta aberta à FIFA, apelando a que a entidade pagasse cerca de €418 milhões — prémio monetário distribuídos às seleções participantes — em compensações aos trabalhadores migrantes e respetivas famílias que sofreram abusos e morreram em construções associadas ao Mundial. A FIFA ainda não respondeu a este apelo.
As acusações de racismo sistémico face aos trabalhadores migrantes ou de condições de trabalho semelhante a “escravatura moderna” são constantes em relatórios da Amnistia Internacional, da Humans Rights Watch ou da Equidem. No Catar, relações entre pessoas do mesmo sexo são criminalizadas. Em novembro de 2021, a Human Rights Watch denunciou que as autoridades do país procuram e detêm pessoas LGBTQ+ com base na sua atividade na internet. Um relatório de 2021 da Human Rights Watch indica que “o sistema discriminatório de guarda masculina nega às mulheres o direito de tomar decisões fundamentais sobre as suas vidas”
Depois de Gianni Infantino ter falado na “hipocrisia dos críticos” da competição, o presidente da FIFA, centrando-se na questão económica da prova, diz que o Mundial 2022 “desafiou os que duvidavam: ”Disseram-me que os patrocinadores abandonariam a FIFA, que as pessoas desligariam as televisões, que não veriam o Mundial por causa dos escândalos, que ninguém viria ao Catar porque era inverno", comentou o suíço.
Infantino sublinhou várias vezes o “êxito comercial” do Mundial, considerando que, “se tantas pessoas investiram tanto dinheiro” na prova, é porque “acreditam na FIFA” e “confiam” no Catar. “Ou estas pessoas são estúpidas, ou aqueles que diziam que ninguém ia ver nem querer saber do Mundial estavam um pouco enganadas, tal como algumas sondagens nalguns países estavam, também, erradas”, disse.