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Mundial 2022

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Presidente da FIFA critica “hipocrisia” dos críticos do Mundial e diz sentir-se “árabe", “gay” ou “trabalhador migrante”

Gianni Infantino atacou quem, no seu entender, dá “lições morais”, dizendo saber o que é ser discriminado porque, na infância, também sofreu por “ser ruivo” ou ter “sardas”

Expresso e Lusa

WILLIAM WEST/FIFA

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O presidente da FIFA, Gianni Infantino, disse sentir-se "árabe", "gay" e "trabalhador migrante", criticando fortemente as "lições morais" dos críticos do Qatar, que classificou de "hipocrisia".

"Hoje sinto-me catarense, sinto-me árabe, hoje sinto-me africano, hoje sinto-me gay, hoje sinto-me incapacitado, hoje sinto-me como um trabalhador migrante", afirmou num longo e teatral monólogo em conferência de imprensa, citado pela agência France Presse (AFP), na véspera de arrancar o Mundial 2022 no Catar. O torneio começa domingo, cum o país anfitrião a defrontar o Equador.

"Traz-me de volta à minha história pessoal, porque sou filho de trabalhadores migrantes", disse Gianni Infantino, acrescentando saber o que significa ser discriminado, ser assediado, como estrangeiro. "Em criança, fui discriminado (na Suíça) porque era ruivo e tinha sardas, era italiano, falava mal alemão", contou.

Confrontado com as muitas críticas de que a FIFA tem sido alvo devido às condições de trabalho dos trabalhadores nos locais do Campeonato do Mundo, Gianni Infantino disse que a federação internacional foi uma das poucas a preocupar-se com o seu destino.

"O que está a acontecer neste momento é profundamente, profundamente injusto", declarou aos jornalistas, na conferência de imprensa. No seu entender, "as críticas ao Mundial são hipócritas".

"Pelo que nós, europeus, fizemos nos últimos 3.000 anos, devemo-nos desculpar pelos próximos 3.000 anos antes de dar lições morais aos outros. Estas lições morais são apenas hipocrisia", vincou o presidente da FIFA.

Infantino lançou ainda uma questão às “empresas europeias e ocidentais” que “ganham milhões com o Catar”: “Quantas discutiram direitos dos trabalhadores migrantes com as autoridades? Nenhuma, porque se mudas a legislação, isso significa menos lucro. Mas nós fizemo-lo, e a FIFA gera muito menos que essas empresas no Catar”, assegurou.

“Milhares de trabalhadores vieram para aqui, ganharam 10 vezes mais do que nos seus países e ajudaram as suas famílias a sobreviver”, disse Infantino. Recorde-se que, segundo uma investigação do “The Guardian”, publicada em 2021, pelo menos 6.500 trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar desde que, em 2010, a organização do Mundial 2022 foi atribuída ao estado do Médio Oriente. A maioria destes óbitos foram justificados oficialmente como sendo devido a “causas naturais”, o que levou a que muitas famílias praticamente não recebessem indemnizações. De acordo com a Amnistia Internacional, pelo menos 100.000 trabalhadores migrantes foram “explorados ou abusados” devido à falta de proteção laboral ou acesso à justiça no Catar nos últimos 12 anos.

Infantino considera que “se a Europa se preocupasse mesmo com o destino” dos trabalhadores migrantes, “poderia fazer como o Catar” e “criar canais legais” para que “alguns desses trabalhadores fossem” para a Europa. “Estas lições morais são só hipocrisia. Ninguém reconhece os progressos feitos desde 2016?”, interrogou o líder da FIFA.

Infantino assegurou que “a segurança de toda a gente está garantida” no Catar, incluindo das pessoas LGBTQIA+ — o Estado do Médio Oriente criminaliza as relações entre o mesmo sexo — e, sobre o Irão, perguntou se “eles são todos monstros” e sugeriu que a FIFA deveria organizar uma competição no Irão.