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Mundial 2022

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FIFA proíbe camisolas de treino da Dinamarca com a mensagem “Direitos humanos para todos”

A entidade que rege o futebol mundial recusou esta iniciativa, durante o Catar 2022, alegando que atenta contra a regra que proíbe mensagens políticas nos equipamentos dos jogadores durante o torneio. O CEO da federação dinamarquesa defendeu esta quinta-feira que a mensagem “não é política”, mas sim “universal” e que “todos" podem apoiar

Hugo Tavares da Silva e Pedro Barata

Lars Ronbog

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A FIFA impediu a Dinamarca de treinar, durante o Campeonato do Mundo, com camisolas com uma mensagem pró-direitos humanos. A notícia foi avançada pela DR, o equivalente à RTP na Dinamarca.

“Direitos humanos para todos” era a frase que supostamente estaria nas camisolas dos futebolistas antes e durante o Mundial que arranca no próximo dia 20 e que se estende até 18 de dezembro. O espaço nas camisolas havia sido cedido por patrocinadores da equipa, que se comprometeram a não ter visibilidade para que fosse dada primazia à mensagem. A FIFA recusou esta iniciativa porque atenta contra a regra que proíbe mensagens políticas nos equipamentos dos jogadores.

“Recebemos hoje [quinta-feira, dia 10] uma mensagem da FIFA a dizer que a camisola de treino que tínhamos pensado para os jogadores usarem, que dizia ‘Direitos Humanos para todos’ na barriga, foi rejeitada por razões técnicas e lamentamos isso”, confirmou, em declarações àquela TV dinamarquesa, o CEO da federação da Dinamarca, Jakob Jensen.

O dirigente defendeu que a mensagem “não é política”, mas sim “universal”. E reforçou: “Devia ser algo que todas as pessoas pudessem apoiar”.

Em entrevista à Tribuna Expresso, em setembro, Jakob Jensen começou por ressalvar que se a entidade em que trabalha “tivesse tido o poder de voto” em 2010, teria “votado contra” um Mundial no Catar. “O que temos visto desde então confirma que se trata de um local problemático para acolher a competição”, disse.

Ainda que tenha salientado que a federação dinamarquesa teria sempre “como prioridade jogar futebol”, sendo “as mudanças no país anfitrião do torneio responsabilidade das autoridades do Catar ou da FIFA”, Jakob garantiu o “compromisso da Dinamarca em lutar para que o Mundial possa forçar progressos nos direitos humanos”. O CEO explicava então que “boicotar” a prova “não é a melhor fórmula”, pois “perder-se-ia a capacidade de pressão”.

Jensen garantiu ainda, em setembro, que a ideia não é evitar o drama dos trabalhadores e das minorias afetadas pelas leis daquele país: “Nos diálogos que temos tido com os jogadores, é muito claro para nós que não queremos passar ao lado das questões humanitárias deste Mundial. Sabemos, também, que vamos ao Catar numa vertente desportiva, e não para promover o país”.

O “erro” e o choque

O próximo Campeonato do Mundo, organizado por um Estado que proíbe a homossexualidade, tem estado ensombrado pelas 6.500 mortes de migrantes que trabalharam na construção dos estádios e não só, segundo um levantamento do “The Guardian”. Relatam-se também, entre muitos outros casos, condições de trabalho e de habitação miseráveis, passaportes confiscados, pagamentos para garantir vagas em obras.

Enquanto Joseph Blatter, o presidente da FIFA na altura da atribuição do torneio, diz agora que a escolha do Catar foi “um erro”, a FIFA escreveu às 32 seleções apuradas, sugerindo-lhes que se foquem apenas no futebol.

Já Khalid Salman, embaixador do Mundial e um antigo internacional pelo Catar nos anos 80, chocou o mundo com as suas declarações mais recentes. “Muitas coisas vão acontecer no país durante o Mundial. Vamos falar sobre gays. O mais importante é aceitar que todos venham, mas terão de aceitar as nossas regras. A homossexualidade é ‘haram’ [proibida]. E porquê? Porque é um distúrbio mental”, afirmou o ex-futebolista à televisão alemã ZDF , numa entrevista que foi abruptamente interrompida pela assessoria da organização.