A vida dos jornalistas que estarão a partir do próximo mês no Catar para o Mundial de futebol poderá sofrer limitações, com o governo do país a impedir a captação de imagens em qualquer local privados, como casas, acomodações de migrantes ou hotéis, mesmo com a permissão do proprietário.
As regras draconianas, que atentam à liberdade de imprensa, surgem no próprio portal do Campeonato do Mundo e foram publicadas também pelo “The Guardian”. De acordo com o regulamento, as televisões e fotógrafos só estarão autorizados a captar imagens em locais restritos de Doha, nomeadamente a marginal e a zona de West Bay. As diretrizes não referem especificamente se a imprensa escrita também está abrangida por estas limitações.
De resto, capturar imagens de “edifícios governamentais, universidades, locais de culto e hospitais” é proibido, diz o “The Guardian”, bem como em qualquer área privada, mesmo com autorização. Não há uma explícita proibição de falar de certos temas, num país com registos muito pobres ao nível dos direitos humanos, onde a homossexualidade é crime, qualquer ofensa cultural pode valer prisão e centenas de migrantes terão falecido em locais de construção, mas a suposta limitação ao trabalho dos jornalistas será um entrave importante à investigação de questões extra-futebol.
Contactada pelo jornal britânico, a FIFA garante estar a “trabalhar com o comité supremo e organizações relevantes no Catar para assegurar que os media tenham as melhores condições possíveis para trabalhar e assistir ao torneio, bem como para que as televisões e donos dos diretos possam reportar de forma livre, sem qualquer restrição”.
Nos últimos meses, a organização do Mundial do Catar, que arranca a 20 de novembro, tem assegurado que está a aligeirar algumas regras para os milhares de adeptos que vão viajar até ao estado do Médio Oriente, conhecido pelo seu governo autoritário. A embriaguez em espaços públicos não será, por exemplo, punida com prisão. Isto enquanto o Catar vai acusando o ocidente de desvalorizar os esforços do país nos últimos anos, ainda que o tratamento dos migrantes e da comunidade LGBTI+ continue a ser digno da idade média.
Nas regras para os media, as organizações de comunicação social são avisadas que podem ser responsabilizadas “civil e criminalmente se acontecer alguma quebra às diretrizes” quanto à captação de imagens.