“Dá?” Foi algo assim que, após rematar para selar o 6-1 do Benfica contra o Maccabi Haifa, João Mário perguntou na direção do banco de suplentes da equipa liderada por Roger Schmidt. A disputa com o PSG pela liderança do Grupo H estava presa pela diferença de golos e foi preciso esperar até um pouco depois do apito final para ter a certeza: como o próprio técnico alemão explicou, eram os portugueses que, por terem marcado mais fora de casa, seguiam em primeiro.
O golo do médio campeão da Europa em 2016 não só deu o triunfo no grupo ao Benfica, como permitiu ao futebol português conseguir um feito inédito. Com os lisboetas a juntarem-se ao FC Porto no topo das respetivas mini-ligas de quatro participantes, pela primeira vez houve dois conjuntos nacionais a seguirem para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões no primeiro lugar do grupo. É a sexta vez que os dragões conseguem tal feito (depois de 1996/97, 2007/08, 2008/09, 2014/15 e 2018/19) e a terceira que as águias o logram (após 1994/95 e 2011/12), mas nunca tal conjugação se havia dado na mesma temporada.
Estes desempenhos levam os dois representantes da I Liga a serem cabeças-de-série no sorteio dos oitavos-de-final. O emparelhamento da próxima fase será definido na segunda-feira, 7 de novembro, a partir das 11h00, na sede da UEFA, em Nyon.
FC Porto e Benfica têm a companhia de Bayern, Chelsea, Manchester City, Nápoles, Real Madrid e Tottenham, os restantes vencedores de grupos. Em segundo lugar ficaram Club Brugge, Borussia Dortmund, Eintracht Frankfurt, Inter, RB Leipzig, Liverpool, AC Milan e Paris Saint-Germain, que irão para o pote 2.
Equipas do mesmo país não se podem defrontar, tal como quem se tenha enfrentado na fase de grupos. Assim, dos oito segundos classificados, o Benfica pode jogar contra todos menos o PSG, ao passo que o FC Porto só não pode calhar frente ao Club Brugge.
Os primeiros classificados jogarão a primeira mão fora e a segunda em casa. Os primeiros embates serão a 14, 15, 21 ou 22 de fevereiro, com as decisões a serem a 7, 8, 14 ou 15 de março. A final, a 10 de junho de 2023, é no Ataturk, em Istambul.
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Mais de €150 milhões já vieram para os clubes portugueses
O dinheiro distribuído pela UEFA a quem joga na sua principal competição de clubes é, há muito, um dos maiores balões de oxigénio para as finanças dos grandes da bola nacional. A temporada 2022/23 injectou, já, mais de €150 milhões para os representantes da I Liga: €61,24 milhões para o Benfica, €60,32 milhões para o FC Porto e €34,7 milhões para o Sporting.
A equipa de Roger Schmidt arrecadou €38,4 milhões pela entrada na fase de grupos, aos quais se somaram mais de €13 milhões pelas quatro vitórias e dois empates obtidos e €9,6 milhões pelo apuramento para a próxima ronda da competição. O FC Porto conseguiu um pouco menos, resultado dos €39,6 milhões de prémio por chegar à fase de grupos — valor calculado em função do coeficiente a dez anos nas provas da UEFA —, dos €11,2 milhões conseguidos pelos quatro triunfos e dos mesmos €9,6 milhões por seguirem em frente para a fase que agrupa as 16 melhores formações do continente,
O Sporting, apesar de já ter sido eliminado, também consegue um encaixe significativo. Os €34,7 milhões resultam de €28 milhões por estar na fase de grupos e €6,5 milhões pelas duas vitórias e um empate conseguidos. A equipa de Rúben Amorim segue para a Liga Europa, onde os valores distribuídos são bem menores.
A estas quantidades falta ainda juntar o chamado market pool, que é dinheiro canalizado para os clubes procedente das receitas das transmissões televisivas. O cálculo desse valor é feito no final da temporada.
Os recordes de Schmidt, a regularidade de Conceição
A temporada do Benfica tem sido uma sucessão de êxitos e felicidades, fazendo valer a transformação que Roger Schmidt operou numa equipa que vinha de uma época falhada. Com 18 vitórias e quatro empates em 22 encontros disputados, a liderança da I Liga conjuga-se com uma fase de grupos da Liga dos Campeões que, estatisticamente, foi a melhor da história do clube.
Com quatro vitórias frente a Maccabi Haifa e Juventus e dois empates conseguidos contra o PSG, os 14 pontos que as águias somaram são novo máximo, superando os 12 que Jorge Jesus tinha conseguido em 2011/12.
Ao marcar 16 golos nos seis jogos disputados, o Benfica igualou o melhor registo de uma equipa portuguesa na fase de grupos, obtido pelo FC Porto de 2014/15. Terminar este período da Champions sem derrotas também é feito pouco comum na Luz — antes desta temporada, só havia acontecido em 1994/95 e 2011/12.

MIGUEL RIOPA
Do lado do FC Porto, o destaque mais assinalável vai para a regularidade que os dragões apresentam na Liga dos Campeões. Desde que o principal torneio da UEFA mudou de nome, em 1992/93, os portistas chegaram à fase a eliminar em 16 ocasiões (1993/94, 1996/97, 1999/00, 2003/04, 2004/05, 2006/07, 2007/08, 2008/09, 2009/10, 2012/13, 2014/15, 2016/17, 2017/18, 2018/19, 2020/21 e 2022/23).
Como termo de comparação, o Benfica fê-lo sete vezes (1994/95, 2005/06, 2011/12, 2015/16, 2016/17, 2021/22 e 2022/23) e o Sporting duas (2008/09 e 2021/22).
Em seis temporadas com Sérgio Conceição, esta é a quarta presença do FC Porto nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Olhando à elite europeia ainda presente na competição, só Bayern Munique, Manchester City, Real Madrid, Liverpool e PSG (seis vezes entre os 16 melhores nas últimas seis épocas) e Chelsea (cinco vezes) foram mais regulares que os azuis e brancos.
Os emblemas ainda em prova confirmam a tendência dos últimos anos, com ampla maioria de representantes das chamadas big 5 (Espanha, França, Inglaterra, Itália e Alemanha). Só três equipas não são procedentes desses país, vindo duas delas de Portugal. A outra é o Club Brugge, da Bélgica, que se estreia nos oitavos-de-final da Champions, sendo somente o segundo clube da Jupiler League a atingir este estádio, depois de o Gent o fazer em 2015/16.
A grande nota de destaque será mesmo a péssima prestação dos espanhóis. Só o Real Madrid seguiu em frente — os merengues nunca foram eliminados na fase de grupos —, enquanto Sevilha e Barcelona rumam à Liga Europa e o Atlético está eliminado das provas internacionais.
Se Benfica e FC Porto superarem os oitavos-de-final, igualarão as suas melhores prestações recentes. As águias estiveram entre as oito melhores equipas da Europa em 2005/06, com Koeman, em 2011/12, com Jorge Jesus, em 2015/16, com Rui Vitória, e em 2021/22, campanha iniciada por Jesus e terminada por Veríssimo. Depois de José Mourinho, e do triunfo histórico de 2004, os dragões chegaram aos quartos-de-final em 2008/09, com Jesualdo Ferreira, em 2014/15, com Lopetegui, e em 2018/19 e 2020/21, em ambas as ocasiões com Sérgio Conceição.
Desde que o FC Porto surpreendeu a Europa, em 2003/04, que uma equipa portuguesa não está nas meias-finais. Num futebol onde os recursos se dirigem, cada vez mais, para um grupo restrito de clubes, conseguir nadar regularmente entre os tubarões já é um feito assinalável para os emblemas da I Liga.