Jogos Olímpicos de Paris 2024

A maratona em sobe e desce não deixou Samuel Barata superar recorde de Carlos Lopes. Em Paris, o português foi 48.º

A maratona em sobe e desce não deixou Samuel Barata superar recorde de Carlos Lopes. Em Paris, o português foi 48.º
JOSÉ SENA GOULÃO
Se melhorasse o recorde pessoal, Samuel Barata candidatava-se seriamente a ultrapassar o melhor registo de Carlos Lopes na maratona (com todos os mas da nova era). No percurso técnico de Paris, não o conseguiu fazer, ficando-se pelas 2h13:23 que correspondem ao 48.º lugar nos Jogos Olímpicos. Tamirat Tola arrecadou a medalha de ouro no dia em que a Etiópia voltou a destacar-se na distância

Não há como esconder que o que mais dificulta a conclusão da maratona é a distância a que a mesma está do fim. Quem escondeu a meta a 42,195 km não devia estar propriamente ciente do mal que estava a fazer à espécie. Ou então, segunda hipótese, esta prova não foi feita para gente como a gente. Embebido em taumaturgia, Samuel Barata encarou o desafio de frente. Chegou titubeante no seu 48.º lugar, a praticamente sete minutos do vencedor, Tamirat Tola, e cumpriu um dos desafios mais aterradores do atletismo.

Lá foi Samuel Barata. Partiu no pelotão de 81 sofredores por antecipação que sabem que, a cada passo que dão, para os seus corpos, a meta parece ficar um quilómetro mais longe. Pé ante pé, acelerado, cadência constante e uma tentativa de encontrar no começo da manhã francesa restos de fresco que o verão se tenha esquecido de devorar.

O corredor nascido na Suíça, mas que cresceu numa aldeia na Covilhã, participava em Paris apenas na sua quarta maratona. Não há estrutura óssea que resista a uma grande frequência de participação neste tipo de prova. Mesmo assim, Samuel Barata não era propriamente o mais experiente dos atletas presentes. Apenas se aventurou na distância em 2019, regressando em 2023 para, em Valência, conseguir a qualificação para os Jogos Olímpicos. De uma para a outra, retirou 16:40 ao seu recorde pessoal (2h07:35), a nível nacional, situado apenas atrás de António Pinto (2h06:36) e de Carlos Lopes (2h07:12), antigo campeão olímpico da distância, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

Atenção que os tempos são outros. O material com que se corre preconiza os recordes. As marcas querem estar associadas à obtenção dos mesmos e então afinam ao máximo a tecnologia para auxiliar os maratonistas. Obviamente, a capacidade física continua a ser o que distingue os atletas na era moderna. De qualquer modo, o calçado com efeito de mola torna arriscadas comparações com o passado. Note-se que o recorde mundial (2h00:35) é recente e data de outubro de 2023. Ainda pertence a Kelvin Kiptum, o queniano que morreu aos 24 anos na sequência de um acidente de viação.

Samuel Barata ia passando despercebido na maratona de Paris. Até certo ponto, seguiu colado a Eliud Kipchoge, o homem do dorsal roxo que o distinguia como bicampeão olímpico em busca de um inédito tri aos 39 anos. O português de 31 anos passou por ele a meio do percurso, o que não significava propriamente saltar para a dianteira da prova, mas sim uma luta desenfreada por um lugar no top-50.

A frente da corrida pertencia a Tamirat Tola (2h06:26, recorde olímpico) que se isolou no percurso técnico, com alternância entre um traçado plano e subidas substancialmente íngremes. Chegou com 21 segundos de vantagem em relação ao segundo classificado, o belga Bashir Abdi, no dia em que a Etiópia destronou o Quénia, país que tem dominado a maratona olímpica. Benson Kipruto ficou com o bronze. Os etíopes não colocavam ninguém no pódio desde 2008.

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