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“No Quénia, os atletas têm de ficar à espera para entrar na pista porque não há espaço. Nós temos pistas e pistas, mas não temos atletas”

“No Quénia, os atletas têm de ficar à espera para entrar na pista porque não há espaço. Nós temos pistas e pistas, mas não temos atletas”
NUNO BOTELHO

Domingos Castro, 60 anos, foi atleta de elite durante 20 anos, esteve presente em quatro Jogos Olímpicos, foi vice-campeão mundial dos 5000m, vice-campeão da Europa de corta-mato, além de campeão nacional em diversas disciplinas do atletismo. É agora candidato à presidência da Federação Portuguesa de Atletismo. Nesta entrevista recorda não só a sua experiência olímpica, como deixa conselhos a quem vai estar em Paris e explica ainda as principais ideias que a sua candidatura tem para a modalidade

Que expectativas tem para o desempenho do atletismo português nestes Jogos Olímpicos de Paris?
A expectativa maior é o Pichardo. Oxalá tudo corra bem. Todos nós, não só os da modalidade, todos os portugueses, estão à espera da medalha de ouro, ou pelo menos de uma medalha, mas acreditamos que o Pichardo tem condições de ganhar o ouro. Depois temos uma segunda linha, as meninas dos lançamentos. Infelizmente não temos a Patrícia Mamona, que foi recentemente operada e fazemos votos para que recupere rapidamente. Estou em crer que estes Jogos vão ser muito, muito concorridos aos pódios. Temos um conjunto de atletas que pode chegar a finais, o que já seria muito bom. Temos o Isaac Nader, nos 1500m, por exemplo, embora, pessoalmente, ache que ele terá de mudar um bocadinho a maneira de correr nestas grandes finais.

Pode explicar melhor o que quer dizer?
Um atleta como o Isaac, que é candidato ao pódio, nunca pode chegar na última volta pela parte de dentro. Ele tem que estar na parte de fora, porque quando quiser atacar, está encurralado por outros atletas e se perde dois, três metros numa final é o suficiente para já lá não chegar. Por isso acho que tem de ter muito cuidado, sobretudo à entrada da última volta, tem que estar na parte de fora com espaço para avançar e não ficar à espera que o deixem passar.

Nota-se grande ausência de atletas de meio-fundo e fundo nesta comitiva para os JO. Que leitura faz?
Penso que houve um grande desinvestimento por parte de alguns clubes. O Sporting, o próprio Benfica, e outros clubes grandes, deixaram de ter o meio fundo e fundo, que era o atletismo de maior expressão que Portugal tinha a nível internacional, ao contrário de hoje, em que as disciplinas técnicas têm estado muito bem e há que dar os parabéns a todos os intervenientes. Espero que o Futebol Clube do Porto volte novamente ao atletismo, a modalidade precisa muito da equipa do FC Porto. No meu tempo, quando íamos aos campeonatos nacionais de corta-mato, havia muita, muita gente a assistir, por causa dos seus clubes. Por isso faço aqui um apelo ao presidente Villas-Boas, para que o atletismo do FC Porto volte em força, porque vai ajudar muito a modalidade e a federação tem que fazer um trabalho também muito árduo porque se há desinvestimento nos clubes, a federação tem de fazer alguma coisa.

Tendo em conta que um atleta de meio fundo e fundo demora anos a formar, acha que os clubes ainda têm vontade e paciência para esperar?
Temos jovens que já estão a fazer bons resultados, sobretudo nos 5000m, e há que apostar neles, dar-lhes condições e apoio. Muitas vezes o problema é que aparecem jovens talentosos, mas não têm os apoios que necessitam e perdem-se.

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