Xavi andou numa montanha-russa sem cinto de segurança. O futuro do treinador do Barcelona já estava preso apenas pelas próprias mãos. Agora, acabou por se desprender na totalidade. Como jogador, foi uma lenda do clube, como treinador, o legado que deixa é diferente.
O Barcelona foi vendo ao longo da época o Real Madrid a pavonear-se no topo da La Liga enquanto os culés desempenhavam um papel secundário no campeonato, lutando praticamente até ao fim com o Girona pelo segundo lugar. Já com essa posição assegurada, Joan Laporta, o presidente do Barcelona, e os restantes membros da direção reuniram-se com Xavi e anunciaram-lhe que não seria o treinador do clube na próxima temporada. É a versão final de uma novela que, a meio de abril, parecia destinada a ver Xavi cumprir o contrato que o ligava ao clube até ao final da temporada 2024/25.
Em janeiro, o próprio treinador anunciou que ia deixar a cadeira de sonho. “Quero anunciar que a partir de 30 de junho [de 2024] não continuarei a ser treinador do Barça. Acho que é o que precisa de ser feito para que exista uma mudança de rumo e, como culé, não posso permitir a situação atual.”
A “situação atual”, naquela altura, era a eliminação do Barcelona nos quartos de final da Taça do Rei, aos pés do Athletic, que acabaria por sair vencedor da competição. Foi apenas um dos deslizes fulcrais de uma temporada com momentos particularmente duros. Na Liga dos Campeões, depois de ter conseguido trazer de França um golo de vantagem, o Barcelona foi espezinhado em casa pelo Paris Saint-Germain, deixando a Liga dos Campeões após ser goleado pelo conjunto gaulês por 4-1.
Na reta final do campeonato, o Barcelona perdeu contra o Real Madrid com um golo de Jude Bellingham na compensação. A pouca areia que remanescia na ampulheta que cronometrava o tempo restante para os merengues serem campeões acabava de se reduzir a um grão. Nos dias seguintes, Joan Laporta apareceu ao lado de Xavi para, juntos, comunicarem que, afinal, o melhor para o Barça era a continuidade do treinador.
“É um orgulho ter um treinador com a qualidade humana e o barcelonismo de Xavi.” Os elogios do presidente ao antigo jogador soltaram-se de uma voz embargada. “Estamos a consolidar um projeto jovem que precisa de estabilidade. Estamos a meio do projeto e precisamos de uma referência como Xavi para os jovens”, explicou Joan Laporta.
O choradinho acabou revertido com uma volta de 360.º em relação ao dia em que Xavi anunciou, ele próprio, que ia deixar o clube. Quando o fez, queixou-se do cansaço e do desgaste que sentia, fadiga que em abril parecia ter esvanecido. No fluxo noticioso não deixaram de circular nomes para uma possível sucessão, um dos quais o do treinador do FC Porto, Sérgio Conceição. Outro foi o de Hansi Flick, antigo selecionador alemão, que deverá ser o escolhido para liderar um clube que tem Deco como diretor-desportivo. Ao fim de três épocas, Xavi leva do Barcelona um campeonato e uma Supertaça, um compêndio de troféus bastante diferente do que conseguiu como jogador.
O Barcelona enfrenta uma situação financeira delicada comparada com clubes de igual calibre no contexto europeu e, além da questão do treinador, há outros dossiês em cima da mesa. João Félix e João Cancelo estiveram emprestados ao emblema blaugrana, mas permanecem com o futuro indefinido. O clube demonstrou interesse em manter a dupla de internacionais portugueses, o que poderá ter o seu preço. Neste momento, também a vontade de Flick se tornou um fator importante na decisão.
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