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A espera após Maradona terminou: o Nápoles é, 33 anos depois, campeão italiano

Depois de falhado o primeiro match point, a equipa do sul não desperdiçou nova oportunidade, indo ao norte empatar com a Udinese e selar o muito aguardado triunfo. É a terceira vez que o Nápoles vence a Serie A, a primeira sem Maradona, consagrando uma equipa que conjuga heróis improváveis e que dominou a prova com autoridade

Pedro Barata

Francesco Pecoraro

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Talvez a necessidade de ir à outra ponta do país buscar o título ilustre o quão difícil e desejado era o triunfo na Serie A para o Nápoles. Da cidade do sul a Udine são mais de oito horas de carro, distância física que, ainda assim, nada será comparada com a espera emocional que o povo napolitano teve de aguentar. Há 33 anos que os partenopei não eram campeões italianos. Com o empate 1-1 contra a Udinese, o jejum terminou.

O Nápoles ainda esteve a perder, mas o golo de Victor Osimhen já na 2.ª parte, aos 52', deu força a um grito de euforia que se ouviu do norte, da fronteira com a Eslovénia onde se disputou o encontro, até ao sul, onde milhares de pessoas aguardarão, agora, a chegada da equipa.

Desde 2001 que a Série A vinha sendo sempre vencida por equipas de Turim (Juventus) ou Milão (Inter ou Milan). Com 16 pontos de vantagem para a Lazio à falta de cinco jornadas, o Nápoles dominou a competição com mão de ferro: líder isolado desde a jornada 9, à ronda 15 já tinha oito pontos de vantagem para o segundo, na 20.ª estava 13 pontos à frente, na 25.ª tinha mais 15 pontos que o mais direto perseguidor.


O jogo de Udine foi o segundo match point para o Nápoles. No primeiro, a Salernitana de Paulo Sousa evitou a festa. No entanto, dada a enorme vantagem no topo da tabela, tudo era uma questão de tempo.

É o terceiro scudetti para o clube. Os dois primeiros, em 1986/87 e 1989/90, foram conquistados com Diego Armando Maradona como figura maior da bola mundial, herói mítico que foi ao sul terminar com o domínio do norte, homem transformado em divindade entre aqueles gentes necessitadas de alegrias. Depois de 33 anos de espera, quase dois anos passados da morte do pelusa, o Nápoles é de novo campeão.

Antes do duelo do Sporting contra a Juventus, Claudio Marchisio, lenda da vecchia signora, comentou com a Tribuna Expresso que o Nápoles “não só demonstrou ser a equipa mais forte”, como também “provou ser possível dominar com um belo jogo ofensivo”, fugindo “à mentalidade que alguns ainda têm em Itália, que dita que só se pode ganhar sendo defensivo”. Para o ex-médio, os novos campeões têm um futebol “diferente, veloz e cheio de soluções”.

Luciano Spalletti, técnico dos partenopei, vence a Serie A pela primeira vez depois de duas décadas nos bancos da elite italiana — chegou em Udine aos 510 jogos na liga.

No campo, o clube reagiu da melhor maneira à saída, no verão, de referências como Mertens, Insigne e Koulibaly. O coreano Kim Min-jae assumiu-se como esteio na defesa e, na frente, o nigeriano Victor Osimhen leva 27 golos na época e o georgiano Kvicha Kvaratskhelia, soma 14 golos e 14 assistências. Todos estão glorificados nos murais feitos altares da cidade, onde também cabe Mário Rui, o português de Sines com 27 partidas feitas na época e que, depois de 226 jogos na Serie A, conquista o campeonato principal do país onde joga desde 2011.

Nápoles é, há vários dias, uma festa em antecipação. Os próximos dias — talvez semanas, quem sabe meses — serão de alegria contínua.