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O Dia (ainda) não foi de festa. Paulo Sousa evita título do Nápoles com golaço aos 84'

A festa em que há muito se vive na cidade já se intensificara quando, perto do fim, um grande golo de Boulaye Dia fez o 1-1 para a Salernitana e evitou que o Nápoles festejasse já o primeiro scudetto após 33 anos de espera. Apesar da desilusão, continua tudo a favor dos homens do sul, que, à falta de seis jornadas, têm mais 18 pontos que o segundo

Pedro Barata

DeFodi Images/Getty

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O primeiro passo para que se instalasse a loucura fora cumprido na manhã de domingo. A Lazio perdeu por 3-1 contra o Inter, com dois golos de Lautaro Martínez a darem a volta ao marcador nos minutos finais. Um argentino a abrir caminho para o título do Nápoles. Profético.

A festa que se instalou, nos últimos dias, em Nápoles ia-se intensificando. O triunfo do Inter foi festejado como, provavelmente, nenhuma vitória de um conjunto do norte foi alguma vez celebrado no sul. Faltava bater a Salernitana, de Paulo Sousa.

O jogo foi nervoso e tenso, confuso e pouco lúcido, com a ansiedade a viver nas botas de cada homem vestido de azul. Aos 62', depois de minutos em que os locais não tiveram a criatividade ofensiva do costume, o uruguaio Mathias Olivera foi lá acima cabecear para o 1-0. A espera de 33 anos depois do último título parecia estar a minutos de acabar.

Mas estávamos num dérbi regional. Salerno é a menos de uma hora de carro de Nápoles e, com Paulo Sousa, vem numa excelente fase, não perdendo há oito encontros. Aos 84', Boulaye Dia decidiu que não era, ainda, o dia para o festejo. Passou por Osimhen, em invulgar missão defensiva, e, de pé esquerdo, rematou cruzado para um golaço. 1-1 e o erguer do scudetto adiado.

Desde manhã que o povo napolitano se concentrava nas ruas, nos becos, rezando nos murais feitos altares para Diego e rumando, pouco a pouco, ao estádio. Gritou-se por Maradona antes do jogo. Os dois únicos títulos do clube foram com o argentino em campo, com o homem feito divindade, o herói tornado mito, a figura que se vê em cada bandeira ou esquina. Foram em 1986/87 e 1989/90.

Com Mário Rui de fora, por lesão, Ochoa provou, na baliza da Salernitana, que não consegue só fazer grandes exibições de quatro em quatro anos, quando se transforma em muro com o México. Frustrou, várias vezes, tentativas de Osimhen ou Kvaratskhelia.

O golo de Olivera parecia abrir caminho às celebrações. Já estava tudo programado: Nápoles ia tornar-se numa mega área pedonal até praticamente à alvorada de segunda-feira, Aurelio de Laurentiis, o polémico presidente, prometera “surpresas”, cerca de dois mil agentes da autoridade foram deslocados para a cidade.

Mas, aos 84', surgiu o momento de Dia, que terá estragado a noite de festa de muitos em Nápoles. Nos descontos, Paulo Sousa ainda seria expulso.

A frustração nas caras de jogadores e adeptos era evidente. A espera de 33 anos não terminou já. Com 18 pontos de vantagem à falta de seis jornadas, o título será uma questão de tempo, mas a perfeição ditaria que o festejo se fizesse agora, em casa. Poderá acontecer na quarta-feira, no hotel, caso Juventus e Lazio escorreguem, ou quinta, fora, contra a Udinese.

Acabar com jejuns tão longos e com tanto peso histórico, numa cidade de caos e exagero, nunca seria tarefa fácil.