Pode uma cidade, simultaneamente, ser devota e estar preso a um homem elevado a divindade? Pode um lugar, ao mesmo tempo, ser o espaço onde um jogador se sentiu mais amado e onde se sentiu mais sufocado? Pode a glória trazida a um povo que se sente oprimido ser tão libertadora na alegria como nostálgica na sua ausência?
Pode, ou não se tratasse de Nápoles, terra de exageros e hipérboles, de divindades e misticismos, de um caos organizado à sombra do Vesúvio, tão belo e tão potencialmente mortal. A terra de Diego Armando Maradona, onde a cada esquina pode haver um mural feito altar para o argentino que colocou a cidade no topo do calcio. E, a partir de 2022/23 — a não ser que uma tragédia altamente improvável suceda —, a terra de Victor Osimhen e Khvicha Kvaratskhelia, de Luciano Spalletti e Mário Rui.
Depois de uma temporada em que foi, de longe, a melhor equipa da Série A, há muitas semanas que as ruas de Nápoles são uma festa em contagem decrescente, um ganhar fulgor antes do grito de festa. O clube azul é líder isolado desde a jornada 9 do campeonato. À ronda 15 já tinha oito pontos de vantagem para o segundo, na 20.ª estava 13 pontos à frente, na 25.ª tinha mais 15 pontos que o mais direto perseguidor.
Agora, à 31.ª jornada, tem 78 pontos, mais 17 que a Lazio. Se a equipa da capital não conseguir derrotar o Inter, em Milão, no domingo de manhã (11h30, Sport TV2), um triunfo, no San Paolo, contra a Salernitana de Paulo Sousa (14h, Sport TV1) colocará a cidade em festa. A espera de 23 anos depois dos dois scudetti guiados pelo génio de Diego, em 1986/87 e 1989/90, terá terminado.