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A Superliga “tornou-se uma personagem do Capuchinho Vermelho”, avisa Ceferin: é “um lobo disfarçado de avó, pronto para te comer”

No 47.º congresso da UEFA onde será reeleito, sem oposição, presidente da entidade máxima do futebol europeu, o esloveno voltou a atacar o projeto que ainda conta com o apoio de Real Madrid, Juventus e Barcelona. Ceferin agradeceu o “apoio” dos países da União Europeia, “incluindo Portugal”, na luta contra a Superliga, e pediu para que fosse recordado “o quão frágil” é o futebol

Pedro Barata

Gualter Fatia - UEFA

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Em Lisboa, Aleksander Ceferin será reeleito, sem oposição, presidente da UEFA. No cargo desde 2016, o esloveno garantirá novo mandato, que terminará em 2027.

Depois de António Costa e Fernando Gomes terem falado, na abertura dos trabalhos, seguiu-se um discurso de Gianni Infantino, presidente da FIFA. O líder da organização que manda no futebol mundial tem mantido um conflito mais ou menos aberto com a UEFA e enterrou, momentaneamente, os machados de guerra, dando os “parabéns” a Ceferin pelo trabalho que tem feito e sublinhando, várias vezes, o desejo de “colaboração” e “união” entre a FIFA e a UEFA.

O quarto discurso do congresso pertenceu a Aleksander Ceferin. E o esloveno escolheu um alvo claro para atacar, pouco antes de ser reeleito: a Superliga.

Considerando que os dirigentes do futebol têm o “dever de garantir que os interesses do jogo prevalecem sobre os interesses de uma mão-cheia de indivíduos privilegiados”, Ceferin descreveu a Superliga como “um malfadado projeto colocado em prática por dirigentes de três clubes, dois financeiros e um porta-voz”.

“Aqueles que promovem o projeto alegam que querem salvar o futebol. No espaço de poucos meses, a Superliga tornou-se numa personagem do ‘Capuchinho Vermelho’: um lobo disfarçado de avó, pronto para te comer”, descreveu o presidente da entidade sediada em Nyon.

Alexander Ceferin mostrou-se “profundamente grato” aos “Estados da União Europeia”, “incluindo Portugal”, pelo apoio na luta contra o projeto apresentado em abril de 2021, agradecendo também à associação de clubes europeus (ECA), presidida por Nasser Al-Khelaifi, líder do PSG.

Ceferin lembrou ainda “o quão frágil” é o futebol, precisando por isso “de ser protegido”. E o dirigente resumiu: “Enfrentamos a globalização galopante, e tudo o que ela implica, de bom e mau”.

“O nosso modelo baseia-se no mérito desportivo. Não há espaço para cartéis no nosso continente. O futebol é um bem público, parte da nossa herança. É um dos últimos bem públicos que não foi privatizado, não pertence a ninguém, ou pertence a todos”, atirou, em jeito de lema de reeleição.

A Superliga nasceu formalmente a 18 de abril de 2021, fundada por um grupo restrito de 12 clubes à revelia da UEFA. O anúncio da criação da competição, uma liga fechada entre uma dúzia de endinheirados emblemas (Real Madrid, Atlético, Barcelona, Juventus, Milan, Inter, Tottenham, Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester United e City), levou a fortes protestos por parte de outras equipas, adeptos e até críticas de governos nacionais. Passados apenas três dias do anúncio do nascimento, nove dos 12 clubes tinham abandonado formalmente o projeto.

Em novembro, uma reunião entre a UEFA e a Superliga prolongou a guerra fria entre ambas as entidades.

Neste momento, o embate entre a UEFA e a Superliga que se recusa a morrer está dependente de um processo legal que decorre no Tribunal de Justiça da União Europeia, o qual determinará se, segundo o direito da concorrência, existe uma situação de monopólio, por parte da UEFA, quanto à organização das competições europeias de clubes. Por outras palavras, para aferir se a entidade máxima do futebol do continente pode proibir e sancionar outros organismos — como a Superliga — que também criem torneios. Espera-se decisão sobre este processo em 2023.

Em dezembro, um parecer inicial, não vinculativo, do Tribunal de Justiça da UE considerou que as normas da UEFA são “compatíveis” com o direito comunitário.