A tecnologia fez o que é suposto a tecnologia fazer e lá apareceu do outro lado Lee Casciaro. Sem camisola, exibia a carapaça policial para alguns raios de sol que abençoavam naquela altura qualquer cidadão de Gibraltar. O cabelo estava impecável e o rosto revelava um cansaço ou dois. Acabava de chegar de viagem, talvez por isso uma das filhas estava eufórica e ganhava na competição da feitura de decibéis. Este futebolista, que também é polícia no Ministério da Defesa, anda às turras com Zlatan Ibrahimovic na contenda para jogador mais velho a disputar uma qualificação para Campeonato da Europa. O recorde, quase velhinho, pertencia ao eterno Dino Zoff, que disse adeus à seleção italiana em 29 de maio de 1983, quando os campeões do mundo perderam em Gotemburgo com Stromberg, Ravelli e companhia.
Como jogou contra os Países Baixos e Zlatan não foi utilizado contra o Azerbaijão, Casciaro manteve o trono da imortalidade, com quase 41 anos e meio. Mas a conversa nem começou por aí: é que ouvimos dizer que ele era o Totti de Gibraltar. É assim? Ele riu-se. “Sempre joguei pelo mesmo clube, o Lincoln. Joguei tantos anos como o Totti pela Roma…”. Ao recorde deu pouca importância. “Só fiquei a saber quando saiu na imprensa”, garante. “Sabia que sou um jogador velho e que não há muitos jogadores de campo velhos, normalmente são guarda-redes. É uma coisa difícil. Tive sorte de continuar e representar Gibraltar.” Apesar dos feitos extraordinários ao longo da vida, a humildade é admirável. É um homem normal, mesmo atirando frases assim: “Não quero muito saber disso. Tenho 57 troféus na minha carreira, acho que ganhei a Liga de Gibraltar 20 vezes”.