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Crónica

Cabeça de campeão

Ver a descompressão de Djokovic e de Sabalenka após o triunfo no Open da Austrália é o equivalente emocional a ver um maratonista desfalecer após cortar a meta. Os limites do desporto são físicos e mentais, escreve Bruno Vieira Amaral. A excelência nunca é apenas uma demonstração de virtudes físicas ou de perfeição técnica. Exige sempre uma resistência invulgar à pressão do desempenho. Não é para todos, claro, mas alguém esperava que fosse?

Bruno Vieira Amaral

James D. Morgan/Getty

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Quem viu as descargas emocionais de Novak Djokovic e de Aryna Sabalenka, campeões do Open da Austrália, terá pensado “afinal, são humanos”? Se pensou, fez mal porque o incrível não é a demonstração de humanidade no choro convulsivo depois de conquistados os títulos, é a frieza sobre-humana revelada nos momentos decisivos, uma frieza que é como um manto de gelo sobre um vulcão de emoções, de pensamentos contraditórios, de dúvidas e de vontade desesperada de vencer.

Os minutos finais da vitória da tenista bielorrussa sobre Elena Rybakina foram particularmente excruciantes. E se foram assim para quem estava a ver, o que não terá sido para a tenista, que no ano passado ganhou a coroa de rainha das duplas faltas. Ela própria reclamou para si o indesejado título, mas nem precisava de o fazer. Com 428 duplas faltas num ano, deixou toda a concorrência a milhas. O que por outro lado prova a qualidade do ténis de Sabalenka: se com tantas falhas continua a ser uma das melhores do mundo, imagine-se o nível que não poderia atingir se corrigisse essa lacuna.

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