Quem viu as descargas emocionais de Novak Djokovic e de Aryna Sabalenka, campeões do Open da Austrália, terá pensado “afinal, são humanos”? Se pensou, fez mal porque o incrível não é a demonstração de humanidade no choro convulsivo depois de conquistados os títulos, é a frieza sobre-humana revelada nos momentos decisivos, uma frieza que é como um manto de gelo sobre um vulcão de emoções, de pensamentos contraditórios, de dúvidas e de vontade desesperada de vencer.
Os minutos finais da vitória da tenista bielorrussa sobre Elena Rybakina foram particularmente excruciantes. E se foram assim para quem estava a ver, o que não terá sido para a tenista, que no ano passado ganhou a coroa de rainha das duplas faltas. Ela própria reclamou para si o indesejado título, mas nem precisava de o fazer. Com 428 duplas faltas num ano, deixou toda a concorrência a milhas. O que por outro lado prova a qualidade do ténis de Sabalenka: se com tantas falhas continua a ser uma das melhores do mundo, imagine-se o nível que não poderia atingir se corrigisse essa lacuna.