Não é fácil. Repito. Não é fácil. Devia até ser um desporto olímpico pois não é menos exigente do que o skate ou a escalada, símbolos da “radicalização” espúria da competição. Falo da arte quadrienal de descermos a toda a brida das alturas olímpicas, das conversas sobre deuses absolutos do desporto – Elaine Thompson-Herah, Eliud Kipchoge, Simone Biles, Pedro Pichardo – para as conversas comezinhas sobre as virtudes guerreiras da dupla Taremi-Martinez ou sobre o sentido de posicionamento de um tal Meïté.
É certo que tivemos, logo na primeira jornada, um fabuloso Pedro Gonçalves e um livre messiânico de Ricardo Horta a lembrarem-nos que o futebol português não tem de ser um festival de faltas e tempo inútil de jogo. E é certo que a comitiva portuguesa, além das quatro medalhas e onze diplomas, deu um cheirinho de futebolização com a polémica Évora-Pichardo. Mas nem isso atenua o efeito de duas semanas expostos à excelência desportiva e ao anti-clímax que representa o regresso ao nosso futebol paroquial e às suas guerras do Alecrim e Manjerona.