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Crónica de Jogo

Toni Martínez, o goleador de instinto que aproveita todos os minutos no FC Porto

Com um golo à matador do espanhol, a equipa de Sérgio Conceição venceu, fora, o Famalicão por 2-1, na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. Marcano fez o 1-0 e tornou-se no defesa mais concretizador da história do FC Porto, mas depois do empate de Penetra teve de ser Martínez, um especialista na área, a dar o triunfo aos dragões

Pedro Barata

ESTELA SILVA/Lusa

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É claro que Toní Martínez carece de muitas das qualidades dos outros atacantes do FC Porto. No espanhol não mora a visão e variabilidade de movimentos de Taremi, a potência e agilidade de Namaso, a técnica em espaços curtos e momentos de maior brilhantismo de Evanilson. Mas, naquilo em que Toni Martínez é forte, é muito forte. É um especialista.

Na área, nos últimos metros onde sonhos se forjam e pesadelos se criam, outros uns vêem a baliza mais medida à medida que ela se aproxima, é onde o espanhol se sente cómodo. Desfruta lá, naquele retângulo onde cada centímetro esconde perigos ou possibilidades, segundo a natureza de cada um .

Desmarcação curta, remate, golo. Toni Martínez não é o avançado dos desenhos-animados, o boneco de ficção que dribla, constrói, inventa, que faz tudo e mais alguma coisa enquanto ainda tem tempo para marcar. Tudo nele é concreto e objetivo, direto e letalmente óbvio.

Foi com um golo à Toni Martínez, de instinto e olfato nos últimos metros, que o FC Porto bateu (2-1) o Famalicão e ganhou vantagem na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. Aos 63', estava tudo empatado quando Galeno fugiu pela esquerda e cruzou. Toni, farejando a situação, antecipou-se a Mihaj e colocou a bola no fundo da baliza. Com que parte do corpo? Não interessa, porque esses detalhes não importam na natureza de um atacante assim. Importa que a bola beije as redes, não as artes de sedução que levaram a que tal casamento fosse possível.

Assim, Toni ampliou o momento de felicidade do FC Porto, embalado pela perseguição ao Benfica e tentando voltar a ganhar a Taça de Portugal. Entre o absurdo que é ter uma eliminatória a duas mãos num torneio todo ele disputado em eliminação direta, só a um jogo, os dragões vão para casa mais perto da final.

ESTELA SILVA/Lusa

Sérgio Conceição fez cinco mudanças face à equipa que batera o Paços de Ferreira na passada jornada, enquanto, do outro lado, João Pedro Sousa apostou nos homens habituais. E os primeiros 15 minutos foram de intenso domínio dos visitantes, com Danny Namaso, potente e arrojado, a mexer com o jogo partindo muito da esquerda.

Já depois de Otávio ter forçado Luiz Júnior a fazer uma boa defesa, o 1-0 chegaria, sem surpresa, aos 16’, ao sexto remate do FC Porto — contra zero do Famalicão. Um livre largo de Wendell foi mal medido por Luiz Júnior, que saiu sem eficácia da baliza e abriu a porta para que Marcano marcasse. Foi o 27.º golo do espanhol pelo clube, o que o torna no defesa mais goleador da história dos dragões.

Se o arranque de noite tinha mostrado um Famalicão tímido, a resposta ao golo sofrido foi contundente. Ivo Rodrigues cruzou da direita e Riccieli, de cabeça, forçou Cláudio Ramos a efetuar boa defesa, voltando o guardião português a defender bem um livre traiçoeiro de Iván Jaime logo a seguir. Cádiz, concluindo minutos de sobressalto para os visitantes, atirou ao lado em boa posição.

ESTELA SILVA/Lusa

O bom momento do Famalicão daria no 1-1 aos 37’. Na meia-esquerda, Iván Jaime fez um cruzamento delicado, suave e carinhoso para Penetra, que não quis desaproveitar o presente cheio de afetos e empatou.

Para o espanhol que veste o número 10 do Famalicão, o desafio teve quase contornos de casting, perante os rumores que associam o interesse do FC Porto na sua contratação. Jaime, muitas vezes, parece levitar sobre o relvado, mal o tocando, todo ele gracioso e elegante. Recebe entre-linhas, finta enganando os adversários e tem impacto no último terço, como se vê pelos nove golos e cinco assistências na temporada. Ficará pouco tempo mais em Famalicão.

Ao intervalo, Conceição recorreu aos homens da sua máxima confiança. Entraram Uribe e Galeno, este último o homem que, aos 63', tricotou o lance do golo do triunfo.

A finalização de Toni Martínez, acabado de renovar contrato, permitiu-lhe marcar pela 13.ª vez na temporada. Olhando em detalhe aos minutos, o espanhol aproveita as oportunidades com a precisão de um relógio suíço: esta época, marca um golo a cada 131 minutos. Desde que chegou ao FC Porto, tem uma média de um golo a cada 131 minutos.

Vivendo quase sempre na sombra de opções mais regulares, reside, também, no contributo deste tipo de opções de luxo o segredo para que a equipa de Sérgio Conceição seja, neste momento, a detentora dos quatro troféus nacionais.

Até final, o Famalicão nunca ameaçou verdadeiramente o 2-2, enquanto o FC Porto também não esteve perto de aumentar a vantagem. A segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal, nesta eliminatória a dois jogos quando já há um finalista decidido e todos os duelos até aqui foram só a uma mão, está marcada para 4 de maio.