Ciclismo

Vuelta. As tréguas entre os favoritos em dia de hat-trick de Herrada

Vuelta. As tréguas entre os favoritos em dia de hat-trick de Herrada
Alexander Hassenstein/Getty

A 11.ª etapa da corrida trouxe nova chegada ao alto, mas os principais nomes fizeram a subida até Laguna Negra em ritmo de passeio, sem ataques ou mudanças de ritmo. A fuga teve êxito e, nela, o espanhol Jesús Herrada foi o melhor, ganhando na Volta a Espanha pela terceira vez na carreira

Vuelta. As tréguas entre os favoritos em dia de hat-trick de Herrada

Pedro Barata

Jornalista

Há ciclistas cujo sentido de oportunidade define-os. Quando saem os percursos das corridas por etapas, folheiam os livros de prova, pegam numa caneta e marcam os dias em que sabem que podem brilhar. Depois, investem tudo nesses dias, frios e calculistas, predadores à espera do cheiro do sangue para saciarem a fome.

Jesús Herrada é um destes nomes. Na Cofidis, o seu papel é claro: ser um caça-etapas, buscar a glória a partir de fugas para a equipa do World Tour com o mais antigo patrocinador principal do pelotão. Aproveitar essas tiradas é um modo de vida de equipas assim, que têm de aproveitar quando os tubarões as deixam pescar para, com a glória de um dia, darem como satisfeitas as ambições de uma competição de 21 etapas.

Pela terceira vez nas últimas cinco edições da Vuelta, Herrada cumpriu a sua missão. Esperou a fuga, teve pernas e cabeça, atacou no momento certo, ganhou. Depois de 2019 e 2022, eis a terceira vez que o homem da Cofidis ergue os braços na principal competição do seu país. E com valor adicional, já que é o primeiro espanhol a triunfar na Vuelta 2023.

Na 11.ª etapa, os 163,2 quilómetros entre Lerma e a Laguna Negra tornavam a presença na fuga muito apetecível. Após muita indefinição, a escapada lá se formou, com Geraint Thomas, vencedor do Tour 2018 e segundo classificado no Giro deste ano, como nome mais consagrado do grupo.

Com o pelotão em ritmo suave, a vitória foi decidida entre os da frente. O comboio humano que é Pippo Ganna tentou, depois de ser o melhor no contra-relógio, abrir caminho para Thomas, seu companheiro da INEOS, mas havia gente com mais força.

Jonathan Caicedo, da EF, arrancou no quilómetro final, mas terá desferido o seu ataque tendo como pecado o que o seu apelido insinua. Um arranque demasiado precoce, a tempo de ser caçado. Nos derradeiros 300 metros, Herrada, pleno de instinto, acelerou sem hesitar, pronto para aproveitar o tal dia que assinalara no calendário. Hat-trick para ele, primeiro triunfo para Espanha, Vuelta feita para a Cofidis.

Mais atrás, os favoritos assumiram que a subida, longe de ser das mais duras — 6,5 quilómetros a 6,8% de pendente média, mas rampas finais de 13 e 14% —, era palco para uma suave sessão de quase-cicloturismo. Se há duas etapas o mau tempo fez com que a derradeira ascensão fosse encurtada, agora foram mesmo uma espécie de tréguas a ditar que nada acontecesse.

Todos seguiram, Laguna Negra acima, juntos, sem ataques ou cortes. A Vuelta, cujos responsáveis são sempre eloquentes nas palavras que a tentam aproximar da dimensão do Tour ou do Giro, continua a pecar por ter demasiados dias de escassa emoção, mais uma falha a apontar a uma organização cheia delas.

Ficou, portanto, tudo na mesma na classificação geral. A 12.ª etapa deverá ser palco para sprint ou nova fuga, antes da grande jornada de sexta-feira, com chegada ao alto do colosso Tourmalet.

Classificação geral

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