Vuelta: A vitória ensanguentada de Evenepoel foi acompanhada de uma pequena ‘Almeidada’ de João

Jornalista
Uma chegada ao alto na 3.ª etapa de uma grande volta é quase uma novidade, um cenário invulgar dentro do habitual nas principais corridas, cujas tiradas iniciais não costumam levar o pelotão rumo a elevados cumes. Mas a Vuelta 2023 quis inovar e ainda na madrugada da competição desenhou uma jornada entre Súria e Arinsal, com 158,5 quilómetros que apresentaram duas contagens de montanha de primeira categoria na parte final, o Coll d’Ordino, 17,5 quilómetros a 4,9% de inclinação, e o Arinsal, 8,2 quilómetros a 7,8%, coincidindo com a meta.
Em Andorra, a montanha chegou à Vuelta e pariu a conhecida genialidade de Remco Evenepoe (Soudal - Quick Step)l, vencedor desta corrida em 2022. Confiante e potente, o campeão belga arrancou nos metros finais, quando os favoritos estavam todos juntos, e não parou até levantar os braços, num gesto quase desafiante, orgulhoso, de quem sabe bem o seu valor desde que trocou as chuteiras de futebol pelos sapatos de ciclismo.
Logo a seguir ao suor, não houve lágrimas, mas sangue. Após o triunfo, Remco, embalado pelo sprint e em descida, chocou com uma das jornalistas que, como é habitual, estava na zona da meta.
Ficou com a face cheia de sangue e foi imediatamente suturado, marcas de uma peripécia para juntar a um arranque de Vuelta cheio delas: queixas de corredores pela fraca visibilidade no contrarrelógio coletivo, corrido ao final da tarde, em Barcelona, na 1.ª etapa; polémica quanto ao reduzir ou não da jornada seguinte, devido à chuva; alfinetes colocados em rodas de ciclistas, que furaram; um pequeno caos na transmissão televisiva, omissa em mostrar a contagem dos quilómetros, deixando os espetadores cegos numa informação tão básica como saber quanto falta para a meta.
No meio da confusão, Remco foi o melhor do dia, vestindo já o vermelho da liderança que tão bem conhece. Na meta, deixou Jonas Vingegaard (Jumbo - Visma), bicampeão do Tour, para segundo, e o jovem espanhol Juan Ayuso para terceiro.
João Almeida, companheiro de Ayuso na UAE-Emirates, foi nono, só um segundo atrás de Remco, minimizando as perdas numa tarde em que se chegou a temer que os danos para as aspirações do caldense fossem bem maiores.
Anulada a fuga do dia, que teve como últimos resistentes homens da cotação de Caruso ou Kamna, começaram as movimentações entre os candidatos. Ayuso ou Kuss aceleraram e, nessas mudanças de ritmo, Almeida ficou para trás, cedendo alguns metros para o grupo dos mais fortes.
Ali, já na parte final da subida — não sabemos exatamente onde, dada a omissão da transmissão televisiva —, vimos uma pequena ‘Almeidada’: João, vindo de trás, foi-se aproximando, pedalada a pedalada, sempre sentado, óculos colocados no capacete, esgar de esforço mas recuperando metros, incapaz de ir ao choque embora com estranha fiabilidade para fazer estas pouco ortodoxas recuperações. É 13.º, a 42 segundos de Evenepoel.
O homem da UAE-Emirates lá chegou para os metros finais entre os favoritos. Aí, Remco foi o melhor, assumindo já a liderança, com o rosto com vermelho de sangue e o tronco com o vermelho da camisola que levou para casa em 2022 e que, em 2023, bem cedo volta a vestir. As próximas duas etapas afastarão o pelotão das montanhas, que voltam no dia 31, na 6.ª jornada.
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