Perfil

Ciclismo

O alpinista João Almeida, após ganhar a sua primeira etapa no Giro: “Arrisquei, se não arriscares nunca o saberás, e consegui”

Aos 24 anos, o ciclista português aproximou-se de replicar um feito que Joaquim Agostinho logrou, pela última vez, em 1979: acabar no pódio final de uma das Grandes Voltas. João Almeida venceu a 16.ª etapa da Volta a Itália, subiu ao 2.º lugar da geral e, no final, deixou uma garantia: “Se me sentir bem vou atacar, se não o fizer é porque não me sinto assim tão bem.”

Diogo Pombo

LUCA ZENNARO/LUSA

Partilhar

Com o fecho da licra aberto apesar da chuva, goela aberta, o berro da celebração a sair-lhe, os óculos a descansarem no capacete para ele ver melhor o feito pelo qual estava prestes a pedalar. Já nas beiças da meta, ao fim de quase seis horas a dar às pernas, João Almeida foi o primeiro a escalar ao Monte Bondone na 16.ª etapa do Giro d’Itália para confirmar a sua tarde de primeiras vezes - e de regresso a ‘vezes’ passadas para o ciclismo nacional.

Aos 24 anos, o ciclista de A-dos-Francos e português ainda mais de gema pelo tímido bigode, mas visível, que carinhosamente vai nutrindo nesta prova, venceu a sua primeira tirada numa Grande Volta. Perseguia o feito há muito e quando a respiração ofegante amainou, já desmontado da bicicleta, frisou isso mesmo. “Depois de quatro anos em que estive tão perto, finalmente consegui. Estou super feliz”, desabafou, já de boné e máscara postas porque o Giro tem sido visitado por alguns casos de covid-19.

Repetindo um feito alcançado por alguns portugueses, do mítico Joaquim Agostinho e das bandeiras que espetou nos anos 60 e 70 no Tour de France, onde Rui Costa (2013) e Sérgio Paulinho (2011) também venceram, até à vitória de Rúben Guerreiro no Giro de 2020, o tal que albergou a erupção de João Almeida para o radar dos holofotes: na sua primeira participação em Grandes Voltas, vestiu a camisola rosa durante 15 dias e fechou a aventura no 4.º lugar. “É um sonho tornado realidade. Foi um dia super difícil para as pernas, o mais difícil até agora”, resumiu o ciclista da UAE Emirates, felicíssima da vida.

Na véspera, em conversa com a Tribuna Expresso, cofiando figurativamente o bigode que garante nada ter a ver com superstições, João Almeida deixou no ar a hipótese de pedalar com cautela. De ser mais defensivo e talvez esperar para ver o que outras pernas com sede de vitórias fariam. “Arrisquei, se não arriscares nunca o saberás, e consegui. A minha equipa foi incrível, como sempre. Se me sentir bem vou atacar, se não o fizer é porque não me sinto tão bem”, explicou também, no seu sucinto estilo de soltar palavras.

A cinco etapas da chegada do pelotão a Roma, o português fica a 18 segundos da liderança de Geraint Thomas, o galês que lhe ficou a cheirar a roda esta terça-feira. “Estou agradecido à minha família, à minha namorada, a toda a gente que acredita em mim”, disse ainda, endereçando-se aos seus crentes próximos, que por certo não acreditarão mais do que ele. A glória final vestido de rosa é possível e provável: feita a plana 17.ª tirada de quarta-feira, haverá mais duas com dureza de montanha antes do contrarrelógio de sábado que sinalizará quem entrará na capital com a licra rosa.