A última vez que os que transportam no tecido a águia na roda de bicicleta levantaram um troféu foi na noite de 4 de agosto de 2019. Está quase a fazer três anos do mais triste jejum intermitente que existe para os adeptos de um clube grande. Na altura, os rapazes de Bruno Lage derreteram severamente as ideias e resistências do Sporting de Keizer e conquistaram a Supertaça.
O último glorioso 11 contou com Odysseas Vlachodimos, Nuno Tavares, Rúben Dias, Ferro, Álex Grimaldo, Gabriel, Florentino Luís, Pizzi, Rafa, Raúl de Tomás e Haris Seferović. De lá para cá, já sabemos, muito mudou. Bruno Lage foi embora, alguns craques também, e depois Nelson Veríssimo entrou para segurar as pontas. A seguir, regressou Jorge Jesus, de barriga cheia depois de dominar o futebol brasileiro e sul-americano. O treinador, que supostamente não servia para o Benfica e com quem era impossível planear a três anos, regressou e prometeu jogar o triplo e arrasar, numa daquelas febres messiânicas que sempre surgem no futebol. A história, desta vez, ficou longe da nota artística de 2009/10 e Veríssimo foi novamente chamado para amparar a equipa e dar-lhe um final de época digno.
E chegámos ao verão de 2022.
Roger Schmidt foi o primeiro treinador escolhido por Rui Costa, um presidente que aparentemente cobiça ter no Estádio da Luz um futebol elétrico e sem travão de mão. “Pela mentalidade e agressividade na ideia, é um treinador pouco visto em Portugal, que pode ser uma boa notícia em termos de diversidade de estilo, para oferecer outra coisa ao futebol português”, entende Tomás da Cunha, cronista da Tribuna Expresso e comentador de TSF e Eleven Sports. Segundo Francisco Sousa, também comentador na Eleven Sports, a abordagem do alemão, de 55 anos, “é interessante porque vai em contraciclo com o que costumamos ver por cá”. Ou seja, trata-se de um homem que chega de longe com “ideias refrescantes” e que “não procura ambientação imediata ao habitat muito específico do futebol português”.
O manual de instruções já tem poucos segredos. O próprio Nicolás Otamendi confirmou-o na segunda-feira, véspera do jogo da 3.ª eliminatória da Liga dos Campeões contra o Midtjylland: “A ideia está identificada”. Em entrevista à Tribuna Expresso, Kevin Volland, o avançado alemão que se cruzou com o treinador no Leverkusen, já dera umas pistas: "É um bom treinador, tem uma boa filosofia para jogar futebol. Sempre para a frente, pressão alta, é atrativo para os adeptos. Ele tem uma filosofia estrita e é o que gosto. Ele foi também a razão pela qual escolhi ir para o Leverkusen nessa altura".
E qual é a filosofia, afinal? “Pressão agressiva sem bola, carrossel atacante, com trocas posicionais e movimentos distintos (mas complementares) dos elementos mais adiantados”, resume Sousa, que salienta ainda o trabalho nas bolas paradas. Em 17 golos nos jogos de preparação, o Benfica fez sete de canto ou livre direto.