Ténis

US Open. Nuno Borges passou ao lado da história, mas há mais a ser feita: vai ser, pela primeira vez, top 30 no ranking

US Open. Nuno Borges passou ao lado da história, mas há mais a ser feita: vai ser, pela primeira vez, top 30 no ranking
KENA BETANCUR
6-0, 6-1 e 6-3 em menos de duas horas não eram os números que o português estaria à espera de ver no scoreboard na sua segunda presença em oitavos de finais em torneios do Grand Slam, mas este não foi o dia de Borges, muito abaixo do que é capaz frente a Daniil Medvedev. Ainda assim, o maiato sai de Nova Iorque sabendo que será pelo menos número 30 do mundo na próxima atualização do ranking, a sua melhor classificação de sempre

Pela segunda vez, e no mesmo ano, numa 4.ª ronda de um torneio do Grand Slam, Nuno Borges tinha novamente Daniil Medvedev pelo caminho, tal como no início do ano no Open da Austrália. E se, em Melbourne, o português ainda deu alguma água pela quase inexistente barba do moscovita, que venceu apenas em quatro sets, em Nova Iorque a história foi bem diferente. E não melhor para Borges.

O dia não correu bem a Nuno Borges, pela primeira vez a jogar no maior estádio de ténis do mundo, o Arthur Ashe. Só no terceiro set, talvez já desamarrado de qualquer expectativa, se viu algum do ténis que Borges é capaz de jogar, depois de dois primeiros parciais desastrosos, que deixou cair por duros 6-0 e 6-1. Desconectado, o maiato viu o primeiro serviço fazer-lhe um profundo ghosting, somou duplas faltas e erros não forçados e Medvedev, incansável do fundo de court, exímio defensor, não teve piedade.

O português pareceu, a espaços, vazio, depois de uma 3.ª ronda custosa frente ao checo Jakub Mensik, um duelo de nervos que acariciou as quatro horas e em que o português salvou três match points seguidos no tie-break do 4.º set, para forçar um derradeiro parcial, onde prevaleceu. Nas bancadas, algumas inusitadas camisolas garantiam que havia apoio para português e não raras vezes se ouviram uns “vamos, Nuno” ou “bora, Nuno”, vindos algures daquela escarpa de cadeiras que parece chegar até ao céu.

Aqui e ali, Nuno ia conseguindo fazer Medvedev correr um pouco mais, alternando mais o jogo, fazendo a diferença com a direita. Às tantas, tentou até um serviço por baixo, como que autorizado a tentar tudo o que tinha à sua disposição para acordar o ténis que tem e que é capaz de jogar, mas que nunca apareceu verdadeiramente num dos momentos mais importantes da carreira do tenista de 27 anos.

Borges no maior estádio de ténis do mundo
Jamie Squire

No 3.º set, ao entrar no marcador, Nuno Borges tratou de tentar trazer o público de Nova Iorque para o seu lado, levantando os braços, pedindo apoio, aplausos, uma qualquer força, e essa pequena dose de adrenalina serviu, pelo menos, para quebrar o serviço do russo, numa altura em que o português parecia menos amarrado, subindo mais à rede, jogando mais aos ângulos. Foi aqui que o inusitado aconteceu, quando Nacho Forcadell, o árbitro de cadeira do jogo, avisou os dois tenistas que o disparar do alarme de incêndio no edifício onde é controlado o sistema eletrónico de arbitragem obrigava à paragem do jogo - não só daquele, mas de todos os encontros que se estavam a disputar em Flushing Meadows.

A pausa não ultrapassou os 10 minutos, mas logo de seguida Medvedev devolveu a quebra ao português, fechando pouco depois o encontro com um 3.º parcial de 6-3, num total de apenas uma hora e 48 minutos em campo.

Os números são dolorosos, mas contam boa parte do que se passou no Arthur Ashe: Borges somou 10 duplas faltas, 51 erros diretos e 19 winners e apenas colocou 41% de primeiros serviços. Faltou-lhe a consistência e o ténis metódico que não o costuma abandonar, mas ainda assim há motivos para sair bem satisfeito de Nova Iorque.

Melhor ranking de sempre e à espreita de Sousa

Chegar à 4.ª ronda de um torneio de Grand Slam será sempre motivo de regozijo, num ano em que Nuno Borges tem paulatinamente melhorado a sua posição no ranking e venceu pela primeira vez um torneio ATP - e logo batendo Nadal. Na próxima atualização, o português sabe que será, pelo menos, número 30 mundial, a sua melhor classificação de sempre e já bem próximo do 28.º que é o melhor ranking de sempre de um português, conseguido em 2016 por João Sousa.

Nos últimos meses de 2023, Nuno Borges chegou a duas finais de torneios challenger, pelo que tem alguns pontos a defender até ao final da temporada. Mas a possibilidade de fazer história para o ténis português nunca esteve tão à mão.

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