Sendo uma modalidade essencialmente individual - ainda que a equipa nos possa ajudar, ou tramar, que o diga Jannik Sinner -, o ténis não olha muito para o lado nem para os outros. Mas, neste caso, é quase impossível resistir à tentação de dar uma mirada furtiva para o que vem aí.
No mesmo dia em que se estreou com uma vitória concludente no US Open, Nuno Borges viu alguns dos favoritos que eram seus vizinhos no quadro de singulares do último Grand Slam do ano caírem logo na 1.ª ronda do torneio. Primeiro foi Felix Auger-Aliassime, que depois de um belo torneio olímpico voltou à tremedeira que lhe é habitual. O 19.º pré-designado perdeu em três sets frente ao miúdo checo Jakub Mensik. Mais tarde, foi o grego Stefanos Tsitsipas, número 11 do mundo, a cair frente ao helénico de nome, mas australiano de nascimento, Thanasi Kokkinakis, em quatro sets.
Era deste jogo que sairia o possível adversário de Nuno Borges na 2.ª ronda, caso ultrapassasse o argentino Federico Coria, 79 ATP. A oportunidade tornou-se, assim, quase única. O castelo de cartas de favoritos que ruiu poderia abrir o quadro para algo histórico para o português, 34 ATP, que anda em busca de se tornar o tenista nacional com melhor ranking de sempre, cheirando o número 28 onde João Sousa se sentou em maio de 2016.
Favorito no duelo, Nuno Borges não foi de modas, batendo Coria em três sets, com parciais de 6-2, 6-4 e 6-1, em 1h41. Apenas no início do 2.º parcial o jogador da Maia esteve por baixo, num encontro em que entrou logo bem, a quebrar o adversário. Procurando ângulos e bem no serviço, o português chegou rapidamente aos 5-0, permitindo depois uma pequena recuperação de Coria. Mas fecharia a contenda em 6-2, muito graças a um 1.º serviço que esteve afinado e ao jogo algo errático do argentino.
Esse pequeno descontrolo passaria depois para as pancadas de Borges, que não começou bem no 2.º parcial, onde disparou cinco duplas faltas. Coria, com o seu pouco ortodoxo serviço, enrolado e pouco potente, mas difícil de ler, quebrou o português cedo e Borges demorou a controlar o seu jogo. A qualidade do serviço era, aqui, muito flutuante, mas no momento certo Borges encontrou-se: devolveu o break para 4-4 e voltou a quebrar o rival para fechar o set em 6-4.
O baque emocional seria decisivo para Coria e o derradeiro parcial seria todo de Nuno Borges, muito seguro e com vontade. Nuno fecharia o jogo com um 6-1 e um smash esclarecedor no match point.
Segue-se agora Kokkinakis, talentoso aussie cuja carreira tem sofrido mil e um tropeços com lesões. É neste momento o 86.º do mundo, mas vale mais do que isso. Ainda assim, Borges parte como favorito e com uma oportunidade de ouro para seguir em frente num torneio em que o seu melhor resultado é precisamente uma 2.ª ronda em 2022. Há um ano, o português ficou-se pela 1.ª ronda. Olhando para a frente, exercício perigoso no ténis, há que admitir, uma 4.ª ronda não parece impossível para Borges, que já terá garantido novo melhor ranking de sempre com esta vitória.
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